Em março de 2025, a abertura da exposição do pintor impressionista francês Claude Monet vai marcar também a inauguração do segundo edifício do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Com 14 andares e 7.821 m², o prédio, localizado ao lado, vai se chamar Pietro Maria Bardi, em homenagem ao primeiro diretor artístico do museu. E a atual sede passará a se chamar Lina Bo Bardi, tributo à arquiteta que projetou o edifício considerado um marco urbanístico da cidade.
Juntos, os dois espaços, somados ao belvedere conhecido como vão livre, vão dobrar a área de atuação de 10.485 m² para 21.863 m². “E a ligação entre ambos será feita por um túnel subterrâneo, uma obra arrojada e rara nos dias de hoje”, comenta Heitor Martins, diretor-presidente do Masp, que participou da apresentação do novo projeto na manhã desta terça-feira, 26. “São dois edifícios que formam um único museu.”
Pela complexidade da obra, o túnel não será aberto em março, junto com o edifício. “Para não impedir a circulação no local, apenas a rua Prof. Otávio Mendes, que separa os dois prédios, foi fechada para carros. E a obra começou pela construção do teto do túnel, com a escavação vindo em seguida”, explicou Miriam Elwing, gerente de projetos e arquitetura do museu. A conexão deverá ficar pronta ainda em 2025 e vai finalizar um processo que já durava 10 anos.
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O custo total está estimado em R$ 250 milhões, valor conseguido com doações de patronos, sem auxílio de leis de incentivo. “Queremos criar uma independência financeira para não comprometer o orçamento do museu. Nesse período de uma década, enfrentamos a pandemia da covid e a não aprovação de nossos projetos pela Lei Rouanet durante dois anos. O museu não fechou porque tinha reservas próprias”, conta Martins.
Como vai ser o novo prédio do Masp
O novo edifício do Masp terá cinco novas galerias para exposições, duas áreas multiuso, salas de aula, laboratório de conservação, área de acolhimento, restaurante e café, além de depósitos e docas para carga e descarga de obras de arte.
Seu uso vai priorizar exposições temporárias, enquanto o edifício Lina terá mostras usando principalmente obras do acervo do museu, o melhor de arte europeia do Hemisfério Sul - de Botticelli a Picasso. O Masp conta ainda com telas de Bosch, El Greco, Goya, Ingres, Manet, Matisse, Monet e Van Gogh, entre outros.
Com o novo edifício, a visitação, que hoje é de 600 mil pessoas por ano, deverá crescer gradativamente - primeiro para 900 mil, depois 1 milhão até chegar a 2 milhões de visitantes anuais, equiparando o Masp a museus de cidades como Paris, Londres e Nova York.
“Aliás, foi o sucesso da exposição com obras de Tarsila do Amaral, em 2019, que tivemos a certeza da necessidade de um prédio anexo: em quatro meses, 50 mil pessoas visitaram a mostra, comprovando que o Masp estava ficando pequeno”, diz Martins.
A entrada do público será pelo novo edifício, onde, no térreo, ficarão o restaurante A Baianeira e o café. A loja continuará no prédio antigo. No subsolo, estarão a bilheteria, outra loja, o guarda-volumes e a entrada do túnel por onde as pessoas vão circular entre as duas construções.
História do edifício
O edifício Pietro Maria Bardi é o antigo prédio Dumont-Adams, inaugurado em 1958 para uso residencial. Em 2005, com aporte financeiro da Vivo, o Masp comprou o edifício por R$ 12 milhões, mas o que seria uma solução logo se tornou um problema.
Divergências com Conpresp, órgão municipal de preservação do patrimônio histórico, impediram o início das obras. Também a Vivo ameaçou deixar o projeto, que só começou a sair do papel com a chegada da nova diretoria em 2014, capitaneada por Martins e Alfredo Egydio Setubal, que passou a presidir o Conselho do Masp.
