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Por que Lady Di ainda influencia 25 anos depois de sua morte

Uma exposição que mostra a vida da princesa agrega milhares de pessoas, provando que mesmo depois de tanto tempo, ela segue presente

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Por Roxanne Roberts

A história de Diana começou como um conto de fadas e terminou como uma tragédia grega: um belo príncipe, uma linda princesa - depois fama, traição, reinvenção e um acidente de carro fatal 25 anos atrás em Paris.

Lady Di morreu em 1997, após o carro em que estava ter batido em alta velocidade em um pilar de um túnel em Paris. Foto: AP Photo/Herman Knippertz

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Se Diana tivesse vivido feliz para sempre, hoje ela seria uma avó de 61 anos - mais velha, mais sábia e provavelmente muito menos interessante. Enquanto Charles se calcificou em um estado de suspensão permanente, Diana se transformou em um arquétipo, um símbolo de resiliência e redenção. Ela é toda mulher - ou o que toda mulher quer que ela seja.

“Eu a acompanho desde pequena”, disse Christine Tomsovic, 52 anos, que estava visitando uma exposição itinerante sobre a princesa Diana no shopping Tysons Corner, no norte da Virgínia, em um sábado de semanas atrás. “Assisti ao casamento dela. Assisti tudo até sua morte trágica. Sou uma grande fã”. Diana, explicou ela, era “carinhosa, amorosa, tinha compaixão”. Era uma humanitária. E era diferente dos outros membros da realeza: “Sua personalidade quebrou o molde. Ela era ela mesma. Não deixava ninguém lhe dizer o que fazer”.

Os olhos de Tomsovic se encheram de lágrimas. “Estou triste que ela se foi”.

Ela se foi para sempre, mas foi esquecida nunca. Se alguém pensou que a morte de Diana em 31 de agosto de 1997 iria finalmente acabar com o drama e as histórias dos tabloides, estava sensacionalmente errado. Estima-se que 2 bilhões de pessoas assistiram ao seu funeral, e o quarto de século que se seguiu só poliu sua reputação. Sua história foi contada e recontada - recentemente em The Crown, da Netflix, e Spencer, filme do ano passado - com a narrativa histórica aterrissando solidamente a favor de Diana: Charles como um marido descuidado e sem amor, a família real distante e controladora, e Diana como uma inocente romântica, mãe amorosa, esposa traída e triunfante para sempre - a princesa do povo.

Essa representação romantizada está literalmente em exposição durante este aniversário melancólico. Tomsovic era uma das admiradoras de Diana - muitas mais velhas, algumas jovens, quase todas mulheres - que pagaram US$ 25 pelo passeio de mais de 100 imagens enormes: Diana, a lenda da moda; Diana, a pioneira; Diana, a modelo.

Diana viveu sua vida “por amor, não pelas regras”, disse Mariana Orozco, 26 anos, que estava de visita do México. Ela era muito pequena quando Diana morreu, mas cresceu fascinada por ela. Em seu noivado, ela usou uma pequena pedra azul na mão esquerda: “Toda a minha vida eu disse: ‘Quero uma safira igual à de Diana’”.

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“Sua beleza e estilo atraem as pessoas muito rapidamente”, explicou o curador da exposição Cliff Skelliter. “Há muitos traços do que parece ser um conto de fadas - nós amamos histórias de peixes fora d’água porque elas agem como uma maneira de nos protegermos na personagem. Essas mulheres que tinham mais ou menos a mesma idade, agora com 60 e 70 anos, se projetaram nessa jovem e forjaram esse forte vínculo”.

Princesa Diana marcou uma geração e mesmo 25 anos após a sua morte continua sendo um exemplo. Foto: Joel Robine/AFP

As fotos de 2,5 metros de altura foram tiradas por Anwar Hussein - um dos muitos fotógrafos da realeza que cobriram todos os movimentos de Diana durante seus 16 anos aos olhos do público - além de seus dois filhos, o príncipe William e o príncipe Harry e suas famílias. A maioria das imagens famosas já apareceu em jornais, revistas e livros, mas juntas servem para relembrar a curta e deslumbrante trajetória de sua vida.

“Poderíamos contar histórias anedóticas sobre a princesa Diana para realmente construir uma imagem de sua humanidade, que ela era essa pessoa de verdade, que estava aprendendo as coisas na frente de um monte de câmeras e do mundo inteiro assistindo - e não necessariamente sendo perfeita, mas encontrando seu caminho”, disse Skelliter.

Meu Deus, ela era tão jovem. Tem uma foto de Diana coberta de orvalho, recém noiva e adorável, com um carisma que ia muito além de sua idade. Em outro, Charles e Diana estão saindo da igreja após o casamento em 1981; mais de 750 milhões de pessoas em todo o mundo assistiram à cerimônia e ao famoso beijo na varanda. O noivo tinha 32 anos e estava apaixonado por outra mulher; a noiva tinha acabado de completar 20.

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“Fiquei com pena dela. Eu me lembro de pensar: ‘Não faça isso’”, disse Lois Wren, 67 anos. Como tantas mulheres na exposição, Wren se lembra de acordar às 4 da manhã para assistir ao casamento real. Ela tinha idade suficiente para se preocupar com a possibilidade de que a princesa estivesse entrando na cova dos leões. “Muito trágico”, disse ela, balançando a cabeça. “Muito trágico”.

