Como é a SP-Arte? Com obras entre R$ 1 mil e alguns milhões, feira é opção de passeio e de negócio

Maior feira de arte moderna e contemporânea da América Latina ocupa Pavilhão da Bienal entre quarta, 3, e domingo, 7

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Foto do author Thaís Ferraz

Começa nesta quarta-feira, 3 de abril, a SP-Arte, maior feira de arte moderna e contemporânea do hemisfério Sul. Durante cinco dias, o público poderá conferir obras de mais de 1.500 artistas, em uma seleção que inclui nomes como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake e Tunga. Nesta edição, a SP-Arte comemora 20 anos de existência.

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Ao todo, o evento conta com 190 expositores, distribuídos entre galerias de arte, estúdios de design, editoras e instituições culturais. A feira ocupa três pisos do Pavilhão.

No primeiro andar, é possível conferir galerias voltadas ao mercado secundário, que contempla obras que já foram adquiridas alguma vez e estão sendo revendidas, geralmente assinadas por artistas já consagrados. No segundo andar, o foco está no mercado primário: são obras comercializadas pela primeira vez. No térreo, o público poderá visitar os estandes voltados ao design e às editoras.

Obras expostas na SP-Arte, que acontece no Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera entre os dias 03 e 07 de abril. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Localizada no primeiro andar, a Almeida & Dale participa da feira desde a sua primeira edição. Neste ano, a curadoria do estande é assinada por Cristiano Raimondi, que acaba de apresentar a primeira retrospectiva de Alfredo Volpi em uma instituição italiana, a The Luigi Pecci Center for Contemporary Art. Além de Volpi, a galeria traz obras de Tarsila do Amaral, Sérgio Camargo e Lygia Clark, entre outros. “Na feira, nós trabalhamos com nossos artistas do dia a dia, mas as obras são inéditas. Nunca repetimos”, explica Antonio Almeida, sócio-proprietário da galeria. “A ideia é trazer obras que vão impressionar: apresentar o melhor e mais inédito do que temos.”

A Gomide & Co traz ao pavilhão um projeto especial de ukiyo-e, xilogravuras orientais do século XIX. “Elas fazem parte de um álbum que conta a história de um príncipe, cada uma descreve um certo processo. São gravuras muito raras”, explica Thiago Gomide, partner da Galeria. Além delas, Gomide destaca o trabalho Sem Título, do artista tailandês Rirkrit Tiravanija, que homenageia a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, e obras de Sérgio Camargo, Lygia Clark e Maria Lira Marques. “Vamos levar artistas que estão em evidência em museus e bienais no momento”, afirma.

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Outros destaques são a galeria Luisa Strina, que exibirá obras de Marepe e Anna Maria Maiolino, Fortes D’Aloia & Gabriel, e contará com dois estandes – um deles é dedicado à artista Yuli Yamagata –, e Raquel Arnaud, que apresentará obras de Iole de Freitas, Sergio Camargo e Waltercio Caldas.

Público poderá conferir obras de mais de 1.500 artistas na SP-Arte. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A galeria Frente, criada em 2015, traz ao Pavilhão obras de Adriana Varejão, Portinari e Di Cavalcanti, entre outros. “Nós buscamos trazer sempre obras de muita qualidade, de artistas já consagrados, misturando moderno e contemporâneo”, explica Acacio Lisboa, diretor. Um dos destaques é o óleo sobre tela Sem título, 1989, de Manabu Mabe (1924-1997). O artista, que faria 100 anos esse ano, é um dos grandes homenageados na mostra A realidade máxima das coisas, que reúne 70 obras de 11 artistas nipo-brasileiros e pode ser conferida paralelamente à SP-Arte, no espaço da galeria.

Para quem busca uma experiência sensorial, a galeria Luis Maluf, localizada no segundo andar, é uma boa pedida. O estande, assinado por Rodrigo Ohtake, transforma o espaço em narrativa – há, por exemplo, um portal cromático para observação das obras da artista Shizue Sakamoto. A galeria traz ainda nomes como Antonio Bokel, Bu’ú Kennedy e Aline Bispo, artista responsável pela icônica capa do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, vencedor do prêmio Jabuti em 2020. É a primeira vez que a obra será exibida ao público.

'Saudades de Cachoeira', obra de 2024 de Aline Bispo. Foto: Tatiana Mito/Reprodução

“Como a galeria completa 10 anos, criamos um projeto especial, com artistas de trabalhos diferentes, mas que circulam temas de arte e cura, arte e meditação”, explica o diretor Luis Maluf. “O foco não é só a comercialização, embora ela seja importante, mas fomentar a pesquisa e os artistas, trazer algo para um público que não está lá necessariamente para comprar.”