Primeiras mudanças
O projeto arquitetônico foi assumido em 2015 pela Metro Arquitetos Associados, dos sócios Martin Corullon e Gustavo Cedroni, com participação de Júlio Neves no projeto legal. Uma das primeiras medidas foi algo singelo, mas que causou grande impacto entre os visitantes: o retorno dos icônicos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, reinstalados no museu em 2016.
Outra decisão foi a de evitar que a arquitetura do novo prédio se parecesse com a do museu original, criado por Lina.
“Como pensamos os dois prédios formando apenas um museu, era preciso evitar grandes composições na fachada para estabelecer uma relação harmoniosa com o edifício histórico”, conta Corullon. “Apostamos em um visual limpo, uma fachada homogênea, para não criar ruídos nessa relação. Ao mesmo tempo, o design monolítico, inspirado nas tipologias dos museus verticais, como os de Nova York, se destaca no entorno, conferindo-lhe um caráter próprio.”
O edifício sofreu reformas internas que reduziram o número de andares de 17 para 14, a fim de que um pé direito maior (6 metros) permitisse mais flexibilidade na organização das mostras temporárias. Um dos principais diferenciais é o revestimento em chapas metálicas perfuradas e plissadas, uma solução que controla a incidência de luz natural e reduz o aquecimento interno. Essa fachada metálica funciona como uma “pele” protetora, que diminui a carga térmica e aumenta a eficiência energética do edifício, aliviando o sistema de climatização. Também os vidros instalados nos andares inferiores do novo edifício dialogam com o vão livre.
“Se o edifício Lina fosse verticalizado, ficaria do mesmo tamanho do Pietro. O pé direito do térreo do novo empreendimento, de oito metros, tem a mesma altura que o pé direito do vão livre, e o tom escuro escolhido para a fachada do Pietro foi inspirado na cor dos caixilhos presentes no Lina”, completa Corullon.
“Decidimos viabilizar a construção do anexo por meio de doações, iniciando o novo modelo administrativo do museu, que conta com o apoio da sociedade civil”, afirma Setubal, prevendo o crescimento do orçamento de R$ 80 milhões atuais para R$ 100 milhões em 2025.
O novo espaço deverá facilitar exposições com intercâmbio internacional de obras. “Apesar de o Masp ser respeitado por instituições tradicionais da Europa e dos Estados Unidos, será um processo gradual devido ao alto custo de transporte e segurança”, avalia Martins.
Assim, a programação de abertura do novo espaço contará com cinco exposições montadas a partir do acervo do museu e o ano de 2025 será dedicado às Histórias da Ecologia - a exposição dedicada a Monet dialoga com esta ideia.
Números
- R$ 250 milhões é o total do custo da obra, quantia conseguida por meio de doações
- 900 mil pessoas por ano deverá ser a quantidade de visitantes anuais do novo complexo
- 21.863 m² é a nova área de atuação do Masp com os dois prédios
- R$ 100 milhões é o orçamento previsto para 2025
- 1958 é o ano de fundação do edifício Dumont-Adams, agora transformado em anexo do Masp
Histórico da ampliação
- 2005
Com R$ 12 milhões da Vivo, o Masp adquire o prédio Dumont-Adams, localizado ao lado do museu. O projeto inicial, orçado em R$ 15 milhões, previa um mirante em uma torre de 110 metros de altura.
- Outubro de 2005
O Conpresp, órgão municipal de preservação do patrimônio histórico, veta a torre por interferir no Masp, que é tombado. O museu foi para a Justiça, mas perdeu.
- 2007
Com a desistência do Masp de construir a torre, instalando uma escola no local, o Conpresp aceita as novas dimensões do projeto, com 70 metros de altura. Mesmo assim, o projeto não sai do papel.
- 2010
Nova gestão faz acordo com a Vivo, que pretendia utilizar parte do edifício em troca do que havia pago, mas projeto ainda não avança.
- 2014
Atual gestão assume, preocupada primeiro em sanar as dívidas e resolver pendências judiciais em relação ao prédio vizinho. Com doações de patronos (a primeira quantia levantada foi de R$ 70 milhões), o projeto é atualizado, mantendo a altura já aceita pelo Conpresp.
- 2025
Previsão de inauguração: março
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