Quando o sexo é troca degradante, não sinal de amor

É o tema de La Ronde, peça de Arthur Schnitzler famosa por trama circular

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É mera coincidência, mas curiosa. A última montagem brasileira de repercussão da peça La Ronde, de Arthur Schnitzler, foi dirigida por Ulysses Cruz, em 1991, e tinha Maria Padilha no elenco. Hoje à noite, La Ronde estréia no Espaço dos Parlapatões, sob direção de Marcelo Marcus Fonseca, ao mesmo tempo em que Maria Padilha, que mora no Rio, está em cartaz com a peça Cordélia Brasil, no Sesc da Avenida Paulista. "Eu vi, era muito interessante, tenho na memória algumas imagens, poucas, afinal faz quase 20 anos", diz Marcelo Fonseca. Nessa nova montagem, apenas dois atores, ele e Liz Reis - atriz que recentemente integrou o elenco de dois bons espetáculos, Camaradagem e A Casa - se revezam na interpretação de todos os casais dessa peça conhecida pela estrutura circular. A trama começa pelo encontro de um soldado com uma prostituta. Depois de uma transa com ela, ele segue em frente e na cena seguinte transa com uma criada. Esta, na cena seguinte, deita-se com o patrão e assim por diante, até que o último personagem volta a encontrar-se com a prostituta. Diretor que chamou atenção já em sua estréia com Baal, o Mito da Carne, lembra que decidiu por encenar esse texto depois de um balanço de vida. "Parei uns meses para refletir sobre o que eu realmente gostaria de dizer aos outros, e a mim mesmo, com o teatro", comenta. "O emprego descuidado da palavra amor, a banalização do sexo e a conseqüente solidão das pessoas são temas presentes nessa peça que me atraíram", diz. Embora só a primeira mulher seja uma prostituta, todas as relações ali envolvem pouco afeto e troca degradante. O texto é estruturado em dez cenas, todas envolvendo um casal e todos, em algum momento, mantêm uma relação sexual, um dos motivos de ter chocado a platéia no seu surgimento. "Tive muito cuidado com o tratamento disso, para não reforçar em vez de criticar a banalização do sexo. A gente optou pela estilização, pela síntese teatral. O que importa não é a transa em si, mas o que leva a ela e suas conseqüências, o antes e o depois." Assim, cada uma dessa cenas de sexo ganhou uma solução diferente. "Só para dar um exemplo, numa delas, a atriz simplesmente olha para o público e narra, com uma ou duas frases, o que a ?personagem? faz naquele momento." O palco ganha ainda projeções que, assim como elementos cênicos escolhidos, ajudam a recriar os diversos ambientes. Serviço La Ronde. 105 min. 16 anos. Espaço Parlapatões (98 lug.). Pr. Roosevelt, 158, 3258-4449. 5.ª, 21 h. R$ 20. Até 4/9

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