Produzido pela TV Cultura em colaboração com o Instituto Tomie Ohtake e dirigido por Hélio Goldsztejn, o documentário Tomie Ohtake será lançado nesta quarta, 18, às 21 horas, no Espaço Itaú de Cinema (sala 1), apenas para convidados. O filme, um média-metragem de 57 minutos, estreia no dia 10 de dezembro no Cine Caixa Belas Artes, trazendo o depoimento de familiares, críticos e artistas que conheceram a pintora, entre eles Carmela Gross, Jac Leirner, Leda Catunda e Paulo Pasta.
Tomie Ohtake, morta em fevereiro, aos 101 anos, é um dos principais nomes do abstracionismo brasileiro. O documentário acompanha sua carreira desde os 39 anos, quando decidiu pintar, após ter criado os dois filhos, o arquiteto Ruy Ohtake e o designer gráfico Ricardo Ohtake. Ela chegou ao Brasil em 1936 para visitar um irmão. Casou com um compatriota e morou por muitos anos numa casa modesta da Mooca, onde, segundo o filho Ricardo, sua mãe pintava num canto da sala de jantar. Telas da época são exibidas no filme, entre elas suas primeiras paisagens, pintadas sob supervisão do professor Keisuke Sugano, em 1953.
A evolução para a linguagem abstrata é analisada pelo crítico Olívio Tavares de Araújo. Autônoma, ela era avessa a escolas e movimentos, embora tenha sido amiga de pintores dos grupos Seibi e Guanabara. Essa independência é destacada em vários depoimentos, assim como sua ligação com a filosofia oriental, que, segundo o crítico Paulo Miyada, marcou a produção pictórica de Tomie, observação reiterada pelo professor Miguel Chaia.
A carreira de Tomie teve impulso com sua participação, em 1959, no Salão Nacional, quando o crítico Mário Pedrosa, que integrava o júri, sugeriu que ela pintasse com os olhos vendados. Essa série de “pinturas cegas” é analisada pelo crítico Paulo Herkenhoff, diretor do MAR – Museu de Arte do Rio.
Tomie fez também gravuras, inclusive uma série em parceria com o poeta Haroldo de Campos, além de cenários para ópera e 23 esculturas de grande porte em várias cidades.
Entre os depoimentos de Tomie, registrados pela TV Cultura, ela revela que pinta sem emoção, assumindo uma atitude zen, e que suas cores preferidas são quatro: vermelho, preto, branco e amarelo, especialmente a última. O pintor Paulo Pasta comenta essa paleta sintética, destacando sua fixação no amarelo, uma espécie de xantopsia que, ao contrário do distúrbio visual de Van Gogh, pode ter traços ligados à hierarquia cromática predominante nas culturas orientais.
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