Morre aos 88 anos o artista plástico Nelson Leirner

Ele foi vítima de um enfarte; provocador, se tornou uma referência da arte contemporânea brasileira desde os anos 1960

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RIO - O artista plástico Nelson Leirner, de 88 anos, morreu na noite de sábado, 7, em sua casa no Rio de Janeiro, vítima de um enfarte. Paulistano, ele morava na capital fluminense desde 1997.

Pintor, desenhista, cenógrafo e professor, Leirner nasceu em 1932 e era filho da escultora Felícia Leirner e do empresário Isaí Leirner, que ajudaram a fundar o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM.

O artista plástico Nelson Leirner. Foto: Renata Jubran/ Agência Estado

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Leirner viveu de 1947 a 1952 no Estados Unidos, onde estudou engenharia têxtil, mas não concluiu o curso. Entre 1956 e 1958 estudou, no Brasil, artes plásticas com artistas como Joan Ponç. No Atelier-Abstração, de Flexor, e fez sua primeira exposição individual em 1961, em São Paulo.

Em 1966, Leirner fundou o Grupo Rex, ao lado de Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, Geraldo de Barros, Frederico Nesser e José Resende. Em 1967 foi premiado na 20ª Bienal de Tóquio, com um trabalho em que ironiza o sistema de arte.

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Leirner era um legítimo “criador de caso”, na linha do dadaísta Duchamp: em 1967, empalhou um porco e mandou o animal para um salão de arte, em Brasília, em plena ditadura. O júri (do qual fazia parte o respeitado crítico Mario Pedrosa) aceitou o trabalho. Leirner ficou indignado. Como aceitam um porco numa exposição de arte? A obra ficou conhecida como “happening da crítica” e hoje faz parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em uma entrevista em 2011, num resgate da peça, o artista lamentava que não havia mais como ser radical. “Como, se sua radicalidade é consumida? Quando isso acontece, não há mais discurso”, disse Leirner ao Estado.

Leirner também se recusou a participar das Bienais de Arte de São Paulo de 1969 e 1971, durante o período da ditadura. Em 1974, criticou o regime militar com a série A Rebelião dos Animais, pela qual recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) o prêmio de melhor proposta daquele ano.

Nas décadas seguintes, ao longo de sua carreira, se tornou uma referência da arte contemporânea brasileira. Foi professor de uma turma importante de criadores da chamada Geração 80 – ele citava entre alunos próximos Leda Catunda, Sergio Romagnolo, Dora Longo Bahia e Luiz Zerbini.

Em 1998, uma série de trabalhos de Leirner com intervenções em fotografias de crianças de autoria da fotógrafa neozelandesa Anne Geddes foi censurada pela Justiça do Rio de Janeiro. Apresentados durante o 16º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna do Rio, os trabalhos foram apreendidos a pedido da 1ª Vara da Infância e da Juventude, que se baseou no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê pena para quem “fotografar ou publicar cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes”. A decisão judicial causou uma mobilização de artistas contra a censura.

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Em 2009, o Itaú Cultural iniciou o projeto Ocupação com uma mostra sobre sua carreira – a impossibilidade de interação com as obras era uma de suas preocupações na época. Dois anos depois, a Galeria de Arte do Sesi montou a exposição Nelson Leirner 2011-1961=50 Anos, com 40 obras. Nos últimos anos, diversas galerias expuseram seus trabalhos, que também tiveram grande destaque nas feiras de arte do País. 

“Um curioso efeito produzido por uma obra cuja aparência é sempre carismática, deliciosamente próxima, dado que lida com objetos no geral fofinhos, álacres, familiares, ainda que subvertidos quanto à sua significação corriqueira, e que termina por ocultar aos olhos embevecidos suas sutis e incisivas camadas críticas”, assinalou o crítico e curador Agnaldo Farias, no livro Nelson Leirner: A Arte do Avesso 1999+ 1-1999+13, de 2012.

Se há 10 anos Leirner considerava que “o artista não é mais sonhador”, suas obras de humor corrosivo e caráter crítico podem ser uma janela para enxergar a arte de outra perspectiva.

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