Um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos, Candido Portinari já teve suas obras expostas em inúmeras exposições mundo afora. Alguns de seus painéis mais famosos também podem ser vistos em importantes prédios públicos, como a sede da ONU, em Nova York. Ainda assim, o Rio apresenta desde quarta-feira, 29, uma mostra inédita do artista. Portinari Raro reúne 54 obras suas pouco conhecidas ou mesmo nunca exibidas ao grande público.
A mostra tem curadoria de Marcello Dantas e ocupa o primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio. Chama a atenção a diversidade de estilos; quadros colocados lado a lado podem levar o visitante menos avisado a duvidar de que tenham sido pintados pela mesma pessoa, tamanha a diferença de técnica ou de traço.
Portinari pintou cerca de cinco mil obras ao longo da vida, e apenas parte delas está no imaginário popular. A questão é que, para chegar ao seu estilo mais conhecido, ele experimentou uma diversidade deles. “Quando você vê as obras cronologicamente, vê como ele foi apontando para várias direções. E, ao fazer isso, foi asfaltando o caminho para a era moderna no Brasil. Flertava com o cubismo, daí a pouco com uma coisa mais impressionista”, destaca Dantas, que define o artista como um “virtuoso”.
Sete temas
A exposição é dividida em sete núcleos temáticos: Fauna, Paisagens Acidentais, Desenhos, Infância, Carajá, Balé e Flores. Dentre as obras que os compõem está Menino Soltando Pipa, tida como a única cerâmica criada pela artista, em 1958. Há também gravuras, quadros e figurinos. Cartazes feitos no contexto da Segunda Guerra também chamam a atenção, por se tratar de algo bem diferente de tudo que sempre se associou à produção do artista.
“Quem vier vai encontrar coisas que não identificaria como de Portinari, que não estão dentro da nossa percepção do que ele poderia fazer. São obras gráficas, cartazes, charges e pinturas sobre temas que você não imaginaria que ele escolheria”, ressalta o curador.
Praticamente todas as peças que integram a mostra são oriundas de coleções particulares, e por isso mesmo raramente – ou nunca – foram expostas. Mas Portinari Raro também ganhou esse nome por se referir a obras que não estavam na vitrine do artista.
“Por muitos anos, apesar de essas obras sempre terem existido, nunca vinham à tona, porque os carros-chefe de Portinari meio que apagavam a visibilidade delas, que eram tidas como não tão importantes. Só que, na verdade, é essa dimensão que está um pouco abaixo que demonstra a pesquisa e a variedade de linguagens deles”, pontua o curador.
Para completar a mostra, o público poderá acompanhar a instalação digital Carroussel Raisonnée. O painel exibe, em sequência cronológica, todas as 4.932 obras catalogadas de Portinari. Mas difícil será alguém conseguir assisti-la do início ao fim: tamanha produção significa quase nove horas de imagens passando pelos olhos dos visitantes.
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