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Por que pesquisadores do Brasil têm dificuldade para publicar nas principais revistas científicas?

Artigo na renomada The Lancet analisou as barreiras para acadêmicos de países de baixa e média renda publicarem nos maiores periódicos do mundo

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Foto do author Malu Mões
Jorge Salluh coordenou o estudo publicado na The Lancet. Ele é pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Foto: Arquivo pessoal

Uma das revistas científicas de maior credibilidade no mundo, a The Lancet publicou um estudo que denuncia as dificuldades de pesquisadores de países de baixa e média renda para publicarem artigos acadêmicos em periódicos internacionais. Conduzido por instituições brasileiras, argentinas e uruguaias, a análise foca em conhecimentos e técnicas de cuidados intensivos em saúde — mas demonstra os desafios enfrentados em todas as áreas e profissões.

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“Essa desigualdade limita o conhecimento gerado por países como o Brasil, e reduz a chance de que soluções específicas para nossos problemas sejam publicadas em revistas científicas de maior impacto”, diz Jorge Salluh, coordenador do estudo e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Ele lembra que a chancela de uma revista de renome pode levar a informação a mais profissionais e, dessa forma, ajudar mais pessoas.

O pesquisador destaca que tratamentos e recomendações médicas são baseadas em pesquisas feitas em países ricos, com sistemas de saúde e condições diferentes das nossas. “Práticas médicas usadas aqui podem não ser as mais adequadas às realidades brasileiras”, completa.

O estudo identificou que custo financeiro, barreiras linguísticas e viés nas avaliações dos artigos são os principais obstáculos para pesquisadores de países de baixa e média renda. Para publicar um artigo, as taxas variam de U$ 3 mil a U$ 12 mil, no caso das revistas mais renomadas — valores “inviáveis para pesquisadores brasileiros”, na avaliação do coordenador do estudo. Países de baixa renda têm isenção da tarifa. Mas os de média renda não — apesar dessas nações concentrarem 75% da população mundial. O artigo defende a gratuito também para esse segmento como uma das soluções para diminuir a desigualdade.

A pesquisa ainda aponta que os integrantes dos corpos editoriais das principais revistas acadêmicas internacionais costumam ser de países ricos, que tendem a priorizar temas que afetam a região. O artigo diz ser importante ampliar a diversidade das equipes.

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