THE WASHINGTON POST - Aquela que talvez seja a árvore mais antiga do mundo – um pinheiro da espécie Pinus balfouriana chamado Matusalém, com milhares de anos de idade – está escondida em algum lugar ao longo dos 7 quilômetros da Trilha Methuselah na Floresta Nacional de Inyo, na Califórnia (Estados Unidos). Até mesmo fotos dela são raras – a internet está repleta de fotos de pinheiros velhos e retorcidos erroneamente rotulados como Matusalém.
”Não divulgamos a localização exata, nem fornecemos fotos da árvore Matusalém, para mantê-la protegida”, disse Becky Hutto, supervisora do centro de visitantes da Floresta Nacional de Inyo.
Mais de meio século de boca a boca, com os últimos anos amplificados pela internet, corroeu o segredo da localização de Matusalém nas serras orientais. No entanto, a incerteza persiste, mesmo entre alguns especialistas.
”Tenho uma vaga ideia de qual árvore é a Matusalém, mas não tenho certeza”, disse Peter Brown, fundador da Rocky Mountain Tree-Ring Research, que mantém um banco de dados sobre as árvores mais antigas do mundo.
Manter o máximo de mistério possível se tornou essencial para manter os turistas excessivamente entusiasmados longe de Matusalém e de árvores semelhantes. Mas os turistas não são a única ameaça: a pior seca do Ocidente em mais de 1.200 anos matou pinheiros perto de Matusalém, e os besouros ameaçam outros.
Essas árvores sobreviveram a períodos quentes e secos no passado, disse Constance Millar, cientista emérita do Serviço Florestal dos Estados Unidos. Mas ela teme que as mudanças climáticas induzidas pelos humanos possam criar uma “tempestade perfeita” de ameaças, com calor extremo, seca e aumento do risco de incêndios florestais.
Matthew Salzer, pesquisador do Laboratório de Pesquisa de Anéis de Árvore da Universidade do Arizona em Tucson, concordou. “As condições atuais para algumas árvores estão piores que nunca”, disse ele. “Acredito que a espécie como um todo persistirá em locais mais favoráveis, mas infelizmente muitos indivíduos muito velhos podem sucumbir”.
Geralmente, a idade da árvore é determinada pela coleta de amostras do núcleo, com ferramentas de perfuração que removem um pedaço da árvore com o diâmetro de um lápis, que os pesquisadores podem usar para contar os anéis das árvores.
Em 1957, depois de coletar os núcleos iniciais de Matusalém, Edmund Schulman, então cientista do Laboratório de Pesquisa de Anéis de Árvore, estimou que o pinheiro retorcido tinha mais de 4.600 anos. Ele também descobriu que pinheiros relativamente pequenos – a maioria dos que Schulman estudou tinha apenas 3 a 10 metros de altura – eram mais velhos do que as sequoias gigantes, que até então se pensava serem as árvores mais longevas.
Schulman anunciou a existência de Matusalém e compartilhou uma foto da árvore na National Geographic em 1958, despertando a curiosidade de outras pessoas. Mais tarde, o Serviço Florestal deixou de divulgar a localização da árvore para protegê-la de quem quisesse levar uma pinha ou outra lembrança da árvore milenar.
Salzer recentemente reexaminou os núcleos de Matusalém de Schulman e obteve uma contagem próxima a 4.600 anos, embora alguns anéis fossem difíceis de registrar. Alega-se que um núcleo de Matusalém com mais anéis visíveis foi encontrado mais tarde no arquivo de núcleos de árvore do laboratório, mas Salzer e seus colegas não conseguiram encontrá-lo. Isso levou à confusão sobre a idade de Matusalém. A Wikipedia e muitos outros sites e publicações dizem que a árvore tem 4.854 anos de idade, mas a base para essa idade é o suposto núcleo “ausente”, que nunca foi documentado cientificamente.
Em todo o mundo, existem lendas de árvores mais antigas que Matusalém, entre elas a Sarv-e Abarkuh do Irã e o Llangernyw Yew no País de Gales, ambas com rumores de terem entre 4 mil e 5 mil anos de idade. As estimativas são baseadas principalmente no folclore local e não foram verificadas.
Existem também as árvores clonais, árvores geneticamente idênticas que compartilham um mesmo sistema radicular, como a velha Tjikko da Suécia e a colônia de álamos Pando em Utah. Embora essas árvores tenham sistemas radiculares mais antigos que as árvores mais antigas, as árvores em si são clones e geralmente muito mais jovens que Matusalém e outras.
Também houve rumores confiáveis de árvores mais velhas que Matusalém. Em 1964, um pinheiro chamado Prometheus foi cortado por um estudante de geografia em Wheeler Peak, Nevada, e depois se descobriu que tinha quase 5 mil anos.
