O novo anexo do Museu de Arte de São Paulo abre as portas para suas galerias pela primeira vez nesta sexta-feira, 28, com Cinco ensaios sobre o Masp, série de exposições com obras que pertencem ao acervo da instituição, além da videoinstalação Isaac Julien: Lina Bo Bardi – um maravilhoso emaranhado.
A única mostra individual é Renoir, dedicada ao francês Pierre-Auguste Renoir, com 12 pinturas e uma escultura produzidas pelo modernista em dois períodos de sua vida, sua fase impressionista e suas obras tardias. É, também, aquela que mais remete aos primeiros anos de história do Masp após sua fundação.

“Renoir é um dos grandes exemplos dos artistas adquiridos do período que chamamos de ‘grandes aquisições’”, explica o curador da mostra, Fernando Oliva. “Foi nesse momento que Assis Chateaubriand investiu Pietro Maria Bardi não só de poderes, mas de recursos para encontrar essas obras na Europa.”
Entre 1948 e 1953, Bardi manteve uma parceria muito forte com dois players importantes do mercado das artes no pós-Segunda Guerra Mundial, as galerias Wildenstein e a Knoedler, que atuavam fortemente em Nova York, Paris e Londres.
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“Pietro tinha um olho muito bom para os trabalhos e sabia que precisava dar um tiro certo, como se tivesse só uma bala na agulha”, conta Oliva.
Entre as compras de obras tidas como a parcela mais importante da produção de Renoir, os presentes e as doações, as 13 obras em cartaz acabaram compondo o maior número de obras individuais dentre os modernistas no acervo do museu - a título de comparação, o Masp tem quatro Van Gogh, dois Gauguin, dois Manet e dois Monet.

“E Bardi soube escolher muito bem, porque as obras desse período, incluindo os nossos Renoir, são chamados para exposições, recebemos pedidos de empréstimos o tempo todo, de lugares ao redor do mundo”, diz Oliva, orgulhoso.
O curador explica que são principalmente essas obras que credenciam o Masp como um dos museus na rota dos mais importantes do mundo. “São os empréstimos que nos permitem realizar nossas exposições internacionais, porque conseguimos trocar essas obras. Sem esse intercâmbio, hoje em dia não é possível fazer uma exposição de grandes clássicos em alto nível a não ser que você pague, e algumas vezes nem pagando. Somente lugares como Mônaco e Japão pagam, e mesmo assim não têm trabalhos de primeira linha.”

Mesmo com um aumento de 66% em sua capacidade expositiva com a inauguração do novo edifício Pietro Maria Bardi, o Masp só consegue exibir 1% das suas 11 mil peças de acervo - mais de 4 mil delas adquiridas somente na última década, revela Oliva.
Os trabalhos de Renoir, por exemplo, não eram mostrados juntos havia 23 anos. “A última vez tinha sido em 2002, na exposição Renoir, o pintor da vida. Além de ser uma mostra importante, é algo novo, inédito e fresco para muita gente, pelo menos para duas gerações.”
Com muita franqueza, Oliva explica também que o principal motivo do Masp ter deixado o conjunto guardado por tanto tempo foi “falta de interesse” que era causado por uma categorização entre trabalhos premium e outros comuns.
“Os retratos do Renoir são considerados, pela história da arte canônica, a parte mais importante e mais nobre de sua produção. Já as banhistas e nus são associados ao seu momento tardio.” No entanto, “esse tipo de divisão dura já vinha sendo revista pelos historiadores e críticos da arte”, diz Fernando, o que permite ao museu revisitar Renoir por outros olhares.

“Têm surgido novas pesquisas sobre As Banhistas, e nessas novas histórias que estão sendo contadas nas universidades e nos museus, está ficando claro que aquelas não são pinturas necessariamente piores, mas que ele estava ali usando aquilo para renovar o diálogo dele com os grandes mestres italianos, especialmente Ticiano. O assunto ali não era mais a banhista, ele não está interessado naquela mulher, mas nos efeitos da pintura da pele, como a pele aparece na pintura e como isso dialoga com grandes mestres da tradição.”
No entanto, o curador não deixa de destacar a importância dos trabalhos feitos por Renoir em sua juventude: “Ele foi um grande renovador durante sua fase impressionista, estilisticamente, pela revolução que se estabeleceu em relação não só à paisagem e também em relação à própria realidade, porque trouxe a ideia de que a pintura era capaz de captar uma realidade em transformação. A paisagem era só uma desculpa, só um objeto, porque não só a paisagem se transformava com a luz, mas as cidades inteiras estavam se transformando com a Revolução Industrial.”

Oliva destaca que Renoir, junto com Degas, foi o principal responsável por “criar o retrato da mulher moderna” às luzes da modernidade do século 19, e cita as obras Dama sorrindo (retrato de Alphonsine Fournaise), de 1875, Retrato da condessa de Pourtalès, de 1877, e Retrato de Marthe Bérard, de 1879, como principais exemplos desta fase entre as obras do acervo do Masp.
“Seus retratos passaram a refletir uma mudança epistemológica, uma mudança de paradigma nas sociedades, na maneira como o homem, o ser humano das cidades, os homens e mulheres das cidades, eram representados”, diz.
Renoir, assim como as outras mostras de Cinco Ensaios sobre o Masp, fica em cartaz no novo edifício Pietro Maria Bardi até 3 de agosto.
Serviço
Cinco ensaios sobre o Masp – Renoir
Quando: 28/3 a 3/8
Às terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até às 17h); fechado às segundas.
Onde: Masp – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Av. Paulista, 1510 - Bela Vista); Edifício Pietro Maria Bardi, 5° andar
Agendamento on-line obrigatório pelo link: masp.org.br/ingressos
Quanto: R$ 75