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Preço recorde de quadro de Marilyn Monroe abre temporada de negociações milionárias

Com uma demanda de vendas reprimida pela pandemia, mercado pode arrecadar até US$ 2 bilhões

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Por Robin Pogrebin

Talvez a imagem não seja atrevida, como a de Marilyn Monroe com seu vestido voando no filme O Pecado Mora ao Lado, mas na noite de segunda-feira, 9, tornou-se a mais cara. Em menos de 4 minutos, a tela de seda de Andy Warhol de 1964 do rosto da atriz, Shot Sage Blue Marilyn, foi vendida por cerca de US$ 195 milhões para um comprador desconhecido na Christie's, tornando-se o preço mais alto alcançado por qualquer obra de arte americana em leilão. “Vendemos a pintura mais cara do século 20”, disse Alex Rotter, especialista da Christie’s. “Esta é uma grande conquista.”

A pintura 'Shot Sage Blue Marilyn', de Andy Warhol, foi arrematada por 195 milhões de dólares e pode empurrar os próximos leilões de obras de arte para valores maiores. Foto: REUTERS/Carlo Allegri

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A pequena pintura, um troféu por suas cores vibrantes e assunto glamouroso, eclipsou o preço alto anterior de US$ 110,5 milhões por uma pintura de caveira de Jean-Michel Basquiat na Sotheby's em 2017, bem como o leilão de outra pintura de Warhol, um acidente de carro, vendida por US$ 105,4 milhões em 2013.

A venda de segunda-feira deu início a uma temporada de leilões em uma cidade que só começou a voltar ao normal após dois anos da pandemia de coronavírus. A sala de vendas da Christie's no Rockefeller Center, em Nova York, estava cheia de rostos familiares de negociantes e consultores de arte que claramente saudavam a oportunidade de leiloar pessoalmente obras de arte de primeira linha. “Há muito apetite, muito dinheiro e muita qualidade”, disse o galerista austríaco Thaddaeus Ropac, que estava no leilão. “Com todas essas coisas, deve funcionar.”

Philip Hoffman, fundador do Fine Art Group, uma empresa de consultoria de Nova York, disse que nas próximas duas semanas de leilões podem ser arrecadados até US$ 2 bilhões. “Houve uma enorme quantidade de obras retidas por dois anos, e há uma grande demanda reprimida de novos clientes”, disse ele. “Todo mundo estava esperando o momento certo, que chegou agora.”

O leilão da Christie's foi incomum, pois nenhuma das obras foi acompanhada por uma garantia - um preço mínimo pelo qual um terceiro ou a casa de leilões se comprometesse a comprar o quadro. Isso porque as obras foram consignadas pelo espólio dos negociantes suíços (e irmãos) Thomas e Doris Ammann, com toda a renda destinada à fundação, que apoia programas de saúde e educação para crianças. A propriedade queria maximizar os rendimentos de caridade.

A pintura de caveira de Jean-Michel Basquiat na Sotheby's, uma obra sem título de 1982, foi arrematada por cerca de 110 milhões de dólares no leilão Sotheby's em Nova York, em 2017. Foto: Sotheby's

Antes da venda, o CEO da Christie's, Guillaume Cerutti, se divertia com a ausência de garantias, dada a qualidade arriscada de voar sem rede. “Como nos velhos tempos”, disse ele. “Esporte de verdade.” O comprador da “Marilyn” terá voz na escolha para qual instituição de caridade vai destinar os 20% dos lucros da negociação. A compra não é considerada uma doação de caridade, por isso não vem com dedução fiscal. Em 1977, os Ammanns fundaram uma galeria de Zurique especializada em artistas impressionistas, modernos, do pós-guerra e contemporâneos. Após a morte de Thomas Ammann, em 1993, sua irmã continuou a liderar a galeria. Ela morreu no ano passado.

“O topo do mercado ainda é forte e há muita demanda por qualidade”, disse o marchand Bill Acquavella. “Veja por que imóveis estão vendendo. Existem outros ativos que estão trazendo preços que você não viu antes.” As 36 obras na venda, que renderam um total de US$ 318 milhões (dois lotes não foram vendidos), confirmam o truísmo de que obras de alta qualidade são vendidas por preços altos, por mais tumultuado que seja o estado do mundo - seja uma guerra no exterior, uma pandemia ou um ataque terrorista.

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O leilão, na sala de vendas recém aberta da Christie's, com especialistas posicionados nas laterais e repórteres em bancos nos fundos, foi forte desde o início. A energia crepitava na sala enquanto o veterano leiloeiro Jussi Pylkkanen alternava entre os licitantes no telefone e nos assentos. “Eu tenho 15 interessados neste!”, disse ele, sobre a tela de três pássaros de Ann Craven, I Wasn’t Sorry, 2003, que acabou sendo vendida por US$ 680.400, acima de uma estimativa alta de US$ 40 mil. O primeiro lote, uma obra do artista conceitual americano Mike Bidlo, Not Picasso (Bather with Beachball), estimado entre US$ 60 mile US$ 80 mil, foi vendido por US$ 1,3 milhão com taxas.

O colecionador Peter Brant, sentado na terceira fila, comprou o terceiro lote, Fourteen Stations, No. XI, de Francesco Clemente, por US$ 1,9 milhão, acima de uma estimativa de US$ 80 mil a US$ 120 mil. Em seguida, o negociante Larry Gagosian comprou a pintura azul, verde e roxa de Cy Twombly em um painel de madeira por cerca de US$ 17 milhões, acima da alta estimativa de US$ 15 milhões.

O leilão aconteceu nesta segunda-feira e marca o retorno do mercado de obras de artes após dois anos represado pela pandemia. Foto: Sarah Yenesel/EFE/EPA

A relação entre Warhol e Basquiat continua a fascinar, dada a sua história como competidores, colaboradores e amigos próximos. Em 1985, o negociante Tony Shafrazi desenhou um cartaz promovendo sua mostra de pinturas feitas em conjunto pelos dois artistas que os apresentavam em luvas de boxe como se estivessem se preparando para lutar um com o outro.

“Eu adoro que, mesmo depois de mortos, eles ainda estejam nessa luta de boxe”, disse Jessica Beck, curadora de arte do Museu Andy Warhol em Pittsburgh. “Eles ainda estão competindo no mercado e há um frenesi sobre seu trabalho de ambos, que permanece tão contemporâneo.”

O colecionador Brant, que é dono de uma das cinco Marilyns da série, foi questionado a caminho da venda se consideraria vender sua versão, mas o colecionador disse que tinha valor sentimental. “Não”, disse ele. “Absolutamente não.”

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