Lançado no fim do ano passado, o telescópio espacial James Webb, em órbita desde meados deste ano para examinar os limites do universo e a atmosfera dos planetas distantes, forneceu imagens excepcionais durante 2022. Seu trabalho até agora é apenas um esboço do que poderia fazer em um futuro não tão distante.
Os resultados do Webb, localizado a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, superam em muitos aspectos os do telescópio veterano Hubble, que permanece em funcionamento, mas sem a mesma precisão das lentes de seu jovem concorrente.
Graças ao seu lançamento de sucesso, Webb deve operar durante pelo menos 20 anos, em vez dos dez anos previstos inicialmente.
“Está se comportando muito melhor do que esperávamos”, declarou o chefe da missão no Space Telescope Science Institute, Massimo Stiavelli, que pilota esse artefato espacial de 6,5 toneladas.
“Os instrumentos são mais eficazes, as lentes mais precisas e estáveis”, explica. Essa estabilidade é chave para obter imagens nítidas.
As imagens que chegam do Webb são inicialmente invisíveis ao olho humano, porque opera essencialmente no espectro infravermelho, diferentemente do Hubble. Entretanto, por causa de sua espetacular coloração nas fotografias, ele conseguiu deslumbrar os fãs.
Com esta frequência de ondas infravermelhas, o James Webb pode detectar os traços mais tênues de luz no Universo. Ou seja, identificar o alvorecer de seu nascimento sem ser afetado por nebulosas estelares, ou analisar com um espectrógrafo a atmosfera dos exoplanetas, planetas fora do Sistema Solar.
Dezoito pétalas
O lançamento do James Webb a bordo de um foguete Ariane 5, no final de 2021, coroou uma odisseia iniciada pela agência espacial americana (Nasa) há mais de 30 anos.
Após vários fracassos, um investimento de US$ 10 bilhões e a contribuição de 10 mil pessoas, o telescópio foi perfeitamente colocado em órbita, especialmente com a instalação de um guarda-sol do tamanho de uma quadra de tênis.
Seu espelho principal, de 6,5 metros de diâmetro, é composto por 18 pétalas que foram gradualmente abertas e calibradas até alcançar uma precisão inigualável, com margem de erro de apenas um milionésimo de metro.
O Webb enviou em 12 de julho de 2022 cinco imagens que destacaram suas capacidades: milhares de galáxias, algumas formadas pouco depois do Big Bang, até 13,8 bilhões de anos.
Alguns meses depois, fotografou Júpiter em grande detalhe, o que ajudará a compreender o funcionamento interno desse enorme planeta gasoso.
Leia mais
‘Excesso’ de galáxias
Outras imagens coloridas que causaram espanto foram os “Pilares da Criação”, enormes estruturas de gás e poeira repletas de estrelas, em tons de azul, vermelho e cinza.
As imagens e dados convidam os cientistas a “revisarem seus modelos sobre a formação das estrelas”, explicou a Nasa.
Apenas cinco meses depois de entrar em operação, o telescópio deu aos astrônomos um vislumbre de uma galáxia que foi formada 350 milhões de anos depois do Big Bang.
Essas formações galácticas são muito mais brilhantes do que era imaginado e podem ter sido formadas muito antes do que se calculava.
“Temos no universo distante um ‘excesso’ de galáxias, em comparação com os modelos teóricos”, explicou o diretor científico do Departamento de Astrofísica do Comissariado de Energia Atômica e Energias Alternativas (CEA) da França, David Elbaz.
Onde o Hubble viu apenas “galáxias de formato irregular”, a precisão de James Webb “transformou em magníficas espirais galácticas” de formato semelhante ao nosso.
Uma espécie de “padrão universal” que poderia ajudar a desvendar a formação das estrelas.
Em relação aos exoplanetas, conquistou-se a primeira confirmação da presença de dióxido de carbono na atmosfera do Wasp 39-b, cujas nuvens poderiam produzir fenômenos fotoquímicos.
Segundo Massimo Stiavelli, essas primeiras observações indicam “grandes surpresas” em um futuro próximo./AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.