Pela primeira vez, transplante de rim de porco em ser humano é bem sucedido

Feito de cirurgiões americanos pode ajudar a aliviar a escassez de órgãos humanos para transplante

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

Pela primeira vez, um rim de porco foi transplantado em um ser humano sem desencadear rejeição imediata do sistema imunológico do receptor. O procedimento feito no Langone Health, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, pode ajudar a aliviar a escassez de órgãos humanos para transplante.

A equipe cirúrgica americanaexamina o rim de porco em busca de quaisquer sinais de rejeição hiperaguda. Foto: Joe Carrotta/NYU Langone Health/via Reuters

PUBLICIDADE

Para o feito, cientistas usaram um porco cujos genes haviam sido alterados para que seus tecidos não contivessem mais a alfa-gal, molécula conhecida por desencadear a rejeição quase imediata. O animal foi chamado de GalSafe

A receptora foi uma paciente com morte cerebral com sinais de disfunção renal. A família consentiu com o experimento antes que ela fosse retirada do aparelho de suporte de vida, conforme os pesquisadores. Por três dias, o novo rim foi anexado aos vasos sanguíneos e mantido fora do corpo dela, dando aos profissionais da saúde acesso a ele. 

No geral, os resultados dos testes da função do rim transplantado "pareciam bastante normais", diz o cirurgião do transplante Robert Montgomery, líder do estudo. O nível anormal de creatinina do receptor, um indicador de função renal deficiente, voltou ao normal após o transplante, diz.

O rim produziu "a quantidade de urina que você esperaria" do órgão humano humano transplantado, avalia, sem que houvesse evidências da rejeição precoce e vigorosa observada quando rins de porco não modificados são transplantados para primatas não humanos.

Publicidade

Cientistas usaram um porco com genes alterados para que seus tecidos não contivessem mais a alfa-gal, molécula conhecida por desencadear a rejeição quase imediata no corpo humano. Foto: oe Carrotta/NYU Langone Health/via Reuters

No Brasil, até junho deste ano, 26.230 brasileiros estavam na fila de espera por um rim, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). O número representa mais da metade (57%) das pessoas que esperam por um transplante no País. 

Como mostrou o Estadão, em 2020, o número de transplantes de órgãos realizados caiu 37%, as doações de órgãos também reduziram, com queda de 8,4% em relação aos dados de 2019. A redução foi consequência da pandemia do coronavírus, de acordo com o Ministério da Saúde.

Décadas de estudo

Pesquisadores trabalham há décadas com a possibilidade de usar órgãos de animais para transplantes, porém, não sabiam como evitar a rejeição imediata pelo corpo humano. A equipe de Montgomery teorizou que eliminar o gene suíno para um carboidrato que desencadeia a rejeição, a alfa-gal, resolveria o problema.

O porco geneticamente modificado, o GalSafe, foi desenvolvido pela empresa americana United Therapeutics Corporation e recebeu autorização em 2020, pela FDA (órgão americano equivalente à Anvisa) - para uso como alimento para pessoas com alergia à carne e como uma fonte potencial de tratamento humano. Produtos médicos desenvolvidos a partir de porcos requerem aprovação específica da agência antes de serem usados ​​em humanos.

Publicidade

Outros pesquisadores ponderam se os porcos GalSafe podem ser fontes de tudo, desde válvulas cardíacas a enxertos de pele para pacientes humanos.

Próximos passos

O feito recente deve abrir caminho para testes em pacientes com insuficiência renal em estágio terminal, possivelmente nos próximos anos, avalia Montgomery. Esses ensaios podem testar a abordagem como uma solução de curto prazo, para pacientes criticamente enfermos até que um rim humano esteja disponível, ou como um enxerto permanente.

Os participantes, diz, provavelmente serão aqueles com baixa probabilidade de receber um rim humano e com um prognóstico ruim em diálise. “Para muitas dessas pessoas, a taxa de mortalidade é tão alta quanto para alguns tipos de câncer. Não pensamos duas vezes antes de usar novos medicamentos e fazer novos testes (em pacientes com câncer), quando isso pode levar alguns meses a mais da vida”, disse Montgomery./Com informações de Reuters

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.