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Bonaventure Soh Bejeng Ndikung assume 36ª Bienal de São Paulo

Em passagem pelo Brasil, o camaronês radicado em Berlim conta sua trajetória e fala em realizar um ‘evento elástico’

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Foto do author Alice Ferraz

Uma canção lindíssima que penetrava os ouvidos e ocupava todo o ambiente, rompendo fronteiras e banhando seu entorno de forma livre e sem barreiras. Essa é uma das primeiras memórias de infância do camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador-chefe da próxima edição da Bienal de São Paulo, um dos eventos artísticos mais importantes do mundo. A sensação sônica descrita por ele define os pilares do trabalho sensível e grandioso que o curador tem realizado ao redor do globo e que pousa no próximo ano na cidade de São Paulo para a 36.ª edição da exposição.

Bonaventure planeja uma Bienal que possa expandir seus ‘tentáculos e fazer conexões Foto: Jana Edisonga/Fundação Bienal de São

O Brasil e nossa cultura têm sido objeto de estudo de Bonaventure nos últimos anos. Suas visitas à Bahia, ao Rio e a São Paulo trouxeram muitos frutos, entre eles a mostra dedicada a um dos grandes poetas e artistas visuais do País, Abdias do Nascimento, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, a maior exposição já dedicada à obra do brasileiro em território europeu.

”Há tanto que nos conecta, que nos aproxima. Mas o ser humano tende sempre a prestar atenção no que nos distancia. Meu interesse é olhar para o que nos une”, afirma o curador com exclusividade ao Estadão, durante sua mais recente visita ao Brasil. “Como sabemos, existe uma interconectividade grandiosa. Todo o ecossistema amazônico, por exemplo, depende da poeira do Saara para reabastecer suas reservas de nutrientes perdidos. Isso é uma linda metáfora para o poder de que estamos falando.”

Pioneirismo em Berlim

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Radicado na Alemanha, o novo curador-chefe da Bienal de São Paulo é um dos gigantes do cenário cultural internacional. Foi o primeiro negro a dirigir o Haus der Kulturen der Welt (HKW), em Berlim, uma das instituições mais poderosas do mundo. “Lembro-me de quando vi o primeiro negro em horário nobre da TV que não era jogador de futebol nem político. Era um curador, o senegalês radicado em Nova York Okwui Enwezor. Eu tinha 21 anos na época e foi a primeira vez também que ouvi a palavra curador de artes visuais”, relembra Bonaventure.

Com um extenso currículo, ele fundou, em 2009, a plataforma Savvy Contemporary, ponto de encontro vital para diálogos interculturais e experimentações artísticas no continente europeu. Sua expertise o levou a assumir papéis importantes na cena artística, como na Documenta 14, em 2017; na Bienal Dak’Art, no Senegal, em 2018; e na Bienal de Veneza, na qual além de ter organizado o Pavilhão Finlandês, em 2019, foi membro do júri em 2022.

Filho de intelectuais de classe média, Bonaventure formou-se em bioecologia e leva a ciência e a escrita como cernes de seus interesses curatoriais. “Meu pai era um antropólogo/sociólogo e professor que passou grande parte da minha infância viajando para pesquisar e escrever. Tinha uma enorme biblioteca em casa e, sempre que penso na minha trajetória, me vejo entre suas revistas e seus livros e ouvindo suas magníficas histórias da região. Lembro dos inúmeros chapéus que usava, ele parecia um dândi, e aquilo me fascinava”, relembra Bonaventure, ele mesmo usando um belo chapéu e com uma aparência igualmente elegante.

E o que podemos esperar da próxima Bienal em São Paulo? Ele mantém o mistério. “O que posso dizer é que pretendo realizar um evento elástico. Uma Bienal que possa expandir seus tentáculos e conectar – assim como o som e a música que me atravessam.

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Colaboração de Ana Carolina Ralsto

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