Araquém Alcântara não quer mais exposições bonitinhas com coquetel. “Isso eu não quero mais”, diz em entrevista ao Estadão. “Nem fazer livros muito bonitos, que estejam só na livraria, se eles não tiverem um propósito”. Para celebrar os 50 anos de carreira, o fotógrafo, que é considerado um dos precursores da fotografia de natureza no Brasil, explora a Amazônia em uma mostra fotográfica flutuante pelos rios da região.
Intitulada Expedição Araquém Alcântara 50 anos de fotografia, a exposição flutuante abre oficialmente no dia 16 de outubro, mas a viagem já foi iniciada em Belém. A rota fluvial, que se estende por mais de 2 mil quilômetros, tem como destino final a cidade de São Luís, no Maranhão, no dia 1º de novembro, e busca levar à população ribeirinha um pouco mais sobre si e, também, do desconhecido.
O trabalho é movido pelo olhar do fotógrafo andarilho e por uma embarcação com telas de LED e estrutur que mistura aço especial galvanizado, madeira e uma plataforma de garrafas pet recicladas, idealizada pelo Atelier Marko Brajovic. Expedição Araquém Alcântara 50 anos de fotografia também pode ser acompanhada de qualquer lugar por transmissões diárias disponibilizadas no site.
“A Amazônia tem 29 milhões de pessoas em vários biomas dentro de um só e uma fisionomia ecológica impressionante. Eu quero mostrar a Amazônia dos próprios amazônicos também, porque é impossível abarcar a Amazônia, porque ela é superlativa”, diz Araquém.
No total, 200 fotografias, que retratam o cotidiano da população local, foram selecionadas, ao longo de dois anos, por Araquém para serem exibidas na embarcação, repaginada para receber a exposição. A curadoria, conta o fotógrafo, reflete o seu compromisso com a diversidade, mas também a sua urgência em falar sobre a proteção da região.
“Eu comecei a perceber que a minha voz tinha que se tornar mais ativista quando eu percebi a velocidade da desertificação”, conta. “É difícil você defender a Amazônia porque ela está longe. É o que próprio Darcy Ribeiro falava, ‘a Amazônia precisa ser tocada’. Você tem que ir lá e sentir aquela grandiosidade. E nós temos o dever moral de sermos protagonistas da proteção de algo que é fundamental para o futuro da humanidade”, finaliza.
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