Conhecida por suas pinturas geométricas, de forte influência construtiva, morreu no dia 23, no Rio de Janeiro, a pintora Wanda Pimentel, aos 76 anos. Sua morte só foi divulgada nesta sexta-feira (27) por sua galeria, a Anita Schwartz, do Rio.
Aluna de Ivan Serpa (1923-1973), Wanda Pimentel começou sua carreira nos anos 1960, produzindo telas que remetiam à linguagem da arte pop americana. Há dois anos, em 2017, o Masp mostrou uma dessas séries, Envolvimento, realizada no período, com curadoria do diretor artístico do museu paulistano Adriano Pedrosa. Também em 2017 ela participou da mostra Mulheres Radicais, no Hammer Museum de Los Angeles.
No ano passado, ela expôs seu trabalho no MAC Niterói, ao lado de obras de Lygia Clark e Mira Schendel. Suas telas fazem parte de coleções como as do Museu de Arte Moderna do Rio, do Malba de Buenos Aires e do Art Institute of Chicago.
Sua primeira exposição individual foi em 1969, na Galeria Relevo, do Rio. No mesmo ano ela representou o Brasil na Bienal de Paris. Por essa época sua pintura passou por uma mudança que marcaria toda a sua produção dos anos 1970, quando a situação política no País se agravou com o endurecimento do regime militar. Ela, então, produziu a série Bueiro, em que trocou a representação do espaço doméstico pela rua, cruzando a influência de Serpa (construtivismo) com as assemblages da Nova Figuração (em especial as telas de Antonio Dias).
Exemplo máximo de sua trajetória é a série Envolvimento. Há dois anos, no Masp, foi exibido um conjunto de 27 pinturas dessa série. Nela, Wanda aceitou o desafio de conciliar duas formas contrastantes, o abstracionismo geométrico e a figuração dos novos realistas franceses, adicionando às pinturas o cromatismo forte da arte pop americana (Warhol, Lichtenstein). Essa série de pinturas tem invariavelmente um corpo feminino (fragmentos dele) como base, em enquadramentos cinematográficos de ambientes domésticos (sala, quarto, cozinha, banheiro).
A artista só teve sua obra reunida em livro (Wanda Pimentel, publicado por Silvia Roesler Edições de Arte), aos 69 anos, a despeito de sua reconhecida importância na história da arte brasileira contemporânea. No livro, Frederico Morais descreve sua pintura como uma “metáfora do aprisionamento”. “Tudo na obra aumenta a sensação de opressão e confinamento”, escreveu. Ela, tímida e silenciosa, dizia não pintar com alegria, identificando-se com a frase do crítico.
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