No próximo dia 30, a galeria Cecilia Brunson Projects inaugura a primeira exposição individual do pintor paulista Paulo Pasta em Londres. A mostra, que vai ocupar toda a galeria do Royal Oak Yard, ao lado da Tate Modern, abre caminho para outra exposição internacional do artista, que será inaugurada em 4 de novembro, na prestigiada galeria David Nolan, ao lado do Metropolitan Museum of Art. Detalhe: antes mesmo de abrir a mostra, o galerista Nolan já vendeu uma tela de Pasta para o premiado escritor irlandês Colm Tóibin, autor de Brooklin, que mora entre Dublin e Nova York.
David Nolan fez um acordo com a Galeria Millan, que representa o artista, para comercializar sua obra nos EUA. Considerando a receptividade do artista em Nova York, é quase certa a consagração do pintor também em Londres – além de suas evidentes qualidades, o organizador da mostra é ninguém menos que Gabriel Pérez-Barreiro, curador da 33ª. Bienal de São Paulo e diretor da Coleção Patrícia Phelps Cisneros, em Nova York.
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A exposição londrina tem óleos recentes (sobre papel e tela) e obras de outros períodos. São trabalhos abstratos e paisagens da terra do pintor, Ariranha, no interior de São Paulo. Pasta, que começou sua carreira como paisagista, no ano de sua formatura, 1984, é comparado por Pérez-Barreiro a pintores ingleses como Ben Nicholson (1894-1982), que, ao conhecer Mondrian, mudou de direção e, paralelamente ao construtivismo, conciliou sua obra abstrata com sua pintura de paisagem.
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“Eu não me considero paisagista, pinto paisagens afetivas dos lugares onde passei minha infância e adolescência, antes de mudar para São Paulo”, esclarece Pasta. De fato, não há em suas telas da exposição londrina nenhuma referência à paisagem urbana. São vistas do campo sem figuras humanas: chaminés de antigas usinas de cana, postes, árvores dividindo espaço com placas de estrada, nuvens carregadas desabando sobre a terra e luas cheias iluminando as noites do interior, de uma beleza comparável às paisagens do italiano Calvi de Bergolo (1904-1994) – e o que Pasta fez com Ariranha, Di Bergolo fez com Torino, transformando a cidade italiana numa paisagem metafísica e misteriosa, igualmente sem personagens para perturbar o silêncio.
A paisagem de Pasta guarda também certa nostalgia proustiana. Segundo o curador Pérez-Barreiro, “ele mantém duas práticas aparentemente contraditórias: uma é inteiramente não figurativa e a outra consiste em representações dessas cenas do interior, onde foi criado”. No entanto, não são universos irreconciliáveis, conclui. “Eles dividem, de fato, algumas características, sendo a primeira delas a estreita relação entre a paisagem e a abstração, como demonstrou Mondrian em sua jornada neoplástica impulsionada pela pintura de paisagem”. Pasta, Mondrian e Volpi, nota Pérez-Barreiro, passaram pelo mesmo processo e, antes deles, Constable, o maior paisagista inglês, fez das nuvens um pretexto para ultrapassar a fronteira da representação.
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Ao lado das paisagens, Pasta mostra em Londres telas abstratas. Não é um procedimento raro na história da arte. O curador lembra de outros exemplos que passaram a vida entre a figuração e a abstração: o construtivista uruguaio Torres-García (1874-1949) e o neoplástico holandês Theo van Doesburg (1883-1931). Pérez-Barreiro diz que, na exposição londrina, misturou intencionalmente telas abstratas e figurativas para “explorar as conexões e diferenças entre as duas linguagens” na carreira do pintor brasileiro.
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No caso da próxima exposição em Nova York, o casal Valentina e David Nolan, que conheceu a pintura de Paulo Pasta numa visita à exposição Luz, no Museu de Arte Sacra, em São Paulo, selecionou apenas as telas abstratas – a mostra paulistana, com curadoria do canadense Simon Watson, incluiu apenas obras recentes de grandes dimensões que lidam com composições cromáticas como fontes de luz. O casal Nolan passou três horas dentro do museu. Compreensível. A pintura de Pasta desperta um desejo de contemplação nestes tempos líquidos, sem metafísica. Confere ao espectador um gosto de transcendência.