O escultor americano Richard Serra morreu nesta terça-feira, 26, em sua casa em Nova York, nos Estados Unidos, aos 85 anos. De acordo com o jornal New York Times, a causa da morte do artista foi uma pneumonia.
Nascido em São Francisco, na Califórnia, Serra ficou conhecido por suas esculturas de grandes dimensões e geometria fluída e circular. Feitas de aço, elas estabeleciam um integração peculiar com os espaços nas quais eram instaladas.
Além de alterar e se integrar com arquitetura do ambiente - o que, por muitas vezes, causaram protestos -, as obras de Serra exigiam que seus visitantes as percorressem em toda sua extensão para que fossem contempladas e entendidas por completo.
São características das obras de Serra imensos corredores inclinados, elipses e espirais de aço. Por tudo isso, ele foi identificado com um dos maiores artistas de seu tempo, apesar de não ser unânime entre os críticos.
Em fevereiro de 2019, o Instituto Moreira Salles, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, inaugurou a obra Echo, que foi instalada no jardim externo do centro cultural, atrás do restaurante Balaio. Composta por duas placas de aço de 18,6m de altura, cada uma pesando 70,5 toneladas, a escultura foi produzida por Serra em 2016 e, pelo complexidade de seu transporte, demorou três anos para chegar à cidade. Echo foi a primeira obra do artista aberta permanentemente à visitação pública na América Latina.
A trajetória de Richard Serra
Richard Serra nasceu no dia 2 de novembro de 1939, filho de mãe de origem judia russa e pai espanhol, Serra estudou Literatura Inglesa na Universidade da Califórnia, antes de ser admitido em Yale para estudar Artes Plásticas.
Graças a uma bolsa de estudos, ele se mudou para Paris, onde passava quase diariamente pelo local de trabalho do escultor romeno Constantin Brancusi no Museu Nacional de Arte Moderna. O então aspirante a pintor decidiu dedicar-se à escultura.
No final dos anos 1960 se mudou para uma Nova York em plena efervescência artística. Para sobreviver, ele criou uma empresa de limpeza de móveis na qual empregou o compositor Philip Glass como assistente.
Em 1967-1968, publicou como manifesto uma lista de 84 verbos (“envolver”, “apoiar”, “cortar”, “dobrar”...) e 24 elementos de contexto (“gravidade”, “entropia”, “natureza”...), o que inclui todos os processos à sua disposição para a realização de uma obra.
Em seus primeiros trabalhos, utilizou borracha, fibra de vidro, látex e neon. Também projetou chumbo derretido entre muros e pisos, como em Splash (1968-1970).
No final da mesma década, ele criou uma obra fundadora de seu estilo, One ton prop (House of cards), quatro placas quadradas de chumbo de 122 cm que permanecem equilibradas com o próprio peso, como um castelo de cartas.
A partir dos anos 1970, Serra passou a priorizar as instalações em áreas abertas e o aço Corten. A escolha deste material não foi arbitrária. Ele conhecia perfeitamente suas características e potencial depois de ter trabalhado em uma siderúrgica na juventude.
Serra desenhava esculturas especificamente para os espaços que iriam ocupar e tinha interesse em estudar a interação de suas obras com o meio ambiente.
“Certas coisas... ficam gravadas na imaginação e você tem a necessidade de reconciliação com elas”, afirmou Serra em uma entrevista ao apresentador Charlie Rose no início dos anos 2000.
Os jogos de equilíbrio, o peso do aço e a altura das placas criam no espectador uma sensação de insegurança, de pequenez, de vertigem. É uma experiência desestabilizadora e, em alguns momentos, irritante.
Uma de suas obras mais polêmicas foi a escultura Tilted Arc, um muro circular de aço com mais de três metros de altura, instalada em 1981 no Federal Plaza, em Nova York. Oito anos após a sua inauguração, a obra foi retirada depois de um abaixo assinado que reuniu 1.300 assinaturas e inspirou uma ordem judicial para que ela fosse removida.
Uma de suas obras recentes, torres sombrias que parecem emergir da areia no deserto do Catar, está isolada nas dunas, acessível apenas em uma viagem de carro em um ambiente com temperaturas de até 50ºC.
“Quando você observa minhas obras, não se lembra de nenhum objeto. Fica uma experiência, uma passagem. Experimentar uma das minhas peças é sentir uma noção de tempo, do lugar e reagir a isso. Não é lembrar de um objeto porque não há objeto para reter”, explicou o artista em 2004. /COM AFP
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