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Black Alien cria ponte com verdades periféricas em um ‘Lollapalooza branco’

Maior parte dos fãs conhecedores mesmo das fases mais antigas não são as vítimas expostas nas letras, mas vê-los cantar sons como ‘Chuck Berry’, ‘Babylon by Gus’ e ‘Carta para Amy’ é um alento

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Foto do author Julio Maria
Atualização:

Black Alien pegou o sol pleno do palco Chevrolet. Eram 14h20 quando ele subiu para cantar nesta sexta, à frente de uma plateia ainda chegando, mas quente e conhecedora de cada uma de suas letras. Alien, ou Gustavo, ou apenas Gus, como é reapresentado por si mesmo em muitos de seus raps, é uma das referências mais respeitadas do gênero no País. Egresso do Planet Hemp, e antes disso, do frenético e desconcertante Speed Freaks, expõe sua caminhada em tudo o que canta.

Plateia lotanto a área do palco Chevrolet  Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

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Gus veio todo vestido de branco. Se mostrou à frente de um palco imenso de fundo negro, amparado apenas pela base de seu DJ, Erick Jay. Ele se movimenta estudadamente atravessando seu espaço, de lado a lado, e faz pensar o quanto o rap que canta em um festival originariamente roqueiro ganha uma função mediadora. Ali, a transmissão das TVs deixava claro, a audiência era majoritariamente não negra, sem os representados em tantos de seus sons denunciativos. Mas Alien, apesar de vir de longe, do início dos anos 90, nunca foi da linha dura, do grupo de rappers que dizia não a gravadoras e a festivais por considerar tudo parte de um grande sistema escravista. Ainda que seja, ele prega, é preciso adentrá-lo para modificá-lo pelas entranhas. Estar no Lolla, um sistemão disfarçado de garoto indie, não deixa de ser uma vitória.

Chuck Berry, uma de suas músicas, é poderosa: “Só que antes que eu te soque / Little Richard, Berry / Não é rixa, porém Elvis nunca foi o rei do Rock.” Importante renovar a visão das injustiças históricas do rock and roll no momento em que muitos que estavam ali acabaram de aprender pelos cinemas que Elvis criou tudo, ou quase tudo, sozinho. Carta Para Amy faz nova ponte com sua audiência universitária ao expor uma cantora que os fãs viram morrer dia a dia, em pleno palco: “Lá vai o maltrapilho bem vestido / mulambo perfumado / Faz mais um furo no cinto, faz mais sentido / Fluindo no instinto, magro e drogado.” E Sangue de Free resvala do gap geracional. Aqui, o cash pode ser traduzido por pix: “No fundo do poço, encontrei uma mola e voltei pra escola / E entre os livros e a bola, os moleques e os cheques / Por favor, em cash.”

O romantismo charm no leque aberto por um rapper que passeia com fluidez pelo reggae, lições de Planet Hemp, seria a base mais frágil de seu tripé. Canções como Au Revouir e Como Eu Quero, por mais que, principalmente esta última, tenha uma importância gregária em seus shows, já que todos cantam juntos e cheios de memórias afetivas, estão longe da profundidade de sons como Babylon By Gus. Mas Black Alien tem como dom o ato de permitir-se. Não é preciso ser personagem nem quando canta com o convidado especial Xamã a música que acabaram de lançar, Bad Girls & Bad Boys, feita também por Hariel. Sua dureza tem suavidade, e ela evita que ele se torne mais um caricato.

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