Nascido no Irã, em 1975, e hoje morando em Portugal, o cartunista Alireza Karimi Moghaddam traduziu em imagens e cores a sua profunda admiração pelo pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890). Em uma passada por suas redes sociais, o que se vê é um álbum com muitas figurinhas contando a vida do artista. Mas ele não se prende a algo linear – prefere se dar o direito de fazer a imaginação voar e, com ela, colocar seu ídolo em meio a suas obras, seus campos de girassóis, seu quarto, ou uma noite estrelada. Consequentemente, nos transporta para esse mundo colorido, onde encontramos Van Gogh pintando em meio a flores, andando de bicicleta pelos campos ou pensativo em seu quarto.
É possível entender tal ligação, pois é difícil encontrar quem não se encante com os quadros de Van Gogh, ou mesmo seja tragado para viagens oníricas dentro deles. “Além de ser um grande pintor no mundo da arte, Van Gogh é um amante, alguém que ama os seres humanos e ama a vida. Isto é algo que me fascina muito”, revela Moghaddam, que respondeu a algumas perguntas do Estadão, via redes sociais.
Com uma história envolta em mistérios, Van Gogh teve uma vida com passagens traumáticas, relações dramáticas, e momentos de transtornos psicológicos, sofrendo alucinações. Morreu jovem, aos 37 anos, mas a imensidão de sua obra segue perene, conquistando sempre público novo. Para Moghaddam, a atração pelo gênio incompreendido nasceu ainda na adolescência, quando deparou com essa arte cheia de cor, pinceladas fortes, carregada de significados, e diz que cresceu com ele.
“Os livros de pintura de Van Gogh e as histórias em quadrinhos (Tintin e Branca de Neve) foram meus únicos amigos na adolescência. Quando criei minha página no Instagram, há cinco anos, pensava em publicar meus próprios cartoons ali. Mais tarde, Van Gogh acidentalmente entrou na minha atividade em praticamente tudo o que faço e estou muito feliz com isso”, confessa o artista iraniano.
Tudo na história de Van Gogh cativa – as pinturas, claro, a vida distante das pessoas, a relação amorosa com o irmão, Theo, com sua troca de cartas, inúmeras delas, que revelam o pensamento do artista. “Van Gogh era um homem muito sensível. Vemos esses sentimentos puros claramente em suas pinturas. E ele escreveu cartas para seu irmão. Acho que todo aquele que ama Van Gogh é apaixonado. Amante dos seres humanos e amante da paz”, pensa Moghaddam.
Com uma obra dessas, que trespassou o tempo, conquistou gerações, não foi muito simples para Alireza Karimi Moghaddam recontar essa história, ainda mais usando o próprio Van Gogh como personagem, que é colocado nas telas, dentro de suas pinturas. “Foi um pouco difícil no início, mas, à medida que avancei, foi ficando mais fácil. A familiaridade com o estilo de vida de Van Gogh, sua história de vida, o estudo de seus desenhos e pinturas, tudo isso me ajudou a chegar mais perto do mundo real dele”, explica o cartunista, que admite conviver com Van Gogh diariamente. “Falo com ele, faço perguntas. Ele faz parte da minha vida neste momento e para mim é algo inacreditável me separar dele.”
Apesar do momento estranho, com a pandemia obrigando todos a manter distanciamento, é também um momento que acabou ajudando o quadrinista em suas criações, que ajudaram a “superar facilmente esta epidemia”. Ele conta que se sentiu dessa forma porque, antes de se familiarizar com a técnica de um artista, tem de conhecer a alma dele. “Só então meu trabalho será algo digno de crédito. Preciso ler mais e assistir a mais filmes e assim conseguirei trazer um outro artista para o mundo dos meus cartoons”, diz.
Agora é aguardar para ver esse material em formato de livro, um sonho de Moghaddam. “Venho buscando uma editora reputada para publicar esses trabalhos em livro, mas ainda não encontrei. Será uma realização publicar minha obra.”
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