Editora Nós lança selo infantil e prepara livros de Virginia Woolf e Marcia Tiburi, entre outros, para crianças
Neste Dia Mundial do Livro Infantil, celebrado em 2 de abril, data de nascimento de Hans Christian Andersen, a Editora Nós anuncia a criação de um selo para publicar livros para crianças. O lançamento ocorre agora, mas a ideia é antiga e foi adiada ainda mais por causa da pandemia. Uma compra governamental deu uma injeção de ânimo e de recursos e ajudou a tirar o plano do papel.
A pequeNós apresenta seus quatro primeiros livros em maio. São eles: Vovó Virou Semente, de Rodrigo Ciríaco e Priwi; Sarauzim - Poemas Para a Molecada, com organização de Rodrigo Ciríaco e ilustrações de Isabela Santos; De Galo em Galo, de Paulo Netho e Ana Lasevicius, e A Avó Adormecida, do italiano Roberto Parmeggiani em parceria com o ilustrador português João Vaz de Carvalho.
Em junho, tem um infantil de Virginia Woolf: A Viúva e o Papagaio. Outro da autora de Mrs Dalloway está previsto para o segundo semestre, A Cortina da Tia Bá, quando serão publicados, ainda, As Pensadoras, de Marcia Tiburi, Os irmãos Gêmeos, de Fernando Villela, e O Menino, O Assovio e A Encuzilhada, de Afonso Borges e Alexandre Rampazzo. Isso, para começar. * "Desde o início da Nós, pensávamos em investir no livro para a infância, mas como se trata de uma produção cara, acabamos publicando mais ou menos um por ano. A recompensa veio toda sete anos depois. Fizemos uma boa venda para os programas da prefeitura de São Paulo, que comprou todos os nossos infantis, e com isso poderemos dar um novo impulso a essa linha editorial a partir de 2022", diz Simone Paulino.
A concorrência é grande e, tradicionalmente, o livro infantil não vende bem em livrarias. Simone comenta: "Somos otimistas incorrigíveis e publicar infantis é reafirmar nossa confiança no futuro, na formação de leitores e um modo de ajudar a construir o país leitor que desejamos. Do ponto de vista concreto, há um início de movimento de renovação das livrarias dedicadas ao público infantil se desenhando, em São Paulo, por exemplo, com a criação da Livraria Miúda. São pequenos passos, mas que podem dar bons frutos no futuro."
Veneta: da HQ à literatura infantojuvenil
Conhecida editora de quadrinhos, a Veneta se aventura, desde janeiro, pela literatura infantojuvenil. Ela já lançou dois livros pelo selo Outra história: Bertha Lutz e a Carta da ONU, de Angélica Kalil e Amma, e Ratolândia, uma fábula sobre democracia, representatividade e participação política, de Alice Méricourt e Ma Sanjin. Para maio, está previsto Serena Finitude, livro de estreia da cantora e compositora Anelis Assumpção e da ilustradora Aline Bispo (responsável pela capa de Torto Arado). É sobre amor, vida e morte - e também uma homenagem à irmã de Anelis, Serena, que morreu em 2016, aos 39 anos. A obra está em pré-venda. Outros seis livros estão previstos pelo novo selo para este ano, entre infantis e quadrinhos juvenis, como Casulo, de Majory Yokomizo, e O Discurso da Pantera, de Jérémie Moreau.
(Uma curiosidade: há cerca de um ano, os livros infantis de Itamar Assumpção começavam a ser publicados)
FTD Educação quer publicar mais autores africanos
A FTD Educação acaba de firmar uma parceria com a agência literária internacional Accord Literary, especializada em novos autores de países como Gana, Togo, Nigéria, Quênia e Zimbábue que escrevem para o público juvenil e jovens adultos, para fortalecer seu catálogo de literatura africana. O primeiro livro dentro desta parceria está previsto para sair no Brasil no segundo semestre. Mesmo Quando Sua Voz Falhar, romance juvenil da escritora (e dentista) ganesa Ruby Yayra Goka, de 39 anos, aborda questões comuns a quase todas as sociedades, como pobreza, jovens em situação de vulnerabilidade social, desigualdade social, violência sexual e contra a mulher, abandono parental e machismo estrutural. Esses temas são tratados a partir da perspectiva pessoal da jovem Amerley, de 16 anos, que trabalha como empregada e decide denunciar seu agressor e se matricular na faculdade de Direito para ajudar outras meninas.
Segundo Isabel Lopes Coelho, publisher da FTD Educação, este acordo reforça uma das premissas do catálogo de literatura da FTD - "levar diversidade ao leitor brasileiro". "Diversidade em vários aspectos: na variedade de autores e autoras, de idiomas, cultural e temática. Com isso, conseguimos criar um catálogo com múltiplas vozes. Nesse sentido, a Accord congrega autores e autoras estreantes de países africanos, cuja produção editorial está sendo consolidada, com textos relevantes e originais, além de temas sensíveis para a reflexão dos nossos jovens leitores. São histórias literárias que, certamente, irão interessar ao público geral e terão êxito em todos os canais de circulação, seja nos educacionais quanto no livreiro."
Há cerca de 20 anos existe no Brasil uma lei que prevê o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, e isso, mas não só, vem movimentando o mercado de livros para crianças e jovens. "Hoje, conseguimos ver que as editoras têm se mobilizado para publicar livros de autores e autoras negras com mais frequência, atendendo a movimentos de pressão social. Assim, a concorrência existe e é saudável e necessária para construirmos uma sociedade mais consciente", completa Isabel.
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