Galerias internacionais

Para quem quer conferir as galerias internacionais, os destaques são Continua (Itália, França, China, Brasil e Dubai), Galería de las Misiones (Uruguai), Galería Sur (Uruguai), Gallery Nosco (Bélgica), Herlitzka & Co. (Buenos Aires), La Balsa Arte (Colômbia), Papai Contemporary (Noruega), Piero Atchugarry (Uruguai), RGR Galería (Venezuela), Ricardo Fernandes (França), Salar Galería (Bolívia) e Zielinsky (Barcelona).

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Seleção da SP-Arte inclui nomes como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake e Tunga. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No térreo, estão concentradas as editoras e design. No setor, o público poderá conferir trabalhos de grandes nomes do mobiliário brasileiro moderno e contemporâneo, como ETEL, ‚ovo, Rodrigo Silveira, Jacqueline Terpins, irmãos Campana, Lina Bo Bardi, Jorge Zalszupin e Joaquim Tenreiro.

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Os destaques ficam por conta da TEO, loja e galeria que levará ao pavilhão um preview da exposição Dar forma à Forma – que trará peças emblemáticas da empresa originalmente idealizada por Lina Bo Bardi, Pietro Maria Bardi e Giancarlo Palanti no início dos anos 50 – e a exposição Tátil: materiais no design contemporâneo, curada por Livia Debbané.

Valor das obras

Com tantas obras em exibição, pode ser difícil escolher o que priorizar. “Esse é um ano importante da Bienal de Veneza, porque teremos um curador brasileiro, Adriano Pedroza. Então acho que o público não pode perder de vista os grandes nomes da arte brasileira que estarão presentes na SP-Arte: Alfredo Volpi, Lygia Pape, Lygia Clark, Tunga, Antonio Dias”, recomenda Fernanda Feitosa, fundadora da SP-Arte. “Também é importante conferir os mestres da arte popular, como Ana Maria Maiolino, José Rezende, e artistas como JotaCunha, Silvana Mendes e Ayrson Heráclito.”

'Casamento na Roça', obra de 1940 de Candido Portinari. Foto: Luan Torres/Reprodução

Os valores das obras comercializadas na feira são muito variados, mas, de acordo com a organização, é possível adquirir itens – como livros – a partir de R$ 1 mil. As obras mais caras ultrapassam a casa dos milhões.

Na Gomide & Co, por exemplo, as xilogravuras de ukiyo-e saem por R$ 45 mil cada. Pelo mesmo valor, é possível adquirir uma obra de Maria Lira Marques. Artistas como Sergio Camargo e Lygia Clark têm obras de R$ 1,8 milhão e R$ 3,5 milhões, respectivamente.

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Na Luis Maluf, Yʉ’kʉ jeró ma’ã, do artista nativo Bu’ú Kennedy, será comercializada por R$ 60 mil; Lua Pirita II, da holandesa Janet Vollebregt, sai por R$66 mil; Saudades de Cachoeira, de Aline Bispo, por R$ 48 mil. Na galeria Frente, é possível adquirir obras como Miss and Mrs, de Beatriz Milhazes, por R$ 2,5 milhão. Casamento na Roça, de Candido Portinari, também estará disponível para compra, no valor de R$ 15 milhões.

'Yʉ'kʉ jeró ma’ã', obra de 2024 de Bu’ú Kennedy. Foto: Tatiana Mito/Reprodução

Margareth Telles, fundadora da MT Projetos de Arte, plataforma que une colecionadores com o intuito de fomentar arte, afirma que a visita à feira vale a pena mesmo para quem não tem pretensão de comprar uma obra – ou tem orçamento restrito para isso. “No evento, você tem uma visão de tudo o que está acontecendo no mundo da arte. E há obras de todos os preços. O valor da obra de arte não está implícito no valor mercadológico. Você pode comprar um copo, uma lembrança. O colecionismo não é só sobre o valor em si”, afirma.

Ela acredita que a melhor dica para aproveitar a feira é ficar atento ao mercado primário. “É importante olhar para os novos artistas que estão aparecendo, em especial os que estão expondo em museus no Brasil e no exterior”, afirma. “As instituições culturais validam as obras, o trabalho curatorial indica tendências”, explica. Ela destaca o trabalho de Gervane de Paula, que atualmente expõe na Pinacoteca de SP e será apresentado no estande da MT.

Para a art advisor Camila Yunes, da empresa de consultoria KURA, a SP-Arte é uma oportunidade única. “Os galeristas guardam o que eles tem de melhor para a feira, é um momento muito importante para o mercado de arte brasileiro. É hora de ver raridades”, afirma.

Ela comenta que a feira tem força para atrair novos colecionadores. “A SP-Arte é também um lugar para quem quer começar, porque nesse ambiente você vai encontrar desde obras e artistas super jovens até trabalhos de artistas super consagrados”, afirma. “Há a possibilidade de encontrar obras de todos os valores – mas que com certeza passaram por um crivo de qualidade.”

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Yunes recomenda que o preparo comece antes mesmo da visita à feira. “Entre no site, confira todas as informações, veja se alguma galeria chama a sua atenção. Use o mapa para circular o que interessa, antes e durante o evento”, sugere.

'Miss and Mrs', obra de 1993 de Beatriz Milhazes. Foto: Luan Torres/Reprodução

Para Lisboa, da galeria Frente, a principal diferença entre visitar feiras e galerias está no volume – e qualidade – do que é apresentado. “Normalmente, se tem algumas obras importantes nas galerias, mas nem sempre em exposição, até porque os proprietários às vezes pedem discrição. Na feira, temos liberdade para apresentar obras que talvez não estivessem ao alcance de todo mundo”, explica.

Gomide, da Gomide &Co, destaca ainda que o atendimento da feira é diferenciado. “Em uma galeria, dificilmente você será atendido pelo dono, que provavelmente vai estar ocupado, trabalhando. Na feira, isso é comum”, afirma. “Você também tem acesso mais rápido ao preço das obras, porque as galerias são mais burocráticas e, na feira, a agilidade para fechar um negócio é muito grande.”

20 anos de SP-Arte

Criada em 2004 por Fernanda Feitosa, a SP-Arte iniciou sua trajetória com 41 galerias e público de aproximadamente 7 mil pessoas. Ao longo dos anos, consolidou-se no cenário nacional e internacional, chegando a 168 galerias e 31 mil pessoas na última edição. Durante a trajetória, artistas consagrados, como Ai Weiwei, Damien Hirst e Jeff Koons, passaram pela feira.

“Esta é uma edição muito icônica. É um momento de celebração de toda essa trajetória, da SP-Arte, das galerias e de artistas, de um projeto que não foi construído do dia para a noite”, afirma Feitosa. “Há 20 anos, não existia uma feira de arte contemporânea no Brasil, um momento em que todas as galerias se encontrassem em um ambiente só, em um calendário único. Neste intervalo de tempo, conseguimos reunir o mercado em torno de uma missão comum e expandir a arte brasileira no Brasil e no exterior.”

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SP-Arte comemora 20 anos de existência neste ano. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Feitosa afirma que a feira potencializa o mercado, apresentando um cardápio amplo, inclusive geograficamente. “Na feira, há muitas vozes, cada galeria com suas eleições, apresentando programas artísticos muito diferentes uns dos outros. O leque de preços também é amplo”, afirma. Para ela, a SP-Arte é, antes de tudo, um espaço de fruição cultural e educativa. “Provavelmente, 85% das pessoas que vão à feira não vão para comprar. Uma pequena parcela apoia e sustenta todo o mecanismo de negócios, enquanto grande maioria do público está ali se educando, corroborando, divulgando”, explica.

Através do programa de doações, a SP-Arte também colaborou, ao longo dos anos, com a formação de acervos de museus como a Pinacoteca de São Paulo, o Masp e o MAM, além de ter gerenciado laboratórios curatoriais. Para Fernanda, são múltiplos os legados. “Conseguimos criar uma união do setor e também impulsionar a profissionalização e internacionalização do mercado”, afirma. “A SP-Arte fomentou o reconhecimento do Brasil como um pólo cultural, ajudou a criar um calendário de design importante na cidade de São Paulo e a formar artistas através dos nossos programas de bolsas de estudos.”

Serviço

SP-Arte

  • Quando: 3 a 7 abril 2024
  • Onde: Pavilhão da Bienal – Parque Ibirapuera, portão 3
  • Horários: Quarta, 3, abertura apenas para convidados. Quinta, 4, e sexta, 5, das 13h às 20h. Sábado, 6, e domingo, 7, das 11h às 19h
  • Ingressos: R$ 80 (inteira) https://bilheteria.sp-arte.com/
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