Arthur Luiz Piza não foi só um dos maiores gravadores construtivistas brasileiros. Morto na sexta, 26, aos 89 anos, após três semanas internado num hospital de Paris, onde morava desde 1951, Piza, que sofria de uma doença de origem hematológica, ousou cruzar a fronteira da gravura e do desenho ao incorporar novas técnicas e materiais que renovaram a linguagem eleita pelo artista quando foi para a capital francesa tomar aulas com Johnny Fridelaender (1912-1992).
Com ele, aprendeu tudo sobre gravura em metal, da qual se tornou mestre, fixando inicialmente no papel imagens que dialogavam com a tradição surrealista. Suas duas últimas exposições em São Paulo, em 2015 – na Galeria Raquel Arnaud e na Pinacoteca do Estado –, reuniram alguns trabalhos da época, além de gravuras das décadas seguintes, que incorporavam figuras geométricas.
Segundo a marchande Raquel Arnaud, a Pinacoteca e sua galeria estão empenhadas na elaboração do catálogo raisonné do artista com a ajuda da mulher de Piza, Clelia, com quem foi casado por 67 anos. Ele a conheceu no ateliê do professor de ambos, o pintor Antonio Gomide. Piza, que foi o primeiro artista da Galeria Raquel Arnaud, inaugurada em 1973, produziu muito – e sempre com qualidade, dialogando, inclusive, com a obra de poetas (amigo de escritores franceses e latinos como Cortázar, ele produziu pequenos livros em edições limitadas).
Os principais museus do mundo têm em seus acervos obras de Piza, entre eles o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e o Georges Pompidou de Paris. Suas principais obras são gravuras em relevo produzidas na França, de 1957 em diante. Foi por essa época que Piza trocou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró por experiências que buscavam o relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria, disse em entrevista ao Estado há dois anos, uma gravura “tátil”. Tanto que sua experiência mais radical foi a série Capachos (1979), em que acoplou pequenos triângulos sobre pedaços de sisal. Foi a sua conquista da tridimensionalidade, reconhecida por bienais como as de São Paulo e Paris. Piza deixa como legado mais de 3 mil obras.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.