Um remédio usado para tratar enjoo e ânsia de vômito em pacientes com doença de Parkinson pode aumentar o risco de eles desenvolverem arritmia cardíaca. Essa é a conclusão de uma pesquisa brasileira, publicada na edição desta quinta-feira, 20, da revista Scientific Report, que avaliou o impacto do medicamento em ratos.
O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), observou que a domperidona – um remédio administrado normalmente para combater os efeitos colaterais de outra droga, a levopoda, efetiva para controlar os sintomas motores da doença – gera um risco maior aos pacientes que já apresentam alterações cardiovasculares.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5XW4L4CEBBPBFNK6ZNXWCJWD2Q.jpg?quality=80&auth=b10bcc99778efd9b8ccf3ee029fc2b60850a393769d6432f5ba1fca98ff0ad5c&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5XW4L4CEBBPBFNK6ZNXWCJWD2Q.jpg?quality=80&auth=b10bcc99778efd9b8ccf3ee029fc2b60850a393769d6432f5ba1fca98ff0ad5c&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5XW4L4CEBBPBFNK6ZNXWCJWD2Q.jpg?quality=80&auth=b10bcc99778efd9b8ccf3ee029fc2b60850a393769d6432f5ba1fca98ff0ad5c&width=1200 1322w)
Essa suspeita já havia sido levantada em trabalhos anteriores. Sintomas cardiovasculares são presentes em quase todos os estágios da doença de Parkinson e há muitos casos de morte súbita. Autópsias em pacientes com Parkinson levaram alguns pesquisadores a sugerir que a arritmia poderia ser induzida pela domperidona.
"Um dos pontos mais importantes dessa pesquisa é mostrar que embora o Parkinson seja uma doença neurológica, outros órgãos precisam ser avaliados. É preciso que neurologista, cardiologista, oftalmologista e outros trabalhem em convergência. O tratamento precisa ser multidisciplinar", afirma o pesquisador Fulvio Scorza, do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unifesp, que orientou o trabalho.
A pesquisa foi fruto de 3 anos e meio de dedicação e que nasceu a partir da tese de doutorado da pesquisadora Laís Rodrigues, também da Unifesp.
Segundo Scorza, em comparação à população em geral, a mortalidade da doença de Parkinson aumenta em até três vezes a partir do quinto ano do diagnóstico inicial. Com essa dado, a equipe foi procurar na literatura médica o que existia de “morte súbita” em pacientes com Parkinson. "Existem evidências de que as mortes repentinas de pacientes de Parkinson podem ser causadas justamente pelo remédio que é usado para combater o enjoo e o vômito durante o Parkinson", disse o especialista.
O aumento da mortalidade após 5 anos do primeiro diagnóstico já era um indicativo de que algum fator poderia contribuir para a complicação de problemas coronários.
Experimento
A pesquisa experimental usou ratos machos em laboratório, que foram divididos em grupos de quatro. Em dois grupos foi administrado um composto, a 6-hidroxidopamina, que causa danos cerebrais semelhantes aos de Parkinson, funcionando como um modelo da doença. Os outros dois receberam uma substância salina e permaneceram sem sintomas.
Um grupo com 6-hidroxidopamina e outro com a solução salina receberam, então, uma dose de 80 mg/kg de domperidona. Os outros dos grupos não receberam o medicamento.
Depois de uma semana, com uma lesão estabelecida, a equipe pôde comparar a situação do coração dos animais e o processo do Parkinson. Os resultados mostraram que o uso da domperidona gera um risco maior de arritmia cardíaca.
"Os dados são experimentais e necessitam de novas pesquisas para sua verificação. Mas ele aponta para a necessidade de neurologia e cardiologia convergirem na prevenção e no tratamento da doença", disse Scorza.