Quem são os arquitetos por trás do novo prédio do Masp? Eles explicam o conceito do ‘monolito preto’

Martin Corullon e Gustavo Cedroni, do escritório Metro Arquitetos, falam sobre o anexo do Museu de Arte de São Paulo, que será inaugurado esta semana aumentando em 66% a área expositiva do principal cartão postal da Avenida Paulista

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Por Artur Tavares
Atualização:

As portas do novo edifício Pietro Maria Bardi abrem para o público visitante pela primeira vez nesta sexta-feira, 28. O prédio, que a partir de agora servirá como anexo ao Museu de Artes de São Paulo (Masp), passou os últimos seis anos em uma reforma que o transformou completamente: de esqueleto abandonado desde a década de 1990 em um monolito preto vibrante que renova a paisagem da região.

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Para tornar o Edifício Dumont-Adams, construído ainda nos anos 1950, em Pietro Maria Bardi, o Masp deixou a cargo do escritório Metro Arquitetos todo projeto de retrofit, com participação de Júlio Neves. Os sócios Gustavo Cedroni, formado em Arquitetura e Urbanismo pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em 2001, e Martin Corullon, que se formou na USP em 2000, já trabalhavam com a instituição desde 2015, quando restauraram os cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi e iniciaram uma longa relação com a direção de Heitor Martins, que havia assumido apenas alguns meses antes.

O convite para a reforma aconteceu em 2019, e desde então os interiores foram demolidos e reconstruídos, o prédio ganhou uma nova pele na forma de chapas metálicas, além de sistemas de ponta de iluminação e climatização, tornando-o um museu capacitado para receber as obras mais exigentes das artes mundiais.

Os arquitetos Martin Corullon e Gustavo Cedroni, autores do projeto do novo prédio do Masp, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

“A sensação é realmente de finalizar um processo e entregar o edifício para aquilo que foi pensado, que é o uso do público”, conta o arquiteto Martin Corullon, que já pôde ver o anexo do Masp em funcionamento em alguns eventos privados. “Isso é uma realização do que fazemos, da finalidade do nosso trabalho. Porque não basta a obra estar pronta, importante mesmo é que comece a ser usada.”

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Herdeiros do legado de Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), com quem trabalharam no início de suas carreiras, Corullon e Cedroni têm contribuído para mudar a cara da metrópole e o pensamento sobre arquitetura em São Paulo há mais de duas décadas.

Em um momento em que ninguém olhava para o Centro, instalaram seu escritório por lá, iniciando um resgate conceitual de pensamentos que tentam tornar o espaço urbano mais agradável, com menos muros e mais gente na rua.

“Quando abrimos a Metro, o contexto era muito diferente. Estávamos no auge do neoclássico, desses prédios de torres cercadas, totalmente desconectadas da cidade, e também dos condomínios afastados”, lembra Gustavo. “E, no fim, faz 25 anos que tentamos emplacar ou atuar em diferentes escalas, mas sobre os mesmos temas.”

O novo prédio do Masp, em São Paulo, será inaugurado na quarta, 26 Foto: Taba Benedicto/Estadão

A dupla seguiu uma trajetória diferente e menos confortável de outros arquitetos, sempre intercalando projetos públicos e privados e também experimentando para além das construções.

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Entre os trabalhos mais importantes da Metro estão a transformação dos espaços Unibanco de cinema na marca Itaú; os projetos das galerias de arte Leme e Casa Triângulo; a expografia da 30ª Bienal de São Paulo; e, mais recentemente, o retrofit do Edifício Renata Sampaio Ferreira, tombado pelo patrimônio histórico na região da República. Além desses projetos, e de outros retrofits em andamento, o escritório atua na reforma do restaurante Star City, comprado pela chef Janaína Torres, e ainda no projeto de um museu privado de um cliente que tem uma coleção de arte.

