A possível existência de um dinossauro dentuço entre a população de titanossauros que viveu em Minas Gerais no período Cretáceo intriga pesquisadores. No estudo intitulado “O maior dente de titanossauro conhecido e outros elementos dentários isolados da Formação Serra da Galga”, publicado no Cretaceous Research Journal, o biólogo mineiro Julian Silva Júnior descreve três fósseis de dentes, possivelmente de titanossauros, encontrados na Serra do Galga, no Triângulo Mineiro, há cerca de dez anos.
Um deles é o maior dente dessa espécie já registrado no mundo, com 6,2 centímetros (cm) de comprimento na coroa (parte superior e visível do dente). A descoberta desbanca o dente identificado em 2013 na Argentina, com 5,6 cm, até então o maior já descrito. Também ajuda a entender a fauna e flora do local na época desses titanossauros.
De acordo com o pesquisador, foram identificados três morfótipos (tipos) de dentes de titanossauros, dois juvenis e um adulto, este o dono do dente maior. “Eles não são muito diferentes, além do tamanho, e sugerem que esses animais mantinham a mesma dieta quando jovens e adultos”, diz o biólogo.
O “dentão” levanta duas hipóteses entre os pesquisadores envolvidos no projeto - uma parceria entre o Museu dos Dinossauros da Faculdade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. O fóssil gigante foi encontrado nas imediações da BR-050, entre Uberaba e Uberlândia. Como, segundo os pesquisadores, todos os fósseis de lá são de uma espécie só, isso dá a eles a segurança para concluir que são de titanossauros.
“Há duas hipóteses: ou eram de um titanossauro dentuço, proporcionalmente maior que os dos outros de sua espécie, ou de um dinossauro ainda maior do que os já identificados na região”, afirma Silva Júnior, que é doutor pelo Laboratório de Paleontologia da FFCLRP e pós-doutorando pela Unesp. Na prática, isso significa que os pesquisadores não descartam a possibilidade de os dentes serem de um animal ainda não descoberto no geossítio.
No entanto, exatamente por serem de uma região com uma espécie só de dinossauro reconhecida, concluiu-se que os dentes pertencem aos Uberabatitan, grupo de dinossauros herbívoros que viveram há cerca de 65 milhões de anos em Peirópolis, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Os Uberabatitans são os maiores dinossauros do Brasil. Eles pertencem à linhagem dos saurópodes: quadrúpedes, herbívoros, com pescoços compridos e caudas longas, com comprimento corporal médio inferior a 25 metros.
O geólogo Luiz Carlos Borges, do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis, acrescenta que o maior dos indivíduos já descritos na região é o Uberabatitan ribeiroi, com 28 metros de comprimento e 10m de altura. O dinossauro foi identificado a partir de um fóssil de vértebra cervical de 1 metro localizado em 2004, durante obras da duplicação da rodovia BR-050.
Este animal emblemático está sendo reconstruído em seu tamanho natural para ser uma das principais atrações do Uberaba Terra de Gigantes, que pode se tornar, em breve, o primeiro geoparque do Sudeste brasileiro reconhecido pela Unesco.
“Então fica a dúvida: esse dinossauro era dentuço e menor, ou ainda não descobrimos fósseis que revelam que eles poderiam ter tamanhos ainda maiores do que sabemos?”, reforça o pesquisador mineiro.
O Complexo de Peirópolis envolve o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e o Museu dos Dinossauros da UFTM. Luiz Carlos Borges explica que os fósseis foram encontrados em uma área de concessão e que existe, segundo ele, o projeto de transformá-la em uma área de visitação. “Esse local de escavação deve ser transformado em ponto de visitação, um paredão com cinco plataformas. No lugar dos fósseis precisamos continuar trabalhando, investigando. Porém, estamos sem equipe neste momento, precisamos levantar esses recursos”, diz o professor.
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