NOVA YORK - As artes plásticas brasileiras mais uma vez despertam a atenção e a curiosidade do público norte-americano. Com um olhar voltado para o passado na tentativa de entender melhor o presente, estreia em Nova York nesta quinta-feira, 22, a primeira exposição nos Estados Unidos dedicada exclusivamente ao Grupo Frente, expoente do movimento neoconcreto brasileiro dos anos 1950.
A exposição traz 30 obras de artistas como Ivan Serpa e alguns de seus alunos e colaboradores das aulas de pintura livre, que dava no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, entre 1954 e 1957, como Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, Aluísio Carvão, Abraham Palatnik, entre outros. “O Brasil nos anos 50 era um lugar de experimentações criativas extremamente fértil, seja na arquitetura, literatura, cinema, música e também nas artes plásticas”, afirma Mary Sabbatino, vice-presidente da Galeria Lelong, que recebe a exposição até o dia 5 de agosto. “O que tornava o Grupo Frente único era a maneira como os artistas se uniram para criar, e a influência que isso teve depois em cada uma de suas práticas individuais.”
Os trabalhos da mostra seguem o viés do abstracionismo geométrico, que caracteriza o neoconcretismo feito a partir da intensa experimentação de técnicas e materiais como papelão, madeira, colagem, grafite, nanquim, entre outros.
“O Grupo Frente foi a semente do neoconcretismo, que surgiu como um contraponto dos artistas cariocas ao concretismo de São Paulo, mais baseado na disciplina rígida da Bauhaus (escola alemã de vanguarda)”, afirma César Oiticica, que tem dois de seus desenhos na exposição, e na época - ainda adolescente - era um dos mais novos do grupo, junto com seu irmão. “Devemos todos ao Ivan Serpa pela dinâmica daquele forma de aprendizado. Foi exatamente ali que eu e Hélio começamos a trabalhar e a nos divertir com pintura.”
Com um tipo original de aula que funcionava como um exercício de liberdade artística e um incentivo à análise crítica em grupo, Ivan Serpa desenvolveu no MAM do Rio de Janeiro um método em que os artistas trabalhavam em suas obras durante toda a semana e no dia na aula comentavam e ouviam sobre seus trabalhos, desenvolvendo assim um espírito crítico. Dali saíram alguns dos nomes mais importantes das artes plásticas brasileira que influenciaram as gerações posteriores. “Quando olhamos hoje para os trabalhos do Grupo Frente vemos que são incrivelmente modernos. Muitas das obras têm um tamanho pequeno e é interessante perceber que você não precisa fazer um quadro grande para ter uma mensagem poderosa”, diz Mary, apreciadora inveterada das artes plásticas brasileiras.
Para ela, foi inspiradora e singular a maneira como o grupo surgiu usando o espaço do MAM como um lugar de experimentação, produção, educação e interação com a cidade. “O exemplo do Grupo Frente é um ideal sociopolítico que os museus podem usar ainda hoje”, afirma Mary Sabbatino. A Galeria Lelong é um dos espaços nova-iorquinos mais abertos às artes brasileiras; desde 1993 trouxe para a cidade trabalhos de artistas como Jac Leirner, Tunga, Waltercio Caldas, Cildo Meirelles e Valeska Soares. Atualmente, acontecem em Nova York exposições de Lygia Clarke, no MoMA e no Luhring Augustine; e Lygia Pape, no Met Breuer. Em julho, o Whitney Museum estreia uma exposição de obras de Hélio Oiticica.
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