Exposição que celebra centenário de Frans Krajcberg é prorrogada no MuBE

No Museu da Casa Brasileira, centenário do arquiteto e designer Jorge Zalszupin também é celebrado

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Foto do author Ana Lourenço

Poucos são aqueles que não tem a natureza como fonte de inspiração. Seja pelas suas formas, seus barulhos ou simplesmente sua beleza, a natureza é constantemente fonte de inspiração na arte. Para Frans Krajcberg (1921-2017), ela podia ser usada para tratar de assuntos problemáticos relacionados ao tema, como queimadas e desflorestamento, numa espécie de metonímia artística. Madeiras, cipós e terra viravam consciência ambiental, protesto e perenidade.

É a partir dessa amplitude que o Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) pauta a exposição ‘Frans Krajcberg: por uma arquitetura da natureza’, que celebra o centenário do artista e difunde seu legado. A mostra foi estendida até 11 de setembro. “Resgatamos assim uma das missões iniciais do museu: de ser um centro para discussão de questões da arte e ecologia”, afirma Diego Matos, curador-chefe do museu. 

Conjunto de esculturas de troncos retrabalhados, esculpidos e pintados insere o visitante na floresta Foto: Taba Benedicto/Estadão

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“Ele tem uma preocupação com o lugar e uma relação umbilical com a natureza”, explica Matos. O escultor e pintor polonês veio para o Brasil no final dos anos 40 e foi no sul da Bahia, em Nova Viçosa, que ele fez florescer sua prática artística. 

Logo no início do percurso, uma frase de Krajcberg resume o que está por vir: “A minha preocupação é penetrar mais na natureza. Criar com a natureza, assim como outros estão querendo criar com a mecânica. Não procuro a paisagem, mas o material.” Assim, mais de 150 obras - entre as quais muitas sob o cuidado do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia (Ipac), vindas do Sítio Natura, e outras de coleções privadas -, trazem desde madeiras queimadas até pedras e cascos para a exposição.

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“Ao mesmo tempo que retira a matéria aparentemente morta e reconfigura a outro tipo de fim, que é o fim da arte, ela ganha uma perenidade que com o desmatamento deixou de acontecer”, explica Matos, que aproveita para estabelecer um paralelo de redenção com a própria vida do artista. Afinal, Krajcberg lutou no front pelo exército russo durante a Segunda Guerra, perdeu toda a sua família em campos de concentração e se redescobriu no bioma da Mata Atlântica e contexto de praia do sul da Bahia. 

Nas obras, essa situação de vida ou morte, é perceptível com o afastamento da figura humana nas telas. “A figuração vai saindo, primeiro virando uma figura mais planar, quase como registro de gravura, até que em meados dos anos 60 ele chega nas abstrações que são etéreas mas são viscerais”, conta Matos sobre as obras ‘Relevo’. 

Flor de Mangue, obra deFrans Krajcberg Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ali perto, sua obra mais icônica, a Flor de Mangue. “Krajcberg, à sua maneira, respondeu à exuberância e diversidade do ambiente local, por vezes preservado, mas em risco, ora denunciando as agressões ao meio ambiente, ora transmutando os elementos de lá extraídos”, diz o curador-chefe. “Ele explora também essa arquitetura da natureza, onde ele investiga a ideia de abrigo, de organização do espaço, a partir desses resquícios que a natureza deixou. Não só meramente contemplativa, mas com a ideia de que você constrói a imersão”, diz. 

É justamente essa sensação de imersão que a obra, como um todo, propõe. O caminho leva o visitante a se sentir em meio à mata, vista a quantidade e o tamanho das obras esculturais presentes. Ao mesmo tempo que geram um sentimento de proteção, assustam; sendo fortes e brutas, também exibem seu aconchego e subjetividade – um tronco vira uma figura totêmica, humana ou animalesca.

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Exposição “Frans Krajcberg: por uma arquitetura da natureza” Até 11/9Horário: quarta a domingo, de 11h às 17hLocal: MuBE Rua Alemanha 221, Jardim EuropaEntrada: gratuita

Casa do Guarujá projetada por Jorge Zalszupin Foto: Nelson Kon

Centenário Jorge Zalszupin

Outropolonês de extrema importância para a arte brasileira é o arquiteto e designer Jorge Zalszupin (1922 - 2020), que também é celebrado pelo centenário na exposição ‘Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos’, no Museu da Casa Brasileira e Casa Zalszupin simultaneamente. “Eu chamo de festival o que estamos fazendo, porque realmente provocamos um diálogo entre arte, arquitetura e design, mostrando todas essas faces dele”, conta Lissa Carmona, curadora da mostra ao lado do professor Guilherme Wisnik.

Na Casa Zalszupin, local projetado pelo próprio arquiteto na década de 1960, onde ele trabalhou e também viveu por mais de 60 anos, a sensação é de um retorno no tempo. A manchinha no piso ouo pedaço de vidro quebrado na janela mostra que ali o tempo esteve e faz conexão com o seu íntimo exposto. Um dos destaques é a sua produção arquitetônica - algo que ele não foi tão reconhecido quando vivo - marcada por uma formas, volumes e paredes grossas e brancas. Para simbolizar esse movimento, fotos de Nelson Kon com obras do arquiteto foram impressas em tecido, permitindo o ir e vir. 

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“Distinguindo-se da pedagogia estrutural do concreto armado, que caracteriza a chamada ‘Escola Paulista’ de arquitetura no mesmo período, a produção de Zalszupin vai buscar referências no empirismo das construções escandinavas e mediterrâneas, definindo um caminho poético singular em sua produção residencial”, comenta Guilherme Wisnik.

Além de itens inéditos do acervo de Zalszupin, aberto pela primeira vez pela ETEL, com apoio da museóloga Nathalia Reys, em parceria com a família do designer, itens pessoais, como um livro de piadas ilustrado foram encontrados. “A exposição também articula essa produção aos trabalhos escultóricos de artistas brasileiros que navegam universos semelhantes”, diz Lissa.

Visão geral da exposição 'Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos' Foto: Museu da Casa Brasileira

Já no Museu da Casa Brasileira (MCB), são apresentados novos aspectos da obra de Zalszupin, ligados à alta produção industrial da empresa L’Atelier, os utensílios de plástico da série Eva, além da série de mobiliário planejado para escritórios. “O mobiliário exposto revela o rigor e a síntese características do comprometimento com a produção seriada e com a objetividade industrial, sem abrir mão, sobretudo em seu período inicial, da tradição artesanal do trato à madeira. Essa exposição marca o racionalismo intrínseco da escala das obras apresentadas, expressando a face mais pública de sua produção”, diz Giancarlo Latorraca, curador da mostra no MCB.Exposição ‘Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos’Museu da Casa Brasileira: até 11/9Horário: De terça a domingo, das 10h às 18h; sexta, das 10h às 22hLocal: Av. Brig. Faria Lima, 2.705 – Jardim PaulistanoEntrada: R$ 20

Casa Zalszupin: até17/9Horário: De segunda a sexta, das 10h00 às 18h, e aos sábados das 10h às 14hLocal: Rua Doutor Antônio Carlos de Assumpção, 134 - JardinsEntrada: Gratuito mediante agendamento prévio no site

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