Centenas de metros quadrados de tecido de polipropileno reciclado de cor azul prateado começaram a ser desdobrados, neste domingo, 12, em um dos lados do Arco do Triunfo, dando início à etapa final do "embrulhamento" do monumento parisiense, obra póstuma do artista Christo (1935-2020). De 18 de setembro a 3 de outubro, o sonho de juventude do artista plástico búlgaro e de sua esposa, Jeanne-Claude, vai se tornar realidade: o monumento de 50 metros de altura será inteiramente coberto com 25 mil m2 de tecido, amarrado por 3 mil metros de corda vermelha, como num pacote de presente.
Os preparativos começaram no final de junho e continuam a todo vapor sob a direção de Vladimir Yavachev, sobrinho de Christo, com o apoio do Centro de Monumentos Nacionais. "Será como um objeto vivo que ganhará vida com o vento e refletirá a luz", explicou Christo ao apresentar seu projeto final, dois anos antes de sua morte. Com um custo de 14 milhões de euros (US$ 16,5 milhões), o projeto é totalmente autofinanciado com a venda de obras originais de Christo: desenhos preparatórios, lembranças, maquetes e litografias. Em 1985, Christo já havia empacotado a Pont-Neuf, uma das pontes parisienses que cruzam o rio Sena. Desta vez, após semanas de preparação, uma equipe de 95 especialistas em cordas desenrolou, no domingo, do alto do Arco do Triunfo, o primeiro rolo de tecido, no lado voltado para a Avenida de Wagram. O processo de embalagem seguirá dia e noite até ficar pronta no dia 18 de setembro, dia da inauguração. "Hoje é um dos momentos mais espetaculares da instalação. O Arco do Triunfo embalado está começando a ganhar vida e se aproxima da visão do que foi o sonho de uma vida para Christo e Jeanne-Claude", comentou Yavachev, supervisionando o projeto.
Para Bruno Cordeau, administrador do Arco do Triunfo, "acompanhar a instalação de uma obra como esta, nas atuais circunstâncias, é mágico". "A embalagem da Pont-Neuf foi um momento fora do comum. É isso que vamos vivenciar aqui mais uma vez. Cuidamos para que o Arco do Triunfo seja devidamente protegido, principalmente porque o monumento ainda está aberto ao público", acrescentou Cordeau. "O Arco do Triunfo não é um monumento como os outros. É o da harmonia nacional. É também um lugar de cultura. A obra de Christo tem a elegância e a humildade de ser efêmera. Ao cabo de duas semanas, ela vai desaparecer", sublinha o administrador do Arco, que associou ao projeto o Comitê da Chama e de ex-combatentes. Além das consequências da pandemia, o projeto foi adiado por causa do período de construção de ninho de peneireiros-vulgar, que vivem há muito tempo no Arco.
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