EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Um retrato social diário, baseado na relevância do fato, da notícia e da imagem

Isay Weinfeld: ‘Todos têm direito a uma boa arquitetura’

Sem economizar críticas às incorporadoras, Isay Weinfeld defende uma arquitetura mais inclusiva

PUBLICIDADE

Foto do author Alice Ferraz
Atualização:
Isay Weinfeld entre duas de suas obras: o edifício Marquês de Itu, próximo ao Minhocão, em SP, e o Edifício Jardim, com vista para o High Line de Nova York. Foto: Colagem de Thaís Barroco sob fotos de Alexandre Charro

Em tempos em que a palavra luxo e exclusividade dominam o discurso da arquitetura contemporânea da elite, Isay Weinfeld escolhe seguir um caminho distinto. O arquiteto, conhecido por trabalhos que exaltam o poder do modernismo clássico e, ao mesmo tempo, são totalmente atuais, me recebeu para uma conversa sobre seu novo livro e revelou o propósito maior do seu trabalho. “Minha verdadeira paixão não reside na ostentação, mas na busca incessante pela qualidade. O luxo em si não me interessa, assim como as tendências. A qualidade, sim”, afirma, sem rodeios.

PUBLICIDADE

Para Weinfeld, a arquitetura vai além da estética superficial. O que o move é a criação de espaços que promovem conexão e encontros genuínos entre as pessoas. “Hoje, em São Paulo, qualquer empreendimento se diz icônico ou exclusivo, quando não os dois. E deveria ser o oposto. Um projeto não tem de se sobressair em relação aos vizinhos, tem de estabelecer uma respeitosa relação com o entorno. Mais que isso, ao invés de excluir, deve ser convidativo, promover encontros. Esse é o mundo que eu quero ver. Entendi que faço o que faço porque sou um cara que cuida. Cuido das pessoas, dos amigos, da família. Para mim, isso é muito importante”. Esse cuidado se reflete diretamente na concepção de seus projetos, sempre focados nas necessidades e nos sentimentos de quem os vai habitar.

Seja em empreendimentos de luxo, quer sejam habitações de interesse social, a missão de Weinfeld é proporcionar um espaço que ofereça bem-estar, conforto e, acima de tudo, felicidade. “A busca é atender ao cliente, às exigências, aos limites de orçamento, e, mais importante ainda, fazer algo para a cidade”, explica. “O que importa não é o status do projeto, mas sua capacidade de transformar qualquer espaço em algo funcional e impactante para as pessoas e para o ambiente. “Eu fiz um edifício de altíssimo luxo em Mônaco, mas também fiz Minha Casa, Minha Vida no Minhocão de São Paulo. O que me interessa são os extremos e entender como realizar com a mesma qualidade”, diz.

Sua defesa de uma arquitetura mais inclusiva é evidente em suas críticas ao mercado imobiliário atual. Weinfeld lamenta a tendência de priorizar o marketing sobre a qualidade arquitetônica e acredita que o mercado precisa de mais coragem. “Os incorporadores precisam arriscar mais. Constroem até o último metro quadrado, sem pensar se isso é o melhor para a cidade. Acho isso lamentável.”

Essa preocupação se estende ao conceito de térreos mais acessíveis e ativos, fundamentais para a vitalidade urbana. Segundo Weinfeld, o futuro das cidades depende da convivência harmoniosa entre diferentes usos — residenciais, comerciais e culturais — que incentivem a circulação de pessoas e reforcem a segurança nas ruas. “É tão importante que os térreos sejam espaços de acesso ao público. Não entendo quem não queira morar ao lado da padaria, em cima da farmácia, perto do metrô. São esses usos que fazem com que as pessoas circulem mais pelas ruas, que fazem a cidade mais viva, segura”, afirma. “Um projeto tem que oferecer uma simbiose em que o mundo natural e o que é feito pelo homem são complementares. Acima de tudo, edifícios fáceis de se viver, convidativos e elegantes – e tudo isso sem ostentação”, avalia o arquiteto.

Publicidade

Os projetos apresentados no novo livro abrangem cinco décadas, incluindo o Edifício Jardim, com vista para o High Line de Nova York; sua reinvenção do restaurante Four Seasons no icônico Edifício Seagram; La Petite Afrique em Monte Carlo, com varandas repletas de plantas; e o monolítico Hotel Fasano em São Paulo, entre muitos outros.