Sua carreira sozinha oferece um resumo de Hollywood. Raoul Walsh dirigiu os maiores astros, trabalhou em todos os grandes estúdios (e até em alguns pequenos) e fez filmes que contemplam a totalidade, ou quase, dos gêneros. Apesar de sua preferência pelo western, fez também comédias, melodramas, filmes de gângsteres e de guerra. Ao longo de mais de 40 anos, Walsh só não incursionou pela ficção científica - mas sua versão de O Ladrão de Bagdá, de 1924, é considerada um marco do cinema fantástico, com o lendário Douglas Fairbanks. Em 1958/59, no ocaso de sua carreira, ele dirigiu dois filmes que desconcertaram os críticos - o western cômico O Xerife do Queixo Quebrado e o épico bíblico Esther e o Rei, filmado em Cinecittà, onde o diretor também foi, a seguir, o produtor-executivo de Quando Setembro Vier, comédia romântica de Robert Mulligan, com Rock Hudson e Gina Lollobrigida. É bom falar de um diretor tão importante, mesmo que não seja por meio de um de seus melhores filmes. As obras-primas de Walsh são O Intrépido General Custer, Golpe de Misericórdia, Fúria Sanguinária, Um Punhado de Bravos e Barba Negra. Mesmo ?menor?, O Xerife (Fox Classics, R$ 19,90) tem seu encanto. O título do lançamento em DVD está mais próximo do original The Sheriff of Fractured Jaw do que Apuros de Um Xerife, como foi lançado nos cinemas brasileiros. Kenneth More, comediante inglês hoje esquecido, mas muito popular na época, faz o gentleman britânico que vai parar no Velho Oeste. A princípio deslocado no meio hostil, ele se revela bom de mira, assume a estrela de xerife e coloca a cidadezinha nos eixos. Nos anos 30, Walsh já dirigira Mae West em A Sereia do Alasca. Aqui, ele dirige Jayne Mansfield, loira surgida nas pegadas de Marilyn Monroe e que era chamada de ?O Busto? pelos seios mais volumosos do cinema. Groucho Marx dizia que ele era a única mulher capaz de tomar uma ducha sem molhar os pés. A fleuma do xerife e a vulgaridade assumida de Jayne rendem momentos ótimos.
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