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Martin Parr promove a diversão após cinco décadas de fotografia

Autor de imagens de cores saturadas e atmosfera kitsch, que fizeram dele uma lenda, ganha mostra em Paris

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Atualização:

Suas imagens de cores saturadas e atmosfera kitsch fizeram dele uma lenda no mundo da fotografia, mas aos 70 anos, o britânico Martin Parr ainda se diverte. Desta vez, com uma exposição em Paris em que confronta o seu trabalho com o de fotógrafos desconhecidos. Déjà view, inaugurada na Magnum Gallery em Paris, é uma conversa lúdica e alegre entre Parr e as fotografias do The Anonymous Project, equipe liderada pelo cineasta Lee Shulman que resgata slides amadores desde 2017. ”A exposição mostra que a fotografia é muito democrática. Essas pessoas tiraram fotos tão boas quanto as minhas quase por acaso, mas fizeram isso com o desejo de deixar um testemunho. E isso também é em parte minha motivação”, explicou Parr.

Exposição Deja view, de Martin Parr  Foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP

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Shulman, de 49 anos, é o iniciador desta inusitada aventura: receber, examinar e selecionar as imagens mais marcantes de décadas - entre 1950 e 1980 - de produção massiva de slides ao redor do mundo. ”Shulman entrou em contato comigo e me apresentou esse conceito”, lembra Parr. “E ele imediatamente disse sim”, explica Shulman com orgulho.

Em cinco anos, Shulman e sua equipe examinaram cerca de 800 mil slides, dos quais selecionaram e digitalizaram cerca de 25 mil até o momento. ”Martin Parr tem mais, então selecionar o material dele foi mais difícil do que escolher o meu”, disse Shulman. Membro da cooperativa Magnum desde 1994, Martin Parr possui um arquivo de cerca de 53 mil imagens, muitas delas arquivadas em sua fundação com sede em Bristol. Ao final, foram selecionados 64 pares de imagens que, como em um jogo, aparecem sem legendas nas fotos. Cabe ao visitante adivinhar qual é a imagem de Parr, que foi imortalizada por um amador.

Banhistas adormecidos ao sol, idosos a dançar com balões na mão, bolos e pratos de batatas fritas esquecidos numa mesa... Martin Parr elevou a vida cotidiana à categoria de arte. E The Anonymous Project segue seus passos, às vezes mais perto do que parece. ”Sinto que tenho uma conexão com a história da sátira e do humor no Reino Unido. É algo que fazemos muito bem. E acho que é por isso que as pessoas na França gostam, porque têm a chance de rir dos ingleses”, explica Par. “Sinto-me muito feliz por ser esse catalisador”, acrescenta, com um sorriso.

Mas sob esse olhar irônico e cheio de empatia esconde-se uma vontade de questionar os fundamentos da fotografia. Quando começou na década de 1970, após seus estudos na Universidade de Manchester, Parr tirou fotos em preto e branco, como os grandes mestres da época, incluindo o francês Henri Cartier-Bresson. Mas o fotógrafo era irremediavelmente atraído por coisas tão pitorescas quanto cartões postais ou os objetos mais kitsch imagináveis. “Quando experimentei a cor, nunca olhei para trás”, diz ele. Parr usa flash, mesmo ao ar livre, o que dá um tom cru às suas fotos. “Cartier-Bresson veio a uma das minhas exposições e escreveu algo como se eu viesse de outro planeta. E respondi para ele: ‘Eu entendo sua posição, mas não atire no mensageiro’”, lembra Parr.

Quando o fotógrafo britânico de sandálias e meias ia se juntar a Magnum, Cartier Bresson e outros fotógrafos se opuseram.Parr acabou indo para a Magnum. E com o passar dos anos acabou até presidindo aquela famosa cooperativa fotográfica. A história dessa pequena disputa, e seu final feliz, será tema de outra exposição a partir de novembro, apropriadamente intitulada “Reconciliação”, na Fundação Cartier-Bresson. ”Acho que entrar na Magnum foi bem difícil”, lembra Parr, comentando ainda: “Todos os fotógrafos são intrusos por natureza”.

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