Quando, em 1938, Karl e Rosi Adler assistiam à crescente perseguição aos judeus na Alemanha, o casal decidiu se desfazer de um de seus bens mais valiosos para conseguir fugir para uma área da Europa não ocupada por nazistas. O escolhido foi o quadro Mulher Passando Roupa (1904), de Pablo Picasso.
Agora, 85 anos depois, alguns herdeiros do casal querem a obra, que está na coleção do Museu Solomon R Guggenheim, de volta. De acordo com a BBC, eles alegam que os seus antepassados não teriam se desfeito da pintura na época e pelo preço que foi pago, se não estivessem em perigo. O processo também é assinado por organizações judaicas e sem fins lucrativos.
A pintura foi comprada originalmente do galerista judeu Heinrich Thannhauser em 1916. Quando decidiram fugir da Alemanha, os Adler venderam de volta ao filho de Thannhauser por cerca de US$ 1.552 (quase R$ 170 mil, em valores corrigidos). De acordo com o processo, o valor pago foi muito abaixo do que deveria ter sido, já que seis anos antes, o próprio Adler tinha oferecido a pintura por 14 mil dólares. Depois de comprar, Thannhauser fez um seguro de US$ 20 mil para a pintura.
Mas como ela foi parar no Guggenheim? Depois de morrer, Thannhauser deixou sua coleção de arte para o museu, que chegou a confirmar com Eric Adler, filho de Karl e Rosi a origem do quadro. Até 2014, a propriedade da obra não tinha sido questionada. Desde então, o museu e a família discutem quem realmente é o dono da pintura.
Apesar de questionamentos sobre qual o destino de obras de arte vendidas ou saqueadas durante a era nazista na Alemanha, o Guggenheim disse acreditar que a pintura em questão não deve ser considerada uma peça de arte confiscada pelos nazistas. Por isso não entraria nos termos dos Princípios de Washington, que diz que “medidas devem ser tomadas rapidamente para alcançar uma solução justa, reconhecendo que isso pode variar conforme os fatos e circunstâncias que cercam um caso específico”.
De acordo com o Guggenheim, a pintura foi adquirida por um colecionador de arte judeu que não era membro do Partido Nazista. Isso seria, na visão da instituição, suficiente para manter a posse da obra de arte.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.