
Há um tipo de gente que domina a arte de falar barbaridades com a leveza de quem serve chá de camomila. São aqueles que, com um sorriso gentil e voz doce, mansa, soltam frases que fazem o sangue gelar. “Deixa eu te dizer, acho que você não vai dar conta desse trabalho.”, “Já está emagrecendo para a festa de casamento?”, “Cuidado para não ficar com o ego inflado, hein?”, “Será que seu marido vai aguentar tantos compromissos? Te digo porque gosto de você.” São algumas das frases que, em conta-gotas perfumados, apareceram nas últimas semanas.
Com o tempo, a gente vai se acostumando, porque não tem outro jeito mesmo. Comentários assim vêm quase sempre de quem não grita, não se exalta e diz em tom delicado, como se o absurdo fosse menos absurdo quando embalado por uma aparente gentileza. E talvez seja isso que incomoda tanto: a dissonância entre a suavidade da forma e a brutalidade do conteúdo. Talvez exista até uma crença na própria delicadeza, sentir-se civilizado e superior ao rude que esbraveja. A agressão silenciosa é um sussurro que tenta se alojar no pensamento alheio.
A saída para o incômodo? Estar conectado com a própria verdade. Quem sou, onde estou e para onde estou caminhando. Mas claro que, de vez em quando, algumas respostas que surgem na ponta da língua são bem-vindas, um leve desabafo longe da crença de que a polidez é a maior das virtudes. Ela é, com certeza, a mais superficial e não se compara à coragem. Nesse caso, a coragem que embala a fidelidade a si mesmo. Uma coragem sem esperança de convencer o outro da fala absurda, a coragem de conseguir enxergar a maldade e se erguer em defesa própria. Vão te chamar de reativo, talvez te chamem de mal-educado e sem senso de humor, mas, de vez em quando, tá valendo.