No arquivo do Laboratório de Pesquisa de Anéis de Árvore, a amostra central de uma árvore sem nome coletada por Schulman na década de 1950 foi encontrada anos depois, apresentando uma idade de mais de 4.800 anos. Tom Harlan, dendrocronologista do laboratório que trabalhou com Schulman, descobriu a amostra, mas não revelou a localização da árvore antes de sua morte em 2013. Mas Salzer e um colega recentemente usaram anotações antigas para descobrir aquela que acreditam ser a árvore, embora ainda não tenham conseguido determinar sua idade. Tal como acontece com Matusalém, a localização da árvore está sendo mantida em segredo.
Uma desafiante mais recente à reivindicação de Matusalém surgiu no Chile, onde os pesquisadores estimam que uma enorme e famosa árvore de cipreste da Patagônia chamada Alerce Milenario, ou Gran Abuelo (bisavô), tem 5.400 anos.
Como a árvore tem mais de 4 metros de diâmetro, os pesquisadores obtiveram apenas uma amostra parcial do núcleo, mas determinaram que a árvore tem pelo menos 2.400 anos com base em seus anéis. Eles então usaram informações de anéis de árvores de outras alerces antigas e modelagem de computador para calcular 3 mil anos adicionais.
As descobertas sobre a árvore não foram publicadas, o que levou os especialistas a advertir contra proclamá-la a árvore mais antiga do mundo.
Brown disse que é necessário um estudo revisado por pares, mas estava cético de que a modelagem pudesse explicar com precisão as variáveis envolvidas. “Precisamos de mais detalhes antes de ter certeza de que esta pode ser a árvore mais antiga do mundo”, disse ele.
O registro de anéis de árvores contido em pinheiros antigos ajudou os cientistas a refinar a datação por carbono e fornece uma importante história do clima da Terra. As árvores também podem oferecer informações sobre o processo de envelhecimento.
David Neale, professor emérito e especialista em genética florestal da Universidade da Califórnia em Davis, está liderando uma equipe de cientistas que vem sequenciando o genoma de um pinheiro com mais de 2 mil anos. A equipe quer investigar uma teoria de que a árvore viverá para sempre se não for cortada ou morta por doenças.
”Estamos procurando a Fonte da Juventude desde o princípio dos tempos, então qualquer conhecimento biológico básico sobre a longevidade, seja um humano, um camundongo ou um pinheiro, pode ser instrutivo”, disse ele.
A preservação ambiental também está inspirando pesquisas sobre a árvore Alerce Milenario no Chile. Jonathan Barichivich, cientista ambiental do Laboratório de Ciências Climáticas e Ambientais de Paris, está liderando a pesquisa. Ele e seu colaborador, Antonio Lara, da Universidade Austral do Chile, planejam publicar um artigo no ano que vem.
Mas Barichivich está mais preocupado em preservar a árvore do que provar que ela é mais velha que Matusalém. Se é “a árvore mais antiga do mundo, ou a segunda ou a terceira, não importa para mim. É uma das árvores mais antigas do mundo e isso basta para protegê-la”, disse ele.
Há urgência nesses esforços de proteção, pois Alerce Milenario é um destino turístico há muito tempo. Visitantes andando ao redor da árvore nos últimos anos danificaram suas raízes. “A árvore está em um estado muito, muito ruim”, disse Barichivich. “É como um leão na jaula do zoológico”.
A preocupação de Barichivich com a saúde da árvore dificulta determinar sua idade sem modelos. Embora as ferramentas existentes sejam muito pequenas para chegar ao centro de uma árvore do tamanho da Alerce Milenario, uma ferramenta mais longa pode ser fabricada sob medida. Mas Barichivich, que é chileno, não quer fazer isso por medo de prejudicar a árvore.
Seu avô descobriu a árvore na década de 1970, e seus avós, mãe e tio trabalharam no parque onde ela mora. Barichivich se vê como um protetor da árvore e se identifica com o povo indígena Mapuche e seu conceito de “espírito da floresta”.
”A árvore está desistindo de algo, e eu não quero ir lá e desrespeitá-la”, disse ele. “Tem uma parte espiritual. Não é só pura ciência racional”.
Histórias sobre proteção sobrenatural também cercam os pinheiros. Lendas de uma maldição começaram depois que vários pesquisadores de pinheiros, entre eles Schulman, morreram jovens. Schulman sofreu um derrame e faleceu aos 49 anos.
Salzer é cético em relação a tais histórias, mas reconheceu: “É útil do ponto de vista da preservação dizer: ‘Não mexa com as árvores, para não acabar amaldiçoado’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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