Análise: Paulo Silvino fez parte de uma era de ouro do humor no País

Ator interpretou personagens brilhantes como Pai Turíbio e Cruzoelson

PUBLICIDADE

Uma lendária geração do humor no Brasil, da qual fazem parte também nomes como Jô Soares e Agildo Ribeiro, perdeu um de seus membros mais queridos. O humorista, ator e cantor Paulo Ricardo Campos Silvino, que ficou conhecido como Paulo Silvino, morreu na manhã de quinta, 17, aos 78 anos, em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio, após lutar contra um câncer no estômago desde o ano passado. O corpo de Silvino será velado nesta sexta, 18, a partir das 8h, na capela 8 do Memorial do Carmo, no Rio, e será cremado às 14h. O velório estará aberto ao público das 9h às 12h.

Paulo Silvino era do tempo em que o humor não precisava ser politicamente correto. E ele levou isso até para seus derradeiros trabalhos. Um de seus personagens mais famosos, o porteiro Severino, funcionário da TV Globo e ‘quebra-galho’ de um diretor, entrou no Zorra Total em 2005, numa época em que o extinto programa investia em um festival de bordões. Não demorou muito para que os de Severino fossem reproduzidos no dia a dia pelo público do programa, como ‘cara, crachá, cara, crachá’ ou ‘isso é uma bichona!.’

O atorPaulo Silvino Foto: Tata Barreto/Globo

PUBLICIDADE

O comediante fez outros personagens no humorístico, como Pai Turíbio e Cruzoelson, até 2015. Após a reformulação do programa, que passou a se chamar Zorra e a ser exibido em temporadas, houve uma renovação no elenco, mas Silvino continuou a fazer participações. Ele estava afastado da TV desde o ano passado. 

Apesar de Severino ser seu personagem mais popular, Silvino fez memoráveis parcerias com Jô Soares, em programas que usavam o humor como ferramenta para fazer ácidas críticas sociais e de comportamento, como Satiricom, de 1973, Planeta dos Homens, de 1976, e Viva o Gordo, de 1981 (leia depoimento de Jô ao lado). Ele fez parte do time de outros humorísticos históricos, como Faça Humor, Não Faça Guerra (1970) e Uau, a Companhia (1972). Fez parte ativamente de uma era de ouro do humor no País. 

Publicidade

Nascido no Rio, em 1939, Paulo Silvino cresceu nos bastidores do rádio e do teatro, levado sempre pelo pai, o também comediante Silvério Silvino Neto. Um lado pouco conhecido de Paulo Silvino é que ele tinha uma forte relação com a música (veja texto abaixo). Esse talento foi descoberto quando fez aulas com a mãe, a pianista e professora Noêmia Campos Silvino. Quando era adolescente, ele virou crooner de um conjunto de rock. Mas foi a carreira de humorista que o projetou. Iniciou sua trajetória no rádio e, nos anos 1960, foi para a TV Rio.

Silvino enfrentou um momento dramático na família. Em 1993, o filho Flávio Silvino, então com 22 anos, sofreu um grave acidente de carro. Na época despontando como cantor e ator da Globo, Flávio teve traumatismo craniano, que deixou sequelas. Pai carinhoso, Paulo Silvino, muitas vezes, usava o humor como antídoto da dor. Num quadro do Fantástico, em 2012, ele contou que Flávio saiu do coma rindo, após ouvir uma piada do pai. Silvino sempre se emocionava quando falava do filho e do milagre que foi seu renascimento. Paulo Silvino deixa a mulher Giseli, Flávio e mais dois filhos. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.