Uma nova espécie de cervo foi descoberta no Peru, chamada de Pudella carlae ou pudu da selva peruana. Por muito tempo, estudiosos acreditavam que esses animais faziam parte da espécie Padu mephistophiles, mas análises morfológicas e genéticas recentes indicaram que se tratava de duas espécies diferentes.
As descobertas vão ainda além e até o P. mephistophiles recebeu sugestões para mudar sua classificação. Os autores do estudo contestam a ideia de que essa espécie seja irmã do Padu puda, com quem compartilha o mesmo gênero por enquanto. Na verdade, o P. memphistophiles faz parte do mesmo gênero da P. carlae e tem mais proximidade com a espécie recém-descoberta.
A Depressão de Huancabamba, região mais baixa da Cordilheira dos Andes que vai do sul do Equador até o norte do Peru, divide essas populações de cerdos. Os P. carlae e P. memphitophil habitam o norte da região, enquanto os P. Puda ficam ao sul. A pesquisa foi publicada Journal of Mamology neste mês e conta com autoria de estudiosos vinculados a instituições de ensino e pesquisa do Brasil, Chile e Peru.
Leia também
Para um dos pesquisadores do estudo, Guillermo D’Elía, da Universidade Austral do Chile, existem muitas dificuldades conceituais ao definir novas espécies, “porque o conceito de espécie é um dos mais debatidos do mundo”.
Além da diferença genética, os pesquisadores observaram assimetrias morfológicas entre as três espécies. Os representantes do gênero Pudella, por exemplo, têm caninos. Dentro dessa mesma classificação, surgem novas diferenças. A espécie recém-descoberta é menor do que o P. mephistophila.
A pelagem do P. pudella é mais macia e as cores são um marrom avermelhado ou laranja avermelhado. Já o P. mephistophila tem cores que variam entre marrom escuro opaco e marrom avermelhado opaco. O P. puda, por sua vez, é bicolor. Enquanto o corpo varia de marrom a verde oliva, as patas e as orelhas dão a impressão de uma mancha.
O pudu da selva peruana se alimenta de frutas, em especial, as que caem no chão ou nascem em arbustos, diz a pesquisa. As três espécies têm hábitos alimentares semelhantes, e as variações decorrem da diferença de vegetação de onde habitam.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores analisaram animais de coleções biológicas. A amostra utilizada, no entanto, teve de ser pequena. A análise morfológica, por exemplo, contou com 25 crânios dos supostos P. mephistophiles, sendo que apena três pertenciam à espécie recém-descoberta. Outros 15 crânios dos P. puda também foram estudados.
D’Elía conta que, por conta da raridade da espécie em coleções biológicas, foi um desafio conseguir as amostras necessárias para chegar a conclusões robustas. Segundo o pesquisador, embora existam boas coleções, elas costumam ser pequenas no caso de algumas espécies. “A biodiversidade (da fauna tropical) é enorme, as perguntas a responder são infinitas e há pouca gente estudando e tentando responder a essas perguntas”, diz.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.