Análise: Por que ativistas ambientais atacam a arte?

Um atentando contra Van Gogh, como o de hoje na National Gallery, é estúpido e praticado por gente histérica, no mínimo

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Qualquer pessoa que danifique intencionalmente uma obra de arte é um criminoso – e deve ser tratado como tal. Em se tratando de Van Gogh, então, o crime deveria ser inafiançável. Sua obra é um patrimônio cultural da humanidade. Quem atenta contra Van Gogh, pratica não só um injustificável ato de terrorismo contra uma peça de arte, mas contra a humanidade. Assim, as duas jovens ativistas do grupo Just Stop Oil, que jogaram, nesta sexta-feira, 14, um pacote de sopa de tomate na tela Girassóis, do pintor holandês, protestando para pressionar o governo do Reino Unido a decretar o fim do uso de combustíveis fósseis, cometeram um crime. Contra o artista, contra a National Gallery, contra a cultura. E contra o meio ambiente, o que parece um tanto paradoxal para ambientalistas.

Quem atenta contra Van Gogh, pratica não só um injustificável ato de terrorismo contra uma peça de arte, mas contra a humanidade

Não é a primeira vez que isso acontece – e provavelmente não será a última. Predomina no mundo contemporâneo uma histeria juvenil que quer culpar a arte por todos os males, quando a crítica deveria ser dirigida aos que estão fora dos museus, confabulando em gabinetes do poder. Eles pouco se importam com a arte ou o meio ambiente. Dizer que “eles estão mais preocupados com a proteção de uma obra de arte do que com a vida das pessoas”, como justificou o ato uma das ativistas, é de uma estupidez absurda.

O grupo n'Just Stop Oil' arremessou uma lata de sopa de tomate em uma pintura de Van Gogh, na National Gallery  Foto: EFE

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Vale lembrar que o Just Stop Oil protestou, em julho, contra novas licenças de petróleo e gás do governo britânico, colando as mãos numa réplica da pintura A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci, em exposição na Royal Academy, em Londres. No mesmo mês, na National Gallery, atentaram contra uma pintura clássica do pintor John Constable, um dos maiores paisagistas ingleses. Isso para não falar do ataque recente à pintura mais conhecida de Da Vinci, a Mona Lisa, no Louvre (protegida por um vidro, ela não foi atingida).

Os exemplos são inúmeros, tendo sido praticados não apenas por ambientalistas, mas por pessoas com histórico de doenças mentais. Integrantes do grupo de ativismo ambiental Ultima Generazione, ou Última Geração, colaram as mãos na pintura A Primavera, de Botticelli. A obra do artista italiano, evoque-se, representa a arte renascentista italiana em sua plenitude.

E não só pinturas foram vandalizadas, se considerarmos o atentado praticado há 50 anos pelo húngaro Lászlo Toth contra a Pietà de Michelangelo, na Basílica de São Pedro, em Roma, atacada a golpes de martelo. Tudo isso porque, parafraseando o artista conceitual norte-americano Lawrence Weiner, “todo mundo quer encontrar sentido nas obras dos artistas”. Mas, na verdade, não é para fazer sentido, e sim ter significado, dizia Weiner. Atar (literalmente) as mãos a uma obra de arte em nome de uma causa política ou ambiental é, portanto, uma asneira. “Se descartamos a beleza, o que temos?”, perguntou certo dia o compositor John Cage. Nada, ou quase nada.

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Quando os museus adotam medidas de segurança como detectores de metais na entrada, como faz o Masp, não estão só protegendo as obras de arte de seu acervo, mas a própria integridade de seus frequentadores. Fazer arte é uma atividade pacífica, não bélica, e ver arte exige um compromisso igualmente pacífico com a sociedade, não uma rebelião infantil que só conduz a atos de vandalismo.

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