“Fazemos projetos de tamanhos distintos, diferentes programas, e essa balança do que é mais privado até o mais público é muito importante”, afirma Cedroni. “Nós já fizemos galerias de arte, cinemas, temos uma série de programas ligados à cultura que também têm acessos públicos, mas o anexo do Masp tem outras camadas e dimensões. Trata-se de um museu que representa a América Latina e, em última instância, talvez seja o endereço mais conhecido da cidade de São Paulo, com o Espigão da Paulista representando o skyline da cidade.”

O novo anexo do Masp vai ampliar em 66% o espaço expositivo do museu Foto: Leonardo Finotti/Masp

O novo anexo do Masp

O novo edifício Pietro Maria Bardi tem 14 andares e uma área de 7.821 m². Para sua inauguração, as cinco novas galerias de arte do prédio apresentam, a partir de sexta, 28, Cinco Ensaios sobre o Masp, exposição com o acervo do museu que engloba as seguintes mostras:

  • Isaac Julien: Lina Bo Bardi — Um Maravilhoso Emaranhado
  • Geometrias
  • Artes da África
  • Renoir
  • Histórias do Masp

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Os espaços representam um aumento de 66% da área expositiva do museu, e o prédio ainda conta com andares dedicados a áreas comuns para os visitantes, além de uma sala própria para o laboratório de conservação.

O que chama atenção, no entanto, é a forma preta que agora se levanta ao lado do Masp original. “Nós tínhamos mesmo a intenção de fazer uma intervenção na paisagem, acho que é o grande objetivo dos nossos projetos em geral”, revela Martin. “Conseguimos misturar as questões técnicas, as demandas específicas do programa, sejam exigências tecnológicas ou circunstanciais de logística, que neste caso foram relevantes, com uma experiência para quem vai visitar ou conhecer, e ainda ter impacto na paisagem.”

Ele continua: “Quando fazemos um edifício, qualquer tamanho de edifício, estamos, na verdade, construindo a cidade, e não só o prédio. Temos essa dimensão sempre presente em nossos trabalhos. Acreditamos que, com esse formato, conseguimos criar surpresas e estranhamentos, de alguma maneira se aproximando de uma relação com a própria arte, tirando você de um olhar viciado do dia a dia, com uma surpresa.”

Mas, se visto de longe o novo anexo parece um caixote preto impenetrável, Cedroni explica que não é bem assim: “A arquitetura permite que você tenha dimensões, visões e leituras diferentes dependendo da escala. A forma monolítica se dá em relação à escala da cidade. É uma forma pura, digamos, fechada. Mas, quem passa perto do edifício tem uma leitura completamente diferente, percebe uma certa perenidade, um véu, e aí a impressão que fica é de que aquele preto não é exatamente preto e nem opaco, mas que tem uma certa transparência.”

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E não para por aí: “Uma vez que visita os espaços internos, não só as áreas comuns, mas principalmente as galerias, você se dá conta que o edifício é totalmente permeável, de fato, com janelas que dão para o Trianon, e o Vale do Saracura, em uma relação lateral com o edifício da Lina, que é inédita, com o público dentro de um salão expositivo que olha também para um museu.”

Com a entrega do prédio, o sentimento da dupla é de tranquilidade, claro, mas o futuro não deixa de lado suas inquietações: “É sempre ambíguo. Tem a sensação de realização, de conseguir fazer um projeto que ficou legal, que as pessoas usam, que deu certo. Ao mesmo tempo, quando você olha e vê essa selva que é a cidade, percebe o quão pequeno isso é. Parece que estamos na natureza mesmo, uma a ser desbravada e infinita”, conclui Martin.

Como visitar o novo prédio do Masp

  • Abertura da exposição Cinco Ensaios Sobre o Masp e inauguração do Edifício Pietro Maria Bardi: 28 de março, das 10h às 20h30
  • Masp - Edifício Pietro Maria Bardi (Av. Paulista, 1.510 - Bela Vista)
  • Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
  • Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
  • Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada). Com o ingresso é possível visitar os dois prédios