Onde está a pirâmide mais antiga do mundo? Essa dúvida está no centro de uma polêmica científica. Uma pesquisa publicada na revista Archaeological Prospection em outubro apontou a possibilidade de Gunung Padang, na ilha de Java, Indonésia, ser uma construção erguida 27 mil anos atrás. Isso a colocaria como a pirâmide mais velha do planeta.
A hipótese levantada no estudo, porém, motivou uma série de contestações de arqueólogos. Eles levantam a possibilidade de essa a estrutura não ser uma construção humana, mas uma formação natural. Os especialistas também questionam a metodologia utilizada para fazer a datação.
Gunung Padang, “montanha do esclarecimento” na língua local, teria sido construída sobre um vulcão inativo e é descrita como um megalito pelos pesquisadores indonésios. Isso significa que a construção teria sido esculpida em um grande bloco de rocha. “Este estudo sugere fortemente que Gunung Padang não é uma colina natural, mas uma construção em forma de pirâmide”, destaca a revista Archaeological Prospection.
A investigação dos pesquisadores foi conduzida entre 2011 e 2014. Os responsáveis pela publicação dizem ser possível identificar quatro camadas que representam diferentes fases da construção da pirâmide. A mais profunda teria sido moldada a partir da lava endurecida do vulcão onde a está a estrutura.
Os níveis seguintes estão organizados com rochas em um formato que remete a tijolos. A existência de câmaras no interior da pirâmide também são consideradas. Cada uma das camadas teve a idade determinada com base em estudos de radiocarbono.
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Enquanto a primeira camada está entre 27 mil e 16 mil anos de idade, a segunda teria entre 8 mil e 7,5 mil anos. A última, que une terraços e é visível na superfície, teria entre 4 mil e 3,1 mil anos.
Para se ter ideia, a pirâmide de Djoser, a mais velha do Egito, tem cerca de 4,6 mil anos. Já o monumento de Göbekli Tepe, na atual Turquia (antiga Mesopotâmia, considerada o berço da civilização), tem aproximadamente 11,5 mil anos.
“Estou surpreso que (o artigo) tenha sido publicado como está”, disse à revista Nature Flint Dibble, arqueólogo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Embora o artigo apresente “dados legítimos”, segundo ele, as conclusões não são justificam.
Outro questionamento tem sido sobre se os humanos de 27 mil anos atrás teriam tecnologia suficiente para construir algo do tipo - outros registros arqueológicos não mostram domínio de técnicas de edificação tão sofisticadas, segundo grande parte dos especialistas. Os editores da revista dizem que estão fazendo nova investigação e checagem dos dados.
Alexandre Perinotto, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destaca que alguns processos geológicos poderiam ser considerados. Uma observação superficial das imagens disponíveis apresenta similaridade com essas estruturas. “As disjunções colunares são muito comuns em rochas magmáticas, vulcânicas”, destaca o geólogo.
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Para a arqueóloga da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Lia Brambilla, a descoberta tem grande importância, mas são necessários mais estudos, inclusive com a participação de outros países.
“Uma questão importante está na argamassa. Os autores dizem que tem composição semelhante à lava de vulcões, mas sabendo como o ser humano é, pode ter se aproveitado da lava, após o esfriamento, efeito a argamassa com esse material dos resquícios do vulcão”, pondera a especialista.
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