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A hitória de Canhoteiro, por Renato Pompeu

Por Agencia Estado
Atualização:

A história de Canhoteiro, considerado por muitos o maior ponta-esquerda de todos os tempos, se confunde com a da cidade de São Paulo. Por isso, colocar o selo de 450 anos da capital no livro Canhoteiro - O Homem que Driblou a Glória, é mais do que justificado. O jornalista Renato Pompeu narra a carreira do maranhense José Ribamar de Oliveira (1932-1974), que brilhou no São Paulo de 1954 a 1963, paralelamente ao surgimento dos arranha-céus, dos bondes, ônibus e favelas. Os registros sobre o jogador - que recebeu os apelidos de O Mago, Mandrake e Mágico, por causa de seu drible genial - são limitados. Quem o viu jogar afirma que sua maestria na esquerda lembrava os lances que pela direita tornaram Garrincha célebre. Nascido em Coroatá, Canhoteiro começou no Paysandu de São Luís como amador. Atuou como profissional no América de Fortaleza e na seleção do Ceará, onde foi campeão do norte do Brasil. Chegou ao São Paulo em 1954 e conquistou a admiração de todos desde o início. Proporcionou ao público grandes duelos com o médio-direito (hoje seria lateral-direito) Idário, do Corinthians, seu amigo. Canhoteiro foi um típico caso de sucesso paulistano. Num tempo em que a maioria dos jogos eram transmitidos do Rio de Janeiro (só na capital paulista é que não se ouviam as rádios cariocas), apenas os que viram suas partidas antológicas podem testemunhar. Por isso, ele sempre foi desconhecido em âmbito nacional. Quando moleque, fazia embaixadinha com coco, laranja, bolinha de papel, xícara de café e até com caixa de fósforo. Chegou a ganhar uns trocados fazendo embaixadas com moedinhas na rua, quando pedia ao público para escolher cara ou coroa e em que pé a moeda deveria cair. Fez um gol em 16 jogos oficiais pela seleção brasileira. Em 1958, começou a perder a vaga de titular para a Copa, substituído por Zagallo. Brincalhão, desleixado, deixou a concentração uma vez para beber com Jadir e Gilmar. Poucos dias depois, uma foto com o companheiro Zezinho, do São Paulo, num boteco, saiu no jornal. Foi a sua condenação. Segundo Pompeu, Canhoteiro se sentia desconfortável na seleção, onde tinha de jogar "sério" e porque achava que a equipe estava fadada ao fracasso. Portanto, no auge da sua carreira, não brilhou na seleção que conquistou a primeira Copa do Mundo, na Suécia, mas no São Paulo. Seu gol mais importante foi na decisão do Campeonato Paulista de 1957, na vitória de 3 a 1 contra o Corinthians. Sua marca registrada era o drible "solavanco", "em que vinha carregando a bola a meia velocidade e de repente dava uma paradinha, dobrando a cintura para um lado, o que fazia o adversário perder o pé, e em seguida dava um giro rápido para o lado oposto, sempre menos esperado pelo marcador e de um modo que a vista não conseguia acompanhar." Pompeu conta que uma vez o zagueiro Antoninho, do Palmeiras, ao ser driblado por Canhoteiro, ficou tão desorientado que foi caindo pelos degraus do túnel do vestiário. Canhoteiro saiu do São Paulo aos 31 anos, em 1963, após ter sido brutalmente atingido pelo zagueiro Homero, do Corinthians. Com a carreira arruinada depois de uma operação no menisco, trabalhou como funcionário do Banespa, onde servia cafezinho, sempre sorrindo. Morreu às vésperas de completar 42 anos, de derrame cerebral. Pompeu chama Canhoteiro de "jogador-ônibus". E explica: pelo espetáculo que mostrava em campo, era um atleta para todos e não apenas para os são-paulinos e chegou a ter um fã-clube com torcedores de outros times. Segundo o reserva Aílton, "era um herói perfeito, capaz de ir carregando a bola em alta velocidade ao longo da linha lateral, sem que ela saísse da comprida e estreita marca de cal, desde a linha do meio-de-campo até a linha de fundo, ou de "driblar a própria sombra". Canhoteiro - O Homem que driblou a glória, de Renato Pompeu. 168 páginas. Editora Ediouro.

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