Sua filha de 31 anos, Laura, assistiu ao funeral de Diana quando jovem, e sua lição agora é que Diana emergiu da cova dos leões sem se curvar. “Acho que ela era ótima”, disse. “Ela não parecia ser esnobe, como os outros membros da realeza. Parecia uma pessoa realmente genuína”. Ela apontou para uma foto de Diana embalando uma criança doente. “Nenhuma outra realeza faz isso, nem mesmo as celebridades fazem isso, talvez nem mesmo um humano decente faça isso. Mas ela fez”.

“Sempre ficamos muito intrigados com a família real”, disse Maria Melgar, 25 anos, que veio à exposição com sua mãe, Martha. “Você ouve o nome de Diana em todos os lugares. Ela tinha um jeito muito bom de se conectar com as pessoas. Ela se apresentava como alguém com quem você podia se identificar, uma de nós”.

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A história é um narrador não confiável, e muitas das nuances da vida de Diana desapareceram em segundo plano a serviço de uma história mais simples. Ela não era Cinderela: sua família era aristocrática e amiga da rainha. Ela se movia em círculos rarefeitos e estava destinada a um casamento de prestígio, embora um casamento com o príncipe herdeiro tenha sido uma grande jogada para a família Spencer - Diana foi a primeira inglesa a se casar com um herdeiro do trono britânico em mais de 300 anos.

Exposição sobre a vida da Princesa Diana leva milhares de pessoas a visitação, provando que ela segue sendo um ícone. Foto: Doug Kapustin/The Washington Post

Quando essa união se desfez, Diana poderia ter se retirado para viver uma vida tranquila e discreta, separada do marido - mas esta não era sua personalidade. A verdade não dita na sua vida (e nas fotos) é o quanto a tímida Di adorava atenção e usava os holofotes: primeiro, porque ela gostava, e depois por causa de sua batalha com Charles e a família real. Os paparazzi constantes acabaram provando ser uma caixa de Pandora que ela não conseguiu fechar, mas seu serviço público foi uma expressão genuína de compaixão e uma maneira de vencer as guerras de relações públicas.

A exposição inclui a infame foto de uma Diana triste, sozinha no Taj Mahal (com outra de William e Kate no mesmo local), e uma Diana atrevida, usando o sexy “vestido de vingança” preto na noite em que Charles admitiu publicamente sua infidelidade. Separação, casos e divórcio: o fim do conto de fadas foi o início do surgimento de Diana como um modelo moderno. Ela era linda e estilosa, mas era sua vulnerabilidade, suas decepções, seus fracassos que a tornavam uma pessoa com quem todo mundo podia se identificar.

“No começo, eu não era muito interessada nela”, disse Margaret Kizis. “Quando li a biografia de Andrew Morton, percebi que não era tudo glamour e beleza - que ela estava sofrendo muito”. O que Kizis mais admira é que Diana transformou esse sofrimento em ajudar os outros. “Todas nós tentamos aliviar nossa própria dor e isso não é uma coisa ruim de se fazer. O triste é que eu não acho que ela percebeu o quanto as pessoas a amavam”.

A atriz de 76 anos tem uma coleção de livros, artigos de revistas, estatuetas e porcelanas sobre Diana que ela espera um dia leiloar para caridade. “Ela trouxe bondade ao mundo e tocou muitas pessoas que precisavam de amor, que precisavam de bondade e que precisavam de um pouco de humanidade”.

Princesa Diana viveu uma história de conto de fadas que acabou em tragédia, ficando marcada para sempre na história. Foto: Claude Coirault/AFP

Esse legado passou para os filhos de Diana, que agora são mais velhos do que mãe jamais foi. William, 40 anos, foi ficando mais parecido com o pai - o que não surpreende para um homem que um dia se tornará rei. Harry, que completa 38 anos no mês que vem, sempre teve o toque de sua mãe e - agora aliviado do peso dos deveres reais - sua ousadia e sensibilidade. A exposição inclui imagens dos irmãos e suas famílias, um aceno à sua influência e ao que poderia ter sido se ela estivesse viva.

“Acho que ela era uma mulher à frente de seu tempo, especialmente para as mulheres”, disse Taylor Stephens, 29 anos. “Ela fez muito pelas mulheres da época - você pode ver na maneira como ela criou os filhos. Isso estabeleceu um precedente para o resto da família real - você pode ver isso na Kate, você pode ver isso na Meghan. Ela pegou uma família real muito reservada e a deixou mais humana”.

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No fim, a história lembrará de Diana em traços simples: uma princesa linda, um casamento solitário, uma defensora dos doentes e marginalizados, uma mulher que tocou os intocáveis.

“Uma das coisas que espero que as pessoas mostrem é que elas querem representar algo de bom no mundo”, disse Skelliter, curador da exposição. “Porque a princesa Diana fez isso, certo? Ela nos mostrou um exemplo de como ser essa mãe ótima e engajada e como enfrentar um cenário extraordinariamente difícil num mundo muito complicado que não é perfeito. O mundo ainda é assim, e se pudermos olhar para ela e dizer, ‘Ok, ainda temos esperança’, isso será positivo”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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