Pesquisa da USP entra no Guinness, o livro dos recordes; saiba qual é

Trabalho foi uma colaboração de universidade paulista com instituições europeias; tema era o Paratethys, megalago que chegou a ter ocupação de 2,8 milhões de km² de área

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Por Redação
Atualização:

O maior lago que já existiu na história colocou a Universidade de São Paulo (USP) na edição de 2024 do Guinness World Records, o Livro dos Recordes. A instituição brasileira, ao lado de outros países, coordenou um estudo que descobriu as dimensões do Paratethys, o megalago que surgiu e desapareceu na Terra 10 milhões de anos atrás. A pesquisa foi publicada em 2021 na revista Scientific Reports e, nesta sexta-feira, 19, a universidade anunciou a sua inclusão na lista de feitos superlativos do anuário britânico.

O estudo foi uma colaboração entre a USP, a Universidade de Utrecht, da Holanda, a Academia Russa de Ciências; o Centro Senckenberg de Pesquisa em Biodiversidade e Clima da Alemanha; e a Universidade de Bucareste, da Romênia.

Falésias da Baía de Bolata, na Bulgária sobre a área do antigo megalago. Foto: Dan Valentin Palcu (USP)/Divulgação

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O megalago ficava localizado na Eurásia, entre os Alpes Orientais e a região onde se encontra atualmente o Cazaquistão. Na sua máxima expansão, o Paratethys chegou a ter ocupação de 2,8 milhões de km² de área, e a armazenar 1,77 milhão de km³ de água salobra.

“Isso representa mais de dez vezes toda a água armazenada nos lagos modernos”, disse Dan Valetin Palcu, oceanógrafo, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, em declaração dada à revista da Fapesp, em 2021. Dan é o primeiro autor do artigo originado do estudo.

“Durante muito tempo acreditou-se que ali existia um mar pré-histórico, conhecido como Mar Sármata, mas agora temos evidências claras de que durante cerca de 5 milhões de anos este mar tornou-se um lago – isolado do oceano e cheio de animais nunca vistos em outros lugares ao redor do globo”, disse Palcu, em nota divulgada pela USP.

Para reconstruir esta história e delimitar os limites do histórico lago, os pesquisadores usaram uma técnica chamada magneto-estratigrafia – que aplica o registro das inversões de polaridade do campo magnético da Terra nas rochas como ferramenta de datação – e reconstruções paleogeográficas digitalizadas.

Por meio destes modelos, os autores concluíram que o Paratethys perdeu cerca de 70% de sua superfície e um terço do volume de água pela evaporação durante quatro grandes crises hidrológicas ocorridas entre 11 milhões e 7,5 milhões de anos atrás. Atualmente maior lago do mundo, o Cáspio —que banha países como Rússia e Irã — é, ao lado do Mar Negro e do Mar Aral, um resquício do Paratethys.

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Neste regresso ao passado, o estudo também conseguiu calcular que há cerca de 11,6 milhões de anos este grande lago se fragmentou e, depois de perder conexões com regiões a oeste dos Cárpatos (cordilheira de 1,5 mil quilômetros), tornou-se cada vez mais instável e suscetível aos processos de seca extrema.

Dessa evaporação da água, surgiram habitats novos, que impactaram no clima, na hidrologia e na vegetação daquela época. Mas, toda esta equação de alterações foi determinante para a evolução das espécies que viviam local, pavimentando novos fluxos que explicam a realidade ecológica contemporânea.

Um exemplo é a formação de um cinturão de estepes florestais, que nasceu e cresceu em uma região seca do Paratethys. Essa floresta serviu, ao longo do tempo, de ponte para a migração de animais para a Europa e para a Ásia Central.

Crises climáticas registradas na região, no entanto, provocaram o que os pesquisadores chamam de “catástrofe ecológica” para a vida que existia no maior lago da história. Em uma dessas crises mais graves, o Paratethys perdeu mais de dois terços da superfície e um terço do volume.

Por conta disso, muitas espécies foram extintas. Com a seca, ficaram quatro grandes bacias, entre elas a central, localizada onde hoje estão os mares Negro e o Cáspio.

O Mar Negro moderno carrega características ambientais do Paratethys, como baixa quantidade de oxigênio e abundância de sulfureto de hidrogênio, um gás tóxico para humanos e animais. Ao longo do tempo, parte da água doce ficou salobra e a salinidade de algumas áreas aumentou, tornando o local tóxico e estéril. Além disso, os sedimentos do Mar Negro contêm metano “congelado”, um gás de efeito estufa excepcionalmente potente.

Para Palcu, estudar o passado do megalago e entender as atuais características do Mar Negro é também um caminho para pensar em alternativas a um mundo que sofre, cada vez mais, com mudanças climáticas.

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“O Mar Negro tem potencial para se tornar uma das maiores regiões naturais de armazenamento de carbono da Terra. A sua estabilidade é de suma importância para desbloquear a sua capacidade para futuras iniciativas de armazenamento de carbono e para prevenir futuros desastres ecológicos.”, disse./COM AGÊNCIA FAPESP

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