Estudo realizado com astronautas, durante uma missão espacial, mostrou que os tripulantes da nave ficaram mais jovens, pois apresentaram mudanças no código genético durante o período no espaço, que durou três dias.
A pesquisa foi divulgada no relatório Space Omics and Medical Atlas (Soma) in orbits, da revista Nature. A publicação é o maior compilado de dados de todos os tempos para medicina aeroespacial e biologia espacial, com pesquisas de mais de 100 instituições, de mais de 25 países.
O rejuvenescimento foi causado por alterações no DNA dos astronautas, identificados por meio de análises de sangue e amostras de pele. Essas mudanças foram registradas nos chamados telômeros, que são estruturas que envolvem os cromossomos humanos e, assim como todo o organismo, sofrem alterações com o avanço da idade e também pelo fator estresse.
Nesse período fora da Terra, essas estruturas se alongaram, o que representa, biologicamente, uma reversão temporária do envelhecimento. Os biólogos envolvidos no estudo consideram que essa foi uma resposta de defesa do corpo humano, por conta dos níveis de radiação no espaço sideral, que acabam sendo maiores que na Terra - protegida pela atmosfera.
Os pesquisadores envolvidos concluíram que os telômeros têm um papel fundamental para defesa das células contra danos do ambiente externo.
Mas, o trabalho ressalta que o “efeito rejuvenescedor” é temporário e possível somente nas condições gravitacionais e de ambiente do espaço. Quando voltaram para a Terra, as estruturas protetoras da extremidade dos cromossomos - telômeros - também retornaram para o estado natural registrado antes da viagem espacial.
“O corpo humano foi projetado para evolução natural, para viver a gravidade do nosso planeta e na evolução natural ele se adapta às condições locais. Quando você vai para o espaço, essas condições mudam bastante e é comum que o corpo se adapte. Já temos conhecimento disso acontecer quando eles ficam meses, mais de um ano, vemos mudanças radicais no corpo humano. A novidade desse estudo é essa mudança em tão pouco tempo, três dias para causar essa alteração”, pontuou o astrônomo Alexandre Chermam, vice-presidente da Associação Brasileira de Planetários.
A pesquisa indicou ainda que alguns dos telômeros dos astronautas acabaram também acabaram encurtando após o pouso na Terra, mudanças bruscas nas estruturas celulares que podem representar riscos à saúde dos astronautas, como a propensão para doenças cardíacas. Se o rejuvenescimento é considerado um benefício, também existem outros prejuízos à saúde humana durante missões espaciais. A pesquisa aponta perda óssea e sinais de estresse cerebral.
“Os principais prejuízos à saúde de um astronauta são comprometimentos da estrutura muscular, ossos mais fracos, alterações de fluxo sanguíneo. Mas tudo isso é temporário. do mesmo jeito que se demora para adaptar às condições de microgravidade do espaço, você demora para readaptar para condições terrestres”, explicou Chermam.
Um dos principais objetivos do trabalho é identificar todos os impactos na saúde para avançar com a exploração espacial, para criar estratégias que reduzam esses efeitos no corpo humano.
O astrônomo brasileiro explica que, além do ponto de vista fisiológico, isso também já é uma evidência pela física. “Já se tem comprovado que quem fica em órbita da Terra o tempo passa mais devagar, mas uma diferença de segundos. Numa viagem a outro planeta o tempo passa mais devagar, ou seja, você envelhece menos. Mas o quanto menos isso? Suficiente para ser um efeito notável? Muito provavelmente não”
Porém, o resultado não é “totalmente inédito”. Isso porque outros astronautas da Nasa já apresentaram essas mesmas condições de alteração celular, porém com um intervalo de tempo muito maior no espaço, quando Scott Kelly passou um ano em órbita. No estudo recente, a descoberta é do mesmo efeito, mas em um intervalo de tempo espacial muito mais curto - três dias - que o registrado anteriormente.
“Analisar tudo isso é muito importante se a gente sonha ir para outros planetas, a situação de microgravidade faz o corpo humano pagar um preço, ainda mais em um longo período de tempo”, complementou o especialista.
Os desdobramentos completos do estudo podem ser consultados neste link.
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