Enquanto o Brasil vê a atriz Fernanda Torres brilhar nas competições internacionais de cinema, outra brasileira levou o nome do País para o topo de uma premiação global. A neurocientista Fabiana Corsi Zuelli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), é a primeira pesquisadora do Brasil a receber a honraria da Rede Universal de Educação Científica e Pesquisa (USERN, na sigla em inglês), que reconhece profissionais com menos de 40 anos com grande destaque acadêmico.
A pesquisadora brasileira foi premiada na categoria Ciências Médicas por seus estudos sobre as causas multifatoriais das psicoses, cujo principal objetivo é estabelecer novos alvos terapêuticos para doenças como esquizofrenia. Os vencedores são escolhidos por um conselho com mais de 600 cientistas de elite de todo o mundo, incluindo 20 ganhadores do Prêmio Nobel e do Abel, o chamado Nobel da Matemática.
“O objetivo do nosso trabalho é entender melhor a neurobiologia dos transtornos psicóticos em busca de novos alvos terapêuticos”, explicou Fabiana em entrevista ao Estadão. “Os transtornos psicóticos afetam 1% da população mundial, são altamente debilitantes e têm grande impacto social e econômico.”
O estudo de Fabiana integra um consórcio internacional multicêntrico que investiga as interações entre genes e ambiente no desenvolvimento da esquizofrenia e do outros transtornos psicóticos em centros de pesquisa na Europa e no Brasil.
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A pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto busca identificar marcadores inflamatórios no sangue de pacientes que passaram por um primeiro episódio psicótico e também por fatores ambientais de risco, como maus-tratos na infância e consumo de maconha.
“Os transtornos psicóticos têm causas multifatoriais”, acrescentou Fabiana. “Ou seja, há uma interação entre diversos fatores, entre eles os genéticos e os ambientais, como maus-tratos na infância e uso de cannabis. Nunca é apenas um fator isolado.” Em 2025, ela vai iniciar um pós-doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, investigando mecanismos celulares imunológicos ligados às psicoses.
O prêmio foi entregue no fim do ano passado, na Universidade Médica de Plovdiv, na Bulgária. Além de Fabiana, quatro pesquisadores do Reino Unido, da Polônia, da Itália e de Hong Kong, venceram nas categorias Ciências Formais, Ciências Físico-Químicas, Ciências Biológicas e Ciências Sociais. O prêmio recebeu mais de 90 mil inscrições, das quais apenas 249 passaram para a fase final.
“Fiquei surpresa e, ao mesmo tempo, muito honrada de receber esse reconhecimento, que é extremamente importante para a minha trajetória acadêmica”, afirmou a pesquisadora. “Mas o prêmio vai muito além do mérito individual, é resultado do esforço de várias pessoas da nossa equipe de pesquisa, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), do CNPq (órgão federal de fomento à pesquisa) e de outros colaboradores da USP.”
A próxima edição do evento será no Brasil, no fim deste ano, após a USP ter sido escolhida como sede. A instituição paulista disputava com a Universidade Médica de Viena, na Áustria; a Universidade de Ciências Médicas de Teerã, no Irã, e a Sidra Medicine, no Catar.
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“É uma grande responsabilidade e um compromisso com a sociedade para continuar nosso trabalho. Que sirva de incentivo para os jovens buscarem a ciência”, continua Fabiana.