O fim da 2ª Guerra pelo olhar de crianças latinas: Desenhos de 1944 ganham mostra na França

Uma exposição organizada pela Casa da América Latina mostra uma seleção de desenhos que retratam a libertação de Paris, além de uma antologia de manchetes de jornais da época

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Por Amanda Mayo Pérez

As palavras “Morte ao opressor” e “Viva a França livre” acompanham o desenho de um avião francês bombardeando uma suástica em chamas. As mãos que o pintaram em 1944 não eram francesas, mas sim as de um estudante de 12 anos da escola Sagrada Família de Montevidéu.

Detalhe de desenho que estampa a publicação Cahiers de la Maison de l'Amérique Latine. Foto: Divulgação | Maison de l'Amérique Latine.

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Como este, cerca de 40 desenhos de crianças uruguaias e argentinas estão expostos na Maison de l’Amérique Latine, em Paris. Como vejo Paris libertada é o título da exposição, aberta até 28 de junho.

“Provavelmente são vencedores de concursos de desenho em escolas onde se ensinava francês”, explicou à AFP Jean Mendelson, historiador, diplomata aposentado e organizador das exposições. ”A imagem que eles têm da França é extraordinária”, acrescentou, apontando para o desenho de uma menina uruguaia de 11 anos, no qual se vê o Arco do Triunfo, sob o qual acontece um desfile da vitória.

A coleção de desenhos pertencia a Raymond Assayas, roteirista e cineasta que se refugiou na América do Sul após fugir da França durante a Segunda Guerra Mundial. Raymond Assayas, conhecido pelo nome de Jacques Rémy, é pai de Olivier Assayas, um dos mais conhecidos cineastas franceses da atualidade, diretor de Personal Shopper (2016) e Carlos (2010).

A relação cultural entre a França livre e a América Latina era estreita. “O primeiro Comitê França Livre do mundo” (grupos criados por franceses no exterior para se opor ao governo pró-nazista de Vichy) “nasceu na Argentina em junho de 1940″, lembra Mendelson. Atrás dele, o desenho de uma cegonha ao lado da Torre Eiffel, sob um sol sorridente. Do bico pende um bebê “pronto para a Argentina”, cortesia de Romulo Berruti, de 7 anos, estudante de Buenos Aires.

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Além das obras infantis, a Casa da América Latina expõe as primeiras páginas de vários jornais da região anunciando a libertação de Paris em agosto de 1944. “Paris, berço da liberdade, redimida da opressão”, afirma a primeira página do jornal chileno La Nación de 24 de agosto de 1944. Este exemplar, que Jean Mendelson encontrou por acaso, inspirou a exposição.

A imprensa chilena não foi a única que mostrou a atitude entusiasmada com o acontecimento histórico, que completa 80 anos em agosto. La Tribuna, jornal paraguaio de oposição ao regime militar, aproveitou a comemoração para enviar uma mensagem política: “A Libertação de Paris é a primeira conquista da Humanidade progressista”.

A capitulação alemã em Paris ocorreu em 25 de agosto. “Se você olhar as datas de publicação, algo fica óbvio”, diz Mendelson. Muitos jornais anunciaram as operações militares “entre dois e dez dias antes de ocorrerem”. Isso se deve à influência dos comitês da França Livre como fonte de informação, mas também “porque todos os veículos queriam ser os primeiros a anunciar as grandes novidades”.

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