Um detalhe da tela da apresentação de Alex Szapiro, diretor da Amazon, ontem, 25, no Congresso Internacional do Livro Digital, pode indicar o próximo passo da empresa no Brasil.
Apareceu ali, num cantinho, o logo da Audible, sua plataforma de audiolivros presente nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Austrália. Uma informação aleatória para demonstrar a abrangência global da varejista?
Já no começo de sua fala, Szapiro comentou o alto número de smartphones no Brasil: 225 milhões. Disse ainda que, ao contrário do que se imaginava, e principalmente porque as telas estão maiores, as pessoas estão, sim, lendo no celular. Comentou que o mercado de audiolivros "cresceu muito" com o desenvolvimento dos smartphones. E disse, citando pesquisa, que adolescentes gastam entre 7 e 12 horas no celular por dia, embora ele ache mais plausível algo em torno de 7 e 8 horas.
O executivo encerrou sua apresentação falando sobre o desafio da leitura de concorrer com outras atividades e disse: "A leitura digital ainda pode ser muito diferente do que é hoje".
Há dois meses, a Amazon promoveu Milton Neto, na empresa desde 2013 e que atuava na área de desenvolvimento de negócios para Kindle. Desde julho, ele é gerente de negócios da Audible, com base em São Paulo. E já procura editoras brasileiras para falar de audiolivro.
Em nota ao Estado, a empresa informou que a Audible sempre ofereceu seus serviços a consumidores globalmente e que há livros disponíveis em 37 idiomas na plataforma. "Estamos muito felizes em aumentar nosso catálogo em língua portuguesa para nossos consumidores brasileiros e do mundo todo. A Audible não discute recursos e lançamentos futuros", completa a nota.
No site, além de obras em inglês, os seguintes idiomas aparecem na categoria "língua estrangeira": espanhol, alemão, francês, italiano e russo. No entanto, há pouco mais de 100 títulos em português soltos pela plataforma - nada perto dos quase 5 mil em francês.
Não é de hoje que se tenta emplacar, sem sucesso, esse tipo de serviço no Brasil. Os audiolivros começaram a circular por aqui bem antes do livro digital. A Ubook, do fim de 2014, é a empresa mais recente do ramo e faz parte dessa nova tentativa de revival.
Debate. O 6.º Congresso Internacional do Livro digital foi aberto por dois dos principais historiadores do mundo, o americano Robert Darnton e o francês Roger Chartier, especialistas na história do livro e da leitura. Durante todo o dia foram discutidos assuntos como aspectos jurídicos e modelos de negócios do streaming, autopublicação e o uso do digital na educação.
Entusiasta do digital como ferramenta que aproxima pessoas da leitura, Darnton disse que fazendo a coisa certa agora poderemos ajudar a moldar o futuro. "Pela primeira vez na história, podemos tornar toda a herança cultural disponível para todos os seres humanos. Temos a tecnologia, know-how, recursos e vontade. Demos o primeiro passo e agora temos que terminar o serviço."
Chartier acredita que ainda não é possível ter uma ideia de como o futuro será. "Podemos pensar nele, mas a verdadeira resposta não está nos desejos dos que nasceram com o livro impresso, mas no desejo de quem já nasceu com o digital. Serão suas práticas de leitura que vão decidir a sobrevivência ou a morte do livro e o futuro do livro digital."
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