Nos últimos anos, a fotografia documental voltou com muita força a museus, galerias e exposições. Essa “redescoberta” da fotografia moderna inclui ainda o retorno do fotojornalismo, a revisão de arquivos esquecidos. A fotografia documental se torna a linguagem da contemporaneidade, mas sem perder seus traços artísticos.
Essa tendência pode ser confirmada nas exposições que participam do Foto MIS 2019, que será aberto neste sábado, 31, nas quais o documental, o imaginário e, principalmente, a memória, se fazem presentes. Assim é com a mostra Estudos Fotográficos, de Thomaz Farkas (1924-2011), um dos expoentes do Foto Cine Clube Bandeirante que, com outros fotógrafos (anos 1940), modernizou a fotografia brasileira.
A exposição de Farkas é, na verdade, a remontagem de uma mostra realizada há 70 anos no Museu de Arte Moderna. Foi com essas imagens experimentais que o jovem Thomaz Farkas, aos 25 anos, participou da inauguração do MAM, junto com uma mostra de pinturas abstratas de Cícero Dias. Como diz a pesquisadora Helouise Costa, “Farkas protagonizou a primeira exposição de fotografia entendida como manifestação artística realizada num museu brasileiro”.
Agora, com a produção de um livro com o mesmo nome, esses trabalhos experimentais são reapresentados em nova leitura que revela a contemporaneidade de sua produção.
Ao lado do trabalho de Farkas, também temos a exposição de seu filho João, Caretas de Maragojipe. No carnaval, os moradores da cidade baiana Maragojipe se transformam em “caretas”, figuras festeiras multicoloridas e sem identidade. As exposições de Thomaz e João Farkas são realizadas em parceria com o Instituto Olga Kos, que também apresenta Cotidiano Singular, mostra que apresenta a experiência das oficinas de inclusão e arte do instituto.
Outro destaque é a exposição de retratos de Pierre Verger, Todos Iguais, Todos Diferentes?, com curadoria de Alec Baradel, responsável pelo acervo da Fundação Pierre Verger. São 50 retratos selecionados entre 3 mil, que foram feitos em 20 países. Imagens nem sempre conhecidas do francês que assumiu a cidade de Salvador como sua casa e se dedicou à pesquisa do candomblé. Esses retratos põem em discussão diversidade cultural, identidades, estereótipos, colonialismo.
Dentro do programa anual Nova Fotografia, a exposição com a delicada curadoria de Monica Maia, apresenta o trabalho de Beatriz Monteiro Onde Tudo Está, no qual a fotógrafa busca entender o processo de cegueira de seu pai.
O ponto alto do Foto MIS 2019 é Haenyeo – Mulheres ao Mar, mostra de Luciano Candisani. É a história de mulheres mergulhadoras da ilha de Jeju, na Coreia do Sul. Com idades entre 65 e 92 anos, essas mulheres mergulham contando só com o ar dos pulmões, buscando alimentos no fundo do mar. Uma tradição de quatro séculos. Após fazer um longa sobre o tema, Luciano produziu um livro sobre essa história que prova a força da fotografia como memória e “como narrativa do mundo!”, acrescenta Candisani.
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