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Guerra no Sudão: museu tem peças saqueadas e vendidas na internet

Unesco manifestou preocupação com o ‘nível sem precedentes’ de ‘ameaças à cultura’ do país africano; conflito faz com que vigilância de antiguidades seja menor

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Por Redação AFP (AFP)

Em um Sudão que enfrenta uma sangrenta guerra interna, valiosas estatuetas ou peças de antigos palácios preservadas em museus acabam saqueadas, transportadas em caminhões e vendidas na internet.

Foto de arquivo mostra estátua do rei Taharga da 25.ª dinastia do império Kushite no Museu Nacional do Sudão em 14 de janeiro de 2023.  Foto: Ashraf Shazly/AFP

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A Unesco manifestou, na quinta-feira, preocupação com o “nível sem precedentes” de “ameaças à cultura” deste país, de onde chegam “informações de saques de museus, sítios patrimoniais e arqueológicos e coleções privadas”.

Ijlas Abdel Latif, diretora de museus da Autoridade Nacional de Antiguidades do Sudão, afirma que o Museu Nacional de Cartum foi alvo de “saques significativos”.

Recentemente restaurado, o centro possuía coleções da Era Paleolítica, com peças únicas das antigas dinastias egípcias ou dos reinos de Kerma, Napata ou Meroé na região histórica da Núbia, sede de uma das primeiras civilizações da África.

Inaugurado em 1971, a instituição foi concebida para abrigar antiguidades encontradas na área onde seria construída uma barragem.

Atualmente, a ameaça é a guerra travada desde abril de 2023 entre o exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), que arrastou o Sudão a uma das piores catástrofes humanitárias da história recente, alerta a ONU.

Os objetos arqueológicos guardados no Museu Nacional foram “carregados em grandes caminhões” que, segundo imagens de satélite, seguiram para oeste e em direção às zonas fronteiriças, sobretudo com o Sudão do Sul, explica a diretora à AFP.

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É difícil determinar a magnitude do roubo devido ao acesso limitado ao museu, situado em uma área da capital controlada pelas FAR, a quem especialistas e altos funcionários arqueológicos atribuem a responsabilidade.

Em maio, estas forças paramilitares garantiram que estavam vigilantes sobre a “proteção e preservação das antiguidades do povo sudanês”.

Alerta da Unesco

O Museu Nacional é o principal santuário das antiguidades sudanesas, diz Abdel Latif.

“Mas por causa da guerra, o museu e as antiguidades não estão sendo vigiados”, lamenta Hasan Hussein, pesquisador e ex-diretor da Autoridade de Antiguidades.

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Outras instituições também sofrerem o mesmo impacto, como o Museu Khalifa de Omdurman, cidade adjacente a Cartum, e o Museu Nyala, em Darfur do Sul, que foi alvo de saques significativos não só de antiguidades, mas de instrumentos utilizados para apresentar as coleções, segundo Abdel Latfi.

Em junho, a Unesco estimou que mais de 10 museus, centros culturais ou outras instituições haviam sido saqueados ou vandalizados no Sudão.

Esta agência da ONU pediu “ao público e aos membros do mercado de arte (...) que se abstenham de adquirir ou participar na importação, exportação ou transferência de bens culturais procedentes do Sudão”, o que poderia levar ao “desaparecimento de uma parte da identidade cultural sudanesa”.

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Venda no eBay

Os pesquisadores também temem o futuro das antiguidades roubadas após terem encontrado algumas delas sendo vendidas na internet.

No site eBay, um internauta oferece objetos apresentados como antiguidades egípcias que na realidade, segundo a imprensa sudanesa, foram saqueados neste país. O preço de venda proposto é de várias centenas de dólares.

Pelo menos uma das estátuas é uma imitação, mas outras peças de cerâmica, objetos de ouro e pinturas parecem ser procedentes do Museu Nacional, disse um arqueólogo sudanês à AFP sob condição de anonimato.

Ele está preocupado com o que poderá acontecer com as estátuas maiores, que “devem ser manuseadas de forma específica por especialistas”.

“O estado atual das coleções preocupa todos aqueles que têm interesse no patrimônio mundial”, conclui Hasan Hussein.

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