O museu sobre a vida da mais importante cantora lírica do Brasil, Bidu Sayão, morta em março de 1999, não saiu do papel. A família da artista diz que a Prefeitura do Rio não só descumpriu o acordo feito com ela ainda em vida, como também não quitou o pagamento pela casa onde Bidu morava, no número 48 da Praça Tiradentes (Centro), vendida ao Município para ser a sede do museu. Com a confusão, o acervo da cantora foi levado para uma biblioteca nos Estados Unidos, país onde ela viveu por sessenta anos. Segundo o sobrinho da cantora, o arquiteto Pedro Sayão, em 1997 a então secretária Municipal de Cultura, Helena Severo, propôs a ele a criação do museu na casa da Praça Tiradentes - um prédio histórico cuja construção data do início do século. "Entrei em contato com minha tia e ela ficou tão contente que mandou uma fita cassete para a secretaria, em que gravou uma mensagem de agradecimento pela iniciativa", conta Sayão. "Foi muito triste para ela constatar que nada foi feito concretamente". A atual secretária de Cultura, Vania Bonelli, que à época era subsecretária, informou ontem ao Estado que a prefeitura tem interesse de adquirir parte do acervo para montar um centro de difusão da música erudita na antiga casa de Bidu Sayão. Um prova disso é, segundo Vania, a compra do imóvel - que faz parte do Projeto Tiradentes, de revitalização da região do entorno da praça (a casa da cantora foi a única das 200 que integram o projeto adquirida pela prefeitura; as demais serão apenas recuperadas). A secretária prevê que as obras comecem em fevereiro do ano que vem. Desiludido com o descaso da prefeitura em relação ao acervo de Bidu, Pedro Sayão autorizou a empresária da tia, a americana Hazel Eaton, a levar fotografias e partituras - entre elas um original das Bachianas número 5, dada de presente a Bidu pelo compositor Villa-Lobos - da casa onde a artista vivia, em Rockwell, no estado de Maine, para a biblioteca de Boston, em Massachussets, onde as peças ficarão expostas. "Ela sempre foi celebrada lá fora, enquanto era esquecida no Brasil", disse o sobrinho - que, junto com a irmã, são os únicos herdeiros de Bidu, que não teve filhos. Sayão informou que a prefeitura lhe deve pelo menos R$ 50 mil pela transação da venda da casa de Bidu, iniciada há dois anos. Segundo ele, o acordo com a Superintendência de Patrimônio da Secretaria Municipal de Fazenda foi verbal e o prazo estabelecido para o pagamento não foi respeitado. "Eles disseram que quitariam tudo em dez dias, mas até agora não terminaram de pagar", disse. O superintendente José Paulo Junqueira confirmou que houve atraso na quitação da casa, por problemas administrativos, mas negou que a prefeitura tenha alguma dívida com Sayão. Segundo Junqueira, a casa será reformada e terá um espaço dedicado à memória de Bidu.
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