Vinho mais antigo é encontrado em urna funerária dentro de tumba romana; veja imagens

Além da bebida, com data de 2 mil anos, urna continha ossos cremados de um homem

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Por Aline Albuquerque

Pesquisadores espanhóis afirmam ter encontrado o vinho mais antigo do mundo, com data de 2 mil anos, dentro de uma urna funerária, localizada em uma tumba romana. A descoberta, publicada este ano no Jornal de Ciência Arqueológica, foi feita em uma tumba escondida no subsolo de uma casa na cidade de Carmona, na província de Sevilha, sul da Espanha.

Segundo os estudiosos, o vinho mais antigo descoberto em forma líquida tem tonalidade marrom-avermelhada e apresenta características de ser encorpado. Além do vinho, a urna continha também os restos mortais cremados de um homem romano.

Descoberta foi feita em uma tumba na cidade de Carmona, no sul da Espanha. Foto: Juan Manuel Román/Divulgação

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Os arqueólogos identificaram que os cerca de cinco litros de líquido avermelhado no frasco de vidro dentro da urna não vinham de condensação ou inundação. Os testes mostraram que a substância tinha um PH de 7,5 – próximo ao da água – com elementos químicos muito semelhantes aos dos vinhos atuais.

A cor do líquido, de acordo com o estudo, foi causada pelas reações químicas no vinho por conta dos 2 mil anos de armazenamento. As análises foram realizadas por especialistas da Universidade de Córdoba. Apesar da cor, o vinho, na verdade, não era tinto, mas sim branco.

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Eles identificaram isso por meio de biomarcadores e compostos químicos da bebida, que foram comparados com os vinhos tipicamente encontrados naquela região da Espanha. O ácido siríngico é formado quando o vinho tinto se decompõe, mas ele não estava presente no líquido da urna. Assim, eles descobriram que o vinho era branco.

Pesquisadores espanhóis usaram biomarcadores e compostos químicos para analisar o líquido encontrado. Foto: Juan Manuel Román/Divulgação

“O vinho acabou por ser bastante semelhante aos vinhos daqui da Andaluzia: vinhos do tipo xerez (feito geralmente com a combinação de três tipos de uvas brancas)”, traz na pesquisa Ruiz Arrebola, químico orgânico da Universidade de Córdoba que liderou a análise do vinho.

Apesar da mistura entre a bebida e os restos mortais, eles identificam que o líquido não é tóxico, por meio de uma análise microbiológica. O químico e a equipe esperam que as técnicas que desenvolveram durante as investigações da urna ajudem outros pesquisadores que estudam comida e vinho antigos.

Conforme o artigo científico, antes da descoberta o vinho mais antigo preservado em estado líquido era uma garrafa escavada em um túmulo romano perto da cidade alemã de Speyer, em 1867, e datada de cerca de 325 D.C.

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Tumba encontrada pelos pesquisadores foi esculpida em uma rocha que lhe permitiu permanecer em pé por 2 mil anos. Foto: Juan Manuel Román/Divulgação

Tumba romana no subsolo de casa

A urna espanhola em que o vinho estava foi recuperada em 2019, depois de uma família realizar obras em sua casa, em Carmona, e ter se deparado com o túmulo no subsolo da propriedade. “É uma tumba esculpida na rocha que lhe permitiu permanecer em pé por 2 mil anos”, apontou o pesquisador José Ruiz.

A tumba teve grande repercussão quando pesquisadores anunciaram que tinham encontrado um frasco de cristal em uma das urnas. Era um perfume romano com aroma de patchouli de 2 mil anos, mas esse não era o único segredo escondido em seu interior.

O trabalho também celebra a ação dos moradores da propriedade, que acionaram o departamento arqueológico da cidade logo que se depararam com a tumba. Ela tinha divisões com oito nichos funerários, seis com urnas feitas de calcário, arenito ou vidro e chumbo. Cada urna continha os restos ósseos cremados de um único indivíduo e duas das urnas estavam inscritas com os nomes dos mortos: Hispanae e Senicio

Os arqueólogos da cidade perceberam que o túmulo era incrivelmente incomum, porque não tinha sido invadido ou saqueado. Os romanos eram orgulhosos e, mesmo na morte, costumavam construir monumentos funerários, como torres, sobre os seus túmulos para que as pessoas pudessem vê-los, como tentativa de permanecer na memória das pessoas.

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“A surpresa foi ainda maior quando os arqueólogos abriram a urna e viram que estava cheia de líquido. Além dos ossos cremados de um homem, tinha ainda um anel de ouro decorado. Foi colocado depois e o morto não o usava quando foi cremado. Havia também o que poderiam ser os pés de metal da cama onde o corpo foi cremado”, apontou o trabalho espanhol.

A descoberta foi publicada no Jornal de Ciência Arqueológica.

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