”Durante toda a minha infância, plantei árvores e convivi com plantas”, conta o designer brasileiro Humberto Campana – um dos mundialmente conhecidos irmãos Campana – no documentário de produção italiana We Are Others. “(…) Fernando também. Ele está sempre presente”, acrescenta sobre o irmão, que faleceu em 2022.
No documentário, lançado esta semana no Brasil, as plantas que Campana menciona são destacadas não apenas como símbolos do respeito à natureza que sempre permeou o trabalho dos irmãos, mas também como protagonistas do recém-inaugurado Parque Campana, que iniciou suas operações no dia 29 de junho na região de Brotas, interior de São Paulo. Com a inauguração, a cidade, que é também o local onde Humberto e Fernando nasceram e cresceram, passa a abrigar um espaço cultural e educacional de 52 hectares, onde também está em andamento um projeto de regeneração dos biomas da região.
Com oito pavilhões verdes – dos 12 planejados, com a construção dos últimos quatro prevista para os próximos anos – o Parque Campana se destaca não apenas pela sua arquitetura inovadora, mas também pela sua integração com o ambiente natural. Os pavilhões foram projetados para serem sustentáveis e funcionais, refletindo o compromisso dos irmãos Campana com a preservação ambiental. O parque, que, quando concluído, abrigará oficinas de manualidades e exposições com peças do acervo de mais de 5 mil obras dos irmãos, é pensado para existir em harmonia com a natureza.
Os pavilhões surgem no espaço como obras de design nascidas do rico universo construído pelo Estúdio Campana nas últimas quatro décadas e convidam a experiências de contemplação, aprendizado e conexão com a natureza. Mais do que isso, trazem em sua materialidade elementos que agregam importantes funções às impressionantes formas. O Pavilhão do Conhecimento, por exemplo, é coberto por uma parede viva de plantas nativas, que beneficiam o bioma regional. Já o Pavilhão de Exposições foi construído com cobertura verde, que oferece isolamento térmico e um visual vibrante. Ao mix são destacáveis também a volumetria de proposta gráfica da Catedral de Bambu, o caráter imersivo do Pavilhão dos Aromas e o espaço que destaca a Piaçava – a textura da fibra natural faz parte do arsenal de referências estéticas icônicas do duo e que, dessa forma, ganha destaque também no parque.
Em seus mais de 40 anos de história, os irmãos Campana transformaram o cenário do design de mobiliário com sua abordagem inovadora e sustentável. A dupla levou o nome do design contemporâneo brasileiro aos mais altos níveis de reconhecimento internacional, com peças que são tanto estética quanto funcionalmente revolucionárias. A Poltrona Favela, uma das suas criações mais conhecidas, é notável por sua estrutura que utiliza materiais reciclados e um design que remete à estética das favelas brasileiras, refletindo uma abordagem única que combina funcionalidade e crítica social.
Documentário contará a história dos irmãos
Já a Cadeira Vermelha é aclamada por sua construção com tubos de metal moldados, criando uma peça que é ao mesmo tempo escultural e ergonômica. Ambas as peças exemplificam a habilidade dos dois irmãos em transformar materiais comuns em obras de design-arte inovadoras, desafiando convenções e estabelecendo novos padrões. Essas criações não apenas conquistaram o reconhecimento global, mas também reafirmaram o impacto duradouro dos irmãos Campana no mundo do design.
Tal impacto ganha destaque no documentário que acaba de estrear no Brasil, da produtora italiana Muse of Factory Projects e com direção de Francesca Molteni e Maria Cristina Didero. Nele, Humberto Campana – que, após a morte do irmão, comanda o estúdio – conta suas histórias e celebra legado de mais de quatro décadas do estúdio. Todas de grande sucesso e prestígio, marcadas por premiações internacionais e exposições em importantes polos culturais como o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York e o Victoria and Albert Museum de Londres. Uma vida de trabalho que agora ganha mais uma joia com o novíssimo Parque Campana em Brotas.
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