Um estudo internacional realizado com diversos métodos de análise de DNA mostra que os humanos modernos e o homem de Neanderthal se misturaram pela primeira vez há 100 mil anos. Até agora, acreditava-se que a hibridização das duas espécies havia ocorrido pela primeira vez em algum momento entre 47 mil e 65 mil anos atrás.
Segundo o estudo, publicado na revista Nature, o primeiro intercâmbio genético entre as o Homo sapiens e o extinto Homo neanderthalensis ocorreu no Oriente Médio. A mistura, no entanto, não foi detectada em Neanderthais da Europa.
Desde 2010, graças a estudos do genoma de Neanderthais, os cientistas sabem que depois da migração do homem moderno para fora da África, um grupo de Homo sapiens que deu origem aos europeus e asiáticos se misturou a Neanderthais. Em consequência disso, 2% dos homens modernos apresentam sequências genéticas de Neanderthais. A população moderna da África sub-saariana, no entanto, não possui esses genes.
Para realizar o estudo, os cientsitas analisaram a sequência genética de fósseis de Neanderthais de diferentes locais da Europa, incluindo espécimes encontrados na caverna Sidrón, nas Astúrias, Norte da Espanha e a caverna Vindija, na Croácia.
De acordo com um dos autores, Antonio Rosas, do Museu Espanhol de Ciência Natural, a pesquisa muda completamente o panorama sobre a relação entre as duas espécies, por mostrar que, além dos genes Neanderthais herdados pelos humanos modernos, o Homo sapiens também passou seus genes para os Neanderthais.
"Nos últimos 100 mil anos, humanos anatomicamente modernos migraram para fora da África pela primeira vez. Esses humanos modernos se encontraram e se misturaram com um grupo de Neanderthais, que mais tarde migraram para o sul da atual Sibéria, levando consigo genes de Homo sapiens", explicou.
Mão dupla. Segundo Rosas, a descoberta tem implicações diretas no modelo evolutivo aceito atualmente. "Por décadas, acreditávamos que houve uma migração ancestral do Homo sapiens para fora da África, por causa de fósseis encontrados em sítios arqueológicos em Skhul e Qafzeh, em Israel. Mas sem dados paleontológicos, esse movimento era vistocomo uma tentativa frustrada de migração, já que esses indivíduos não foram além do Oriente Médio", disse.
Os resultados do novo estudo coincidem com evidências arqueo-paleontológicas recentes, como a descoberta da presença do Homo sapiens na China há cerca de 100 mil anos. Além disso, ferramentas de pedra encontradas no sul da Península Arábica foram atribuídos a essa migração ancestral do Homo sapiens para fora da África. As duas evidências, segundo os autores, são coerentes com o fato de humanos modernos terem passado seus genes para os Neanderthais que migraram para o oriente.
Segundo outro dos autores, Adam Spiel, do Laboratório Cold Spring Harbor, um dos aspectos mais importantes da pesquisa é que ela mostra um sinal de hibridização na "direção oposta" do que já havia sido confirmado até agora. "Isto é, nós mostramos que há DNA no genoma Neanderthal, além de DNA Neanderthal no genoma humano", disse.
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