Na história do design brasileiro, Sergio Rodrigues tem um capítulo especial. Conhecido por projetar móveis que uniam conforto e estética, como a icônica poltrona Mole, o carioca tinha a arquitetura como paixão e uma história de familiar de arte e tragédia. Para lembrá-lo, o Itaú Cultural inaugura neste sábado, 9, a mostra Ser Estar, que reconta toda a sua trajetória, pessoal e profissional, em parceria com o Instituto Sergio Rodrigues.
Nascido em 1927, Sergio era neto de Mário Rodrigues, criador do jornal A Crítica, e sobrinho de Nelson Rodrigues. Seu pai, o artista visual Roberto Rodrigues, foi assassinado em 1929.
Para falar sobre os 60 anos de carreira de Sergio, morto em 2014, foi montado um time de curadores que selecionou mais de 500 peças, entre móveis, maquetes, desenhos, documentos e fotos. Daniela Thomas, Mari Stockler, Felipe Tassara e Fernando Mendes se debruçaram sobre milhares de itens do arquivo do designer desde o início do ano. “Escolher foi difícil. São tantos materiais, mas é preciso pensar numa linha narrativa”, confessa Fernando, familiar de Sergio e presidente do seu instituto, onde a maior parte dos arquivos sobre ele está catalogada.
“Sergio era um acumulador”, brinca Daniela sobre o grande arquivo deixado por Rodrigues, com cadernos e documentos que datam desde a sua infância. “Não quisemos um olhar acadêmico, mas, ao contrário, nos deixamos impregnar pelo personagem, por tudo o que ele guardou e porque ele achou importante guardar”, analisa. “Ele deixou pistas e nós tentamos seguir.”
++ Relembre o arquiteto e designer Sergio Rodrigues
A mostra ocupa os três andares expositivos do Itaú Cultural e segue de forma cronológica. Começa no segundo subsolo, com fotos e documentos sobre a infância de Sergio, e segue até suas primeiras criações, como o banco Mocho (1954), e a abertura da sua loja OCA, em 1955. No primeiro subsolo, uma reprodução de desenhos de Millôr Fernandes para a OCA abre seção de cadeiras, poltronas e sofás. Foram mais de mil criações ao longo da vida. A mais recente, a poltrona Benjamin, ficou pronta pouco antes de sua morte.
No andar, está também a Mole, icônica criação de 1957, com o objetivo de promover conforto, com o estofado jogado sobre a estrutura de madeira. Por conta da casualidade da poltrona, ela venceu o primeiro lugar no IV Concurso Internacional do Móvel, na Itália, em 1961. “Sergio tinha uma atenção pelo copo humano e fazia reflexões que ninguém fazia. Mesmo em seus desenhos, as pessoas sempre aparecem confortáveis e relaxadas”, diz Stockler.
No primeiro andar, a exposição se encerra com sua trajetória como arquiteto, com maquetes, documentos, e a reprodução, em escala 1x1, de um dos ambientes de uma de seus protótipos de moradia pré-fabricadas, apresentados pela primeira vez no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro nos anos 1960. Numa sala ao fundo deste andar, o público finalmente vai poder sentar em algumas das criações de Sergio, e experimentar o conforto projetado por ele.
Em todos os andares expositivos, o próprio Sergio guia a mostra, a partir de vídeos feitos por Stockler por conta de outra exposição. “Ele fez obras importantes e tinha um pensamento que é pouco conhecido”, ela explica. “Decidimos que a exposição não teria textos críticos, as frases e vídeos são de uma conversa que tive com ele. É como se você fosse viajar com um senhor de idade, que conversasse sobre toda a sua a